Foi recentemente eleita Mrs Portugal , em representação de Viana do Castelo. Nasceu há 31 anos em Kharkiv, na Ucrânia, e é médica no Hospital Santa Luzia (ULSAM). Anastasiia Zakharova obteve este título, destinado a mulheres casadas, na final disputada, em junho último, em Castelo Branco.
Regressada a Viana do Castelo, A AURORA DO LIMA aproveitou para uma conversa com Anastasia que, pela primeira vez, teve oportunidde de participar num concurso de beleza, dois anos após ter chegado a Portugal, e sagrar-se vencedora.
Qual a razão que a levou a candidatar-se ao título de Mrs? Este é especificamente para mulheres casadas!
A razão para candidatar ao título de Mrs foi mostrar para todos e todas que, independente da fase da vida da mulher, esta pode viver o seu sonho. Não é por ser casada, ter filhos ou outra razão, que a mulher tenha de limitar as suas vontades ou se preocupar com o que os outros vão julgar. A categoria MRS existe exatamente para mulheres casadas. Foi para este título que concorri e ganhei.
Quais os apoios que registou para a sua participação?
O apoio principal é do meu filho, minha família e os meus amigos e colegas. A Câmara de Viana do Castelo ajudou-me e apoiou me todo este tempo, agradeço-lhes muito. Com traje criativo que representa tradições de Viana, mas no modo moderno, ajudou-me uma designer da moda, Dânia Natário, de uma marca vianense, “Miagami”, assim como a roupa que eu precisava para alguns eventos em Castelo Branco. Agradeço-lhe imenso. Também queria agradecer à loja das joias “d’Prata” e a Kikas Costa pela ajuda com as joias tradicionais de Viana. Deram um toque especial aos looks que apresentei no concurso. Assim como complementar traje criativo. Mais um agradecimento quero deixar à Elodie Silva e marca dela “Amour&Glamour” pelos vestidos incríveis para gala final e outros eventos em Castelo Branco. Aos photografers e videografers Julian Luberiaga, Américo Dias e Oleg Zozulia pelas fotografias e vídeos lindos.
Conte-nos um pouco da sua experiência em Castelo Branco, durante os dias que ali esteve no âmbito do concurso?
Em primeiro, quero dizer durante toda a semana que passamos em Castelo Branco não houve espírito de competição. Ao contrário, espírito de amizade, apoio uma à outra e eu senti-me em casa. Aquela ideia de que haveria competição foi totalmente posta de lado. Durante a semana frequentamos vários lugares turísticos, museus e galerias, tivemos workshops, atividades ambientais, assim como recolher lixo e promover reciclagem. Além disso, muitos treinos para a gala final. Uma das atividades mais importantes, na minha opinião, foi visitar os utentes da APPACDM. Fizemos festa para eles e eles fizeram festa para nós. No final, todas as candidatas desfilaram juntos com utentes no tapete vermelho, brincamos, todos fomos figuras famosas. O brilho e alegria nos olhos deles tocou-me até fundo do meu coração. A seguir fomos para galeria do talentoso artista Cargaleiro, onde tivemos um workshop a pintar azulejos. Desenhei o coração filigrana de Viana com flor no centro, onde coloquei cores da Ucrânia e Portugal que estão no meu coração. Essas azulejos vão ser vendidos no leilão e dinheiro vai para utentes APPACDM.
Levou indumentária, nomeadamente traje e joias. Fale-nos um pouco disso?
Eu queria que cada dia no meu look/roupa tivesse pelo menos uma peça sobre Viana do Castelo. Por isso. sempre usei joias tradicionais. Nossa filigrana é um testemunho de tradição conhecida em todo Portugal! Trajei de acordo com regras. Eu não podia levar o tradicional, mas precisava levar um traje com motivos nacionais, que mostre beleza, tradição, alegria e rica herança de Viana.Por isso, complementei o traje criativo com jóias tradicionais de filigrana. Ficou muito bonito! Acho que, com ajuda das Dânia Natário e Kikas Costa, conseguimos executar essa tarefa mais que perfeito!
Quais são os passos que se seguem, na sequência da obtenção deste título?
