Poemas de Ruy Belo no Diogo Bernardes

Sexta-feira à noite, dia 03 de Maio, a partir das 22h, o Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, apresenta o espectáculo de teatro e de poesia Odeio este tempo detergente: Uma odisseia em 17 poemas de Ruy Belo, com Direcção Artística de Ana Nave, Interpretação de Maria João Luis e de Ana Nave, Selecção de Poemas e Dramaturgia de Rui Lagartinho e Direcção Musical e Interpretação de José Peixoto..

Ana Nave leva a poesia de Ruy Belo para o palco, crente de que não é possível fazer a história da poesia portuguesa do século XX sem falar deste poeta que não deixou ninguém indiferente: “Uma obra à qual não é possível colar rótulos e que é atravessada por uma ideia de construção feita de casas, pássaros, árvores, homens em trânsito, jogos de luzes e sombras com o espaço e o tempo. Em Ruy Belo o humanismo não se explica, expõe-se através de perplexidades.”

“Como se fosse uma viagem sobre si próprio, sobre os temas da sua poesia”, disse à agência Lusa o ex-jornalista Rui Lagartinho, que selecionou os poemas e fez a dramaturgia. Apenas o primeiro e último foram escolhidos pela encenadora Ana Nave, como se de um “prólogo e epílogo se tratasse”, e que depois trabalhou com Maria João Luís, com quem cointerpreta o espetáculo que vai estar em cena até domingo, no Jardim de Inverno do S. Luiz.

Nascido da vontade da encenadora trabalhar sobre a poesia de Ruy Belo, Rui Lagartinho levou a viúva do poeta, Teresa Moura Belo, a assistir a um espectáculo gizado juntamente com Ana Nave, a partir da poesia de Alexandre O´Neill, levado à cena, em 2015, também no S. Luiz.

A viúva do escritor nascido em S. João da Ribeira (Rio Maior), em 1933, entusiasmou-se com a ideia e foi a primeira a dizer “avancemos”.

Levar um espetáculo à cena leva algum tempo – há que encontrar os parceiros ideais, a equipa criativa, o espaço certo e os teatros fecham cada vez mais cedo a programação das temporadas –, e este trabalho acabou por só se concretizar agora, mais de um ano depois da morte de Teresa Belo.

Conjugando-se com as notas da guitarra interpretada ao vivo por José Peixoto, poemas como ‘Certas formas de nojo’, ‘Espaço preenchido’, ‘Povoamento’, ‘Elogio de Maria Teresa’ e ‘Um dia não muito longe, não muito perto’ remetem para um corpo poético atravessado por uma ideia de construção feita de casas, pássaros, árvores, homens em trânsito, jogos de luzes e sombras com o espaço e o tempo.

“Mas eu aqui completamente envolto neste tempo detergente

é da segunda-feira e da semana que preciso pois

posso lutar melhor por uma luz melhor

do que esta luz do mar à hora do entardecer

É da cidade é da publicidade é da perversidade

que preciso e não tenho aqui na praia”

escreveu Ruy Belo. E as palavras, seleccionadas por Rui Lagartinho, tomam agora as vozes de Ana Nave e Maria João Luis, e contam o aborrecimento e a efemeridade que talvez sejam ainda os nossos e os de todos os tempos.

Estreado em Março no Teatro S. Luiz, em Lisboa, o espectáculo iniciou recentemente uma digressão por vários palcos nacionais, apresentando-se em Ponte de Lima também com as subtis ironias de poeta que dialogava com as vogais e as consoantes. “Venho da vida e trago uma gramática”, escreveu.

O espectáculo integra ainda histórias pessoais contadas pela mulher de «riso claro» e «graça inesperada» invocada no poema ‘Elogio de Maria Teresa’, dialogando igualmente com as histórias daquela década de 1960 que os versos de Ruy Belo habitaram, quais melopeias sufocadas de humanidade e perplexidade.

Ruy Belo publicou oito livros de poemas originais, hoje reunidos no volume Todos os Poemas, que têm vindo a ser distinguidos pela crítica, um volume de ensaios sobre poesia e diversas traduções, além de ter colaborado na imprensa. Morreu aos 45 anos e a sua obra é hoje em dia considerada uma das mais brilhantes das letras portuguesas do século XX.

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