Os amigos da onça

Todos os casais, nos tempos actuais, por norma, têm uma história para contar de uma pessoa que se diz amigo ou amiga, que já complicou uma ou mais saídas, tentando agradar durante uma noitada, que acabava por converter-se em más intenções, ou telefonou na hora errada.

Carolina e Pedro mantinham, há bastante tempo, uma relação íntima. Contam a história a rir, mas já tiveram muitos azedumes por causa do que lhes aconteceu. A Júlia vivia na casa da Carolina, depois de ter­minar um namoro complicado, a fim de se afastar, um pouco, das recrimi­nações dos pais e, também, para mudar de ambiente, no sentido de tentar afastar da cabeça certos acontecimentos. Foi recebida, sem problemas, naquela altura, porque os amigos são para estas coisas, acentuava a Carolina. No entanto, a permanência parecia manter-se numa duração ili­mitada, porque não chegava a hora de se ir embora. Num final de semana passou-o todo comigo e com o meu namorado. No domingo fomos almo­çar à casa do Pedro. No termo da refeição, o pai dele perguntou se estávamos satisfeitos ou se queríamos, porventura, mais algum petisqui­nho. Nós agradecemos, afirmando pela negativa. A Júlia, que me acom­panhava, aceitou, pedindo um uísque com muito gelo, acompanhado de um cafezinho. Mas não parou por aí a sua pouca educação. Fomos embora e chegamos, então, à frente da minha casa. Disse-lhe para ir subindo, para fazer a despedida mais à vontade. A resposta apareceu, com irre­verência:
– Não subo. Vocês não vão fazer nada que eu não possa assistir.
Apoiou os braços no muro que ladeava a habitação e ficou a presenciar de camarote. Como tudo tem um fim, acabou por voltar para junto dos seus proge­nitores. Quando me procura para sair, por vezes, até aceito, mas lembro que não vai ser possível voltar a dormir na minha casa, alegando com­promissos ou que vou jantar, a sós, com o meu namorado.

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Pior que um terceiro elemento a dificultar uma estadia amorosa é receber um suspeito telefonema em plena lua de mel. Lamenta-se, ou­tra personagem. Estava na Praia Dona Ana, no Algarve, com o meu marido, naquele momento de relax, a seguir a umas horas de sol, alternando com o banho de água salgada, e após um reconfortável almoço acompanhado com um bom vinho de marca e sobremesa regional num restaurante sobranceiro à praia. O telefone do João tocou. Achei estranho. Pensei, todavia, que podia ser uma emergência. Tudo errado. Levantou-se do sofá e foi falar para a varanda do quarto do hotel. A porta ficou aberta e dava para escutar. Depois, voltou, todo sem jeito, com ar de embaraço, mostrando que o passarinho continuava a comer fora da gaiola. Perguntei quem era.

– Não… – fez pausa – Não foi nada com jeito. Era a Joana a per­guntar se estava tudo a correr bem por aqui. – Respondeu.
A Joana era uma amiga dele, solteirona, sem a mínima noção da responsabilidade. Além de não aceitar o bem estar entre as pessoas denota­va, sem dúvida, inveja da situação presente, conta a Gabriela.

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No caso do Diogo e da Rosy, diminutivo de Rosa, como era conheci­da, nasceu de um problema criado por um colega de trabalho. Apesar da fama de galanteador – comentava – o Tiago nunca tinha passado dos limi­tes comigo e sabia, ainda, que era noiva do Diogo. Certa altura, em função do trabalho, trocamos números dec telemóveis, porque tinha ficado de me enviar uma informação bastante importante.

Numa sexta-feira, cerca das 23 horas ligou a convidar-me para um evento na casa do chefe dele. Tinha acabado de sair do cinema com o Diogo, que não gostou da história e criou, comigo, atri­tos.
Passado algum tempo, noite alta, sempre ao fim de semana, voltou a ligar, convidando-me para outra festa, que recusei. Continuando na insistência, recebi um convite, a seguir, para um jantar a dois, partindo de segundas intenções ao inventar um argumento complicado de in­triga, além de outros artifícios situados no modo de viver.

O Diogo acabou por discutir comigo pois, desde o começo, descon­fiou que o colega de trabalho estava com maus propósitos. Ligou ao Tiago, fortemente aborrecida, pedindo-lhe, zangada, para só entrar em contacto comigo desde que haja motivos profissionais.
Nunca mais me fa­lou. Preferi essa conduta, desabafa a Rosy.

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A Jacinta e o Roberto, na era do noivado, marcaram a festa de des­pedida de solteiros, cada um, como é natural, rodeados de amigos, portanto, também, como é norma, em discotecas diferentes.
Do lado da noiva nada de anormal aconteceu no decorrer do diverti­mento.
Da parte do noivo, pelo contrário, algo de insólito. A dado momento, despoletou uma verdadeira barafunda no andamento daquele aconteci­mento. Entre os convidados infiltrou-se um travesti vestido de homem, embora fosse uma das antigas namorados do Roberto. Ruída de ciúmes pretendeu criar confusão, aliado a forte escandaleira.

Quando a situação foi encontrada tornou-se como uma bomba que tivesse re­bentado no meio daquele esfuziante ambiente, já um bocado tocados pelo álcool.

O evento toldou-se devido ao empolamento da descoberta, tendo si­do, até, chamadas as forças policiais, a fim de protegerem a rapariga, que foi levada para a esquadra no sentido de ser inquirida.
Todo este universo de balbúrdia contribuiu para que a festa terminasse de forma repentina. Não produziu estragos no noivado. O casamento realizou-se a preceito.

Nota: Este conto, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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