Pouca terra… Pouca terra…

Da janela observava
O comboio a passar
Pouca terra… Pouca terra…
À noite janelas iluminadas
Desvendavam pessoas sentadas
Que passavam a correr
Muita terra… Muita terra…
De dia braços, rostos à janela
Olhar preso à paisagem
O deles. O meu, preso à viagem.
A casa, o quarto estremeciam
O desejo de ir pelo mundo
Alargava-se mais profundo
A casa abanava, eu abalava
Tanta terra… Tanta terra…
A conhecer, a desvendar
Eu a ver o comboio a passar
Homens, mulheres, quem eram
O que os levava ali
Que viagens, que paragens
Iam descobrir, viver, sentir
Muita terra… Muita terra…
O meu sonho, o meu desejo
Era entrar, fazer a viagem
Era sentir profundo, conhecer mundo
Tanta terra… Tanta terra…
Mais tarde conheci países, lugares,
Visitei, vivi continentes
Atravessei ares e mares
Aquele prazer de infância
Entrar no comboio, viajar
Pouca terra… Pouca terra…
Não foi tão fundo, tão profundo
Como o sonho de esperança
Inesquecível desejo de criança.

Isabel Sá Lopes
(2014)

 

(Imagem: “Aqui te escrevo”)

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