Recordar o padre Joaquim Torres

Numa comunidade por mais diminutas que sejam as marcas esculpidas por quantos, com a sua longa ou curta passagem, por ela contribuem para a herança cultural e histórica da mesma, nela ficam, através dos tempos, os vestígios do quanto os caracterizou e aos quais, regra geral, nunca lhes é prestado o devido valor, mas, mais tarde ou mais cedo a história, isto é, o próprio tempo os recordará.

Esta introdução vem a propósito do falecimento do senhor padre Joaquim Fernandes Torres Lima, que também se assinava por Luís e foi pároco de Carreço de 1959 a 1965.

Era natural da Correlhã, concelho de Ponte de Lima, onde nasceu a 24 de setembro de 1926 e foi sepultado no passado dia 14 de abril de 2020, com 93 anos de idade. Recordar o senhor padre Torres Lima no seu passamento não é nada mais justo do que testemunhar algo que com ele partilhamos durante a sua passagem em missão sacerdotal por Carreço e simultaneamente rever algumas das ditas marcas por ele esculpidas na nossa comunidade.

Foi na minha adolescência, no dealbar do seu Ministério em Carreço que realizei a minha Profissão de Fé, em 1960. Recordo a disciplina e o carinho com que eramos tratados pelo senhor padre Torres Lima, mas, a disciplina era, sem dúvida alguma, o ponto forte da sua ação.

Recordo, de acordo com as nossas traquinices próprias de adolescentes, uma passagem vivida em plena véspera da Comunhão Solene, quando o senhor padre Torres Lima entra na igreja e profere alto e bom som: “Vou dizer aos vossos pais. Amanhã ninguém faz a Comunhão Solene”. Convenhamos que a nossa rebeldia foi excessiva, o susto que ele nos pregou também foi grande, mas, não passou disso mesmo.

Foi um padre que em Carreço dinamizou a catequese, com várias ações que se passaram a adotar, recordo a implantação da realização da prova escrita para o exame da Comunhão Solene, exame realizado nas instalações da Escola Primária, com direito a classificação pontual de 0 a 20, e diploma. Escusado se torna dizer que era necessário saber a doutrina, como então, por costume, se dizia.

Da sua passagem por esta Paróquia de Santa Maria de Carreço deixou nela uma marca visível que nos recorda tanto a sua pessoa, como a sua atividade. A memória está na entrada da porta travessa da igreja, à direita uma cruz datada de 12/02/1962, que memoriza a Santa Missão realizada nesta paróquia pelos Padres Redentoristas do Porto.

A minha geração recorda com saudade esses encontros de formação cristã, realizados após o jantar de cada dia, com a igreja cheia de povo. No final de cada sessão, o povo a cantar descia o adro da igreja e assim se dirigia para os seus quatro lugares da Freguesia, continuando a cantar no regresso às casas.

Este pároco de Carreço herdou do seu antecessor, senhor padre Miguel Teixeira de Novais, o jornal paroquial “A Voz de Carreço”. Jornal, na altura, com pouco mais de um ano de existência, portanto num período em que poderia estar em causa a continuidade do mesmo, mas não, o padre Torres Lima soube dar a melhor atenção e não menos, a melhor direção, mantendo o jornal próspero e em franca atividade durante todo o seu Ministério, passando-o assim em testemunho ao seu sucessor.

Carreço prestou uma simples homenagem ao senhor padre Torres Lima quando o convidou para uma singela comemoração dos 50 anos da Santa Missão, ao que ele com muito gosto anuiu. Em fevereiro de 2012 concelebrou, em Carreço, com o então pároco, padre Manuel José Torres Lima, na comemoração do 50.º aniversário da Santa Missão realizada em Carreço. Nesse momento disse aos presentes que foram o seu Povo de Deus. Que estava de novo em Carreço com muita alegria e satisfação, mas, também estava com a emoção própria do momento.

O povo de Carreço jamais esquecerá o sacrifício e a dedicação que lhe consagrou.
Por isso, muito obrigado senhor padre Torres Lima. Paz à sua alma.

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