Os próximos passos será aproveitar toda esta onda de apoio que recebi, continuar a promover Viana do Castelo, agora numa dimensão ainda maior. Este título permite-me poder representar Portugal num concurso internacional, pelo que agora estarei em preparação e a reunir todos os apoios junto com a organização nacional para concretizar mais este sonho e desafio.
Conte-nos como foi essa sua opção por Portugal e Viana do Castelo?
Antes de guerra, eu ganhei um concurso para ter prática médica no hospital em Portugal, mas não sabia quando exatamente ia ser a data. Quando a guerra começou, ninguém achou que isso pudesse continuar muito tempo, acreditamos que iria acabar tudo rápido, mas não… A Universidade Fernando Pessoa, onde era a prática, disse que eu podia levar família, todas as familiares que conseguem sair comigo e ir para Portugal. Na fase inicial, eles vão ajudar com tudo, o que eu agradeço imenso. Tomar a decisão de sair já não podia só para fazer prática; era sair para outro país por tempo indeterminado, não ter nada sobre o futuro e da tua família, deixar outros familiares na Ucrânia…. também não sabia quando ia conseguir voltar a vê-los… era decisão muito difícil, mas eu acho que Deus direcionou-me e deu coragem para sair assim. Durante a minha prática médica no Hospital Fernando Pessoa conheci várias pessoas, incluído as colegas de Viana, do Hospital da ULSAM, todas com grande coração e vontade ajudar. Apesar que eu ter vergonha, realmente precisava essa ajuda e apoio.Não me deixaram sentir estranha, outra, estrangeira, pessoa de fora, acolheram-me e à família como familiares deles. Ajudaram com tudo, para começar viver de novo com o meu filho, ter amigos, não ficar sozinha, não sentir diferente. É desafiante ainda mais pela língua que é difícil de apreender, mas com muito gosto e esforço tenho-me desafiado para aprender a falar bem o português e honrar a todos que me apoiam.
Como tem sido esta sua estadia em Portugal e Viana do Castelo?
Eu adoro Viana do Castelo! Quando, pela primeira vez, Viana com essas vistas incríveis, nunca o vou esquecer, eu disse que o paraíso está na Terra.Não conseguia parar de admirar. Queria mostrar essa beleza para todos os meus amigos e família. Pena que isso não é fácil e, para algumas, impossível. Por isso quero dizer-vos para aproveitar momentos da vossa vida que parecem muito simples, mas impossíveis para mim: tomar café com amigos, jantar com a família, dar abraço ao pai.
Pretende continuar cá, ir para outro país ou regressar à Ucrânia quando a guerra acabar?
Eu tenho umas amigas que fugiram da guerra em 2014 de Lugansk para a minha cidade, Kharkiv. Durante oito anos, as famílias delas construíram vida de novo e, em 2022, a guerra outra vez entrou nas suas casas. Eu não quero que o meu filho veja a guerra outra vez, nem eu quero sentir aquele horror que passamos em Kharkiv. Porque Rússia faz tudo que quer e não cumpre as palavras ditas ou escritas, nunca vamos conseguir viver sem medo em Kharkiv. Por isso, eu quero conseguir fazer equivalência do meu diploma de Medicina em Portugal, ser médica portuguesa para poder ter a possibilidade trabalhar cá. Ajudar às pessoas. Dependendo da evolução da guerra, terei de optar por ir ajudar o meu país natal ou dar uma vida feliz ao meu filho neste nosso novo país.
Como vive o que está a acontecer no seu país e as notícias que lhe chegam de lá?
Cada vez que vejo notícias da Ucrânia, novos e novos ataques, morte de pessoas que não têm culpa nenhuma, crianças que ficam sem pais, ou sem mãos ou pés, porque estavam a jogar futebol no campo… eu andei em todas as aqueles lugares e agora são ruínas. Bombardearam escolas e hospitais. Em Kharkiv, fizeram primeira escola debaixo de terra …. Vejam só! Há uma escola debaixo de terra para crianças poderem continuar a aprender e não morrer durante as aulas. No século 21, como é possível isso?… Com cada notícia que cjega, fico de coração partido em milhões de peças, porque eu não os consigo ajudar todos. Mas eu agradeço às pessoas de cá pelo apoio e ajuda a mim e à minha família, acolhendo-nos e dando a oportunidade de continuar viver.