Celebrámos, no passado dia 10, o Dia Mundial da Saúde Mental. E falamos de Acidente Vascular Cerebral (AVC). O AVC pode limitar de modo significativo o desempenho funcional do indivíduo, seja na realização de tarefas comuns do dia-a-dia como caminhar ou mexer o café da manhã, mas também pode ter impacto nas relações pessoais, familiares e sociais.
A associação entre alterações neuropsiquiátricas e AVC tem sido amplamente estudada e sabe-se que estas contribuem para o impacto negativo multidimensional do AVC. De entre as várias alterações conhecidas, a depressão é uma das mais frequentes. Estima-se que até um terço dos doentes desenvolva sintomas depressivos durantes os primeiros 5 anos após sofrer um AVC. Foi demonstrado que entre um grupo de doentes com igual limitação funcional (ex. incapacidade para caminhar), a depressão parece ser mais frequente nos que sofreram um AVC do que naqueles que apresentam limitação funcional por outro motivo.
Então, porque surge a depressão após AVC? O impacto psicológico gerado pelas limitações por ele impostas pode ser suficiente para originar sintomas depressivos. Contudo, a própria lesão cerebral por ele provocada pode contribuir para o desenvolvimento destes sintomas neste grupo de doentes.
Vários fatores contribuem para a depressão após AVC. O cenário clínico, isto é, a sua gravidade e as limitações sofridas pelo doente são os fatores de risco mais facilmente identificados. Contudo, é importante lembrar que outros fatores como: a idade, sexo, história médica e psiquiátrica prévia e o suporte social de cada doente desempenham um papel igualmente relevante. O conhecimento dos fatores de risco é importante, porque muitos deles podem ser facilmente reconhecidos e identificados, quando procurados, e uma parte deles são passíveis de algum tipo de intervenção (ex: melhorar o apoio social prestado a estes doentes).
Porque é importante falar de depressão após AVC? Porque esta depressão é um preditor de pior prognóstico e associa-se a menor sucesso na reabilitação, maior grau de incapacidade para as atividades de vida diária, alterações do sono, alterações cognitivas, isolamento social e mesmo a um aumento da mortalidade.
Assim, conhecer a natureza da depressão após AVC e os seus fatores de risco torna-se essencial para aprimorar o seu diagnóstico e tratamento. Promover esta consciencialização contribuirá para nos aproximarmos do nosso objetivo – o melhor cuidado para o doente com AVC!
Opinião de:
Filipa Dourado Sotero
Neurologista no Hospital de Santa Maria e membro do grupo J-SPAVC