Pai Natal leva presentes a crianças de acampamento em Viana do Castelo há 10 anos

Há 10 anos que as crianças de um acampamento na freguesia de Darque, em Viana do Castelo, anseiam pela chegada de dezembro para receberem as prendas e o lanche que o Pai Natal carrega nos sacos.

A festa natalícia, que não se realizou presencialmente durante a pandemia de covid-19, repetiu-se hoje e “encheu de alegria” os rostos de 50 crianças com menos de 11 anos que, para chegarem à igreja evangelista do acampamento de pessoas de étnia cigana, onde foram distribuídas as prendas e servido um lanche, tiveram de vencer poças de água da chuva e lama.

Jacira Monteiro, de 11 anos, filha de Rosário, ajudava a mãe a transportar o saco de prendas para distribuir por mais quatro irmãos que aguardaram em casa por causa da chuva.

Gosta muito da festa de Natal “não só pelos presentes”, mas também pelo convívio que se vive no acampamento.

“É muito bom. As pessoas comunicam, falam umas com as outras pessoas”, afirmou.
Aluna do sexto ano de escolaridade, Jacira gosta “muito de estudar música” e, quando for grande, quer ser “cantora evangélica”.

“Não é só porque o meu pai é o pastor da igreja do acampamento, mas porque gosto muito de cantar”, referiu.

Além da prenda que hoje recebeu, gostava de ter outro presente, mas ainda não decidiu o que pedir ao Pai Natal.

Ao lado, a mãe, orgulhosa do desembaraço da filha, enalteceu a iniciativa promovida há 10 anos pelo secretariado da Mobilidade Humana da Diocese de Viana do Castelo, com o apoio da Cáritas Diocesana, Colégio do Minho e do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, entre outras instituições.

“Os miúdos ficam contentes por saberem que vão receber presentes”, referiu Rosário Monteiro.

Aos 34 anos tem cinco filhos. Jacira é a mais velha e o mais novo tem 18 meses.
“É uma casa abençoada. Com tantos filhos, dois príncipes e três princesas, é uma casa cheia de alegria”, adiantou.

Rosário nasceu em Aveiro e veio para o acampamento quando casou com o seu “príncipe encantado”, Paulo Monteiro, de 38 anos.

É pastor evangelista protestante do acampamento há oito anos. Além do serviço religioso na barraca que funciona como igreja, Paulo trabalha “com as crianças e idosos e com casais”.

“Tentamos ajudar e socorrer quem está a passar por necessidades, quem está doente. O pastor tem de acompanhar espiritualmente essas pessoas. Há certos casos em que a comunidade e a igreja se juntam para dar o que chamamos de avios, uma cesta com alimentos básicos”, contou.

O pastor garantiu que a festa de Natal para as crianças “tem um peso grande” nas suas vidas e é um momento “sempre muito ansiado”.

“Quando se aproxima o Natal, as crianças perguntam se vão receber prendas. Para muitas crianças, infelizmente, é a única prenda que vão receber”, lamentou. A matriarca ‘dona Branca”, já internada num lar, foi a primeira a instalar-se, há mais de 50 anos, no acampamento das Alminhas, como é localmente conhecido, situado na margem esquerda do rio Lima.

Atualmente, tem cerca de 70 barracas e, mais de 50 agregados familiares, num total de mais de 150 pessoas a residirem em construções, sobretudo em madeira, “sem condições de habitabilidade”.

No terreno, com uma área 3,5 hectares, as construções, “que no inverno são frias e metem água da chuva e, no verão, são quentes”, ocupam cerca de um hectare. “Temos a promessa de construção de blocos de apartamentos para nós. Esperamos que esse projeto venha a acontecer. Temos filhos e famílias que estão em extrema necessidade”, atirou Paulo Monteiro.

Em outubro, a Câmara de Viana do Castelo aprovou a adjudicação da empreitada de construção de 60 novas casas, por quase oito milhões de euros. A construção da urbanização municipal do Carvalhal é financiada pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), vai beneficiar 60 agregados, “permitindo a transformação das atuais construções abarracadas do acampamento das Alminhas”. Paulo Monteiro afirmou que a “preocupação de muitas pessoas” é saber como vão “conseguir pagar as casas que vão ser construídas, pagar água e a luz”.

“A Câmara já nos apresentou o projeto, mas ainda nos falta mais informação”, observou.
Ana Costa, voluntária do secretariado da Mobilidade Humana da Diocese de Viana do Castelo também não sabe como será a festa de Natal de 2024.

Com a construção das novas casas, a iniciativa que acompanha há 10 anos poderá vir a realizar-se em moldes diferentes, mas para esta voluntária o “importante” é “levar alegria” às crianças.

“Há senhoras que há 10 anos vinham receber as prendas e agora já trazem os filhos”,contou.

Fernanda Torre é natural da Colômbia e vive em Viana do Castelo há oito anos. Hoje, pela primeira vez, ajudou a fazer a festa de Natal das crianças do acampamento. “Sinto uma alegria muito grande por ver a felicidade na carinha das crianças e por poder partilhar um bocadinho de nós com eles”, disse emocionada.

O coro de jovens da igreja onde Paulo Monteiro é pastor retribuiu as prendas e o lanche da festa de Natal com um espetáculo de canto religioso.

“Foi surpreendente. Fiquei muito grata”, observou Fernanda.

Lusa

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