Rododendro ancião decrépito mantém sémen da vida

Está reduzido agora a um pedaço do tronco do arbusto enorme que foi, restando-lhe contudo um braço corroído e esburacado a desfazer-se, que sustenta na ponta um ramo farto com folhas verdes a roçar o chão, onde floresceram meia dúzia de belas flores rosadas. É o mesmo rododendro de que há anos a esta parte tenho vindo a acompanhar, porque me espanta e encanta a resiliência com que ultrapassa o tempo da idade diacrónica criando vida, configurada em verdes folhas e lindas flores através do sémen que, espantosamente, ainda corre no esquelético e desfigurado tronco.

Não posso calcular os anos desde que foi plantado e cresceu à sombra de uma japoneira gigante no jardim particular da Casa dos Condes d’Almada, (TH), bem perto do pelourinho que é símbolo da antiga Vila Nova de Lanhezes criada no ano de 1793, mas não me surpreenderia saber que a idade do vetusto exemplar reporta, pelo menos, ao século XIX, tal foi a dimensão que a copa do arbusto atingiu e o volume avantajado que agora resta do tronco que a suportou.

Quando, pela primeira vez, tomei conhecimento da existência do rododendro, avisado pelo meu conterrâneo e amigo João Castro e Silva, um dos seus braços estendia-se para fora do muro do jardim entre os ramos da japoneira, chegando ao meio da estrada municipal 202 que atravessa a freguesia. Nessa altura, as suas lindas flores eram mais abundantes e ressaltavam facilmente à vista de quem por ali passava, como era o caso do João no percurso de casa para o seu escritório, no largo da Feira.

Na foto veem-se duas bolas vermelhas, de plástico, provavelmente ali colocadas para enfeite.

CENTRO ESCOLAR
Faz a figura do caroço que se joga fora depois de comida a saborosa polpa do fruto, a casa em estado de notória degradação estrutural e visual, situada entre a capela mortuária e o Centro escolar do Agrupamento escolar de Arga e Lima, na freguesia de Lanheses.

É o que resta da memória da antiga Quinta da Barrosa, sendo que, desde há já alguns anos, passou a ser propriedade da autarquia concelhia pela módica quantia de cerca de duas centenas e meia de milhares de euros (vox populi).

Custa menos aceitar o atual desenquadramento do velho e arruinado monstro arquitetónico relativamente à modernidade da edificação existente no local (novos edifícios do Centro Escolar e da Escola EB 2,3/Secundário) do que o desaproveitamento das potencialidades do espaço que uma edificação com a dimensão do antigo solar propriedade de Miguel Tinoco potencialmente oferece, e de que a freguesia de Lanheses desde há muito tempo carece e espera.

Porque não faltarão planos e sugestões e muito menos vontade de pôr fim ao desmazelo de uma agonia dolorosa e fatal, o princípio da eutanásia seria, nesta causa, absolutamente justificado: demolição “à la prédio Coutinho” para edificar depois em função das necessidades atuais e futuras do meio local, carente como é de espaços administrativos, e para equipamentos escolares, pois que, numa avaliação à vista a requalificação do prédio exigiria ser profunda e o custo de substancial vulto.

Não há que sonegar a existência de justificado interesse nas putativas candidaturas à fruição das futuras instalações por parte de pelo menos duas das principais instituições locais, as quais argumentarão fortemente cada uma delas a primazia da gestão autárquica, uma, e os interesses do ensino público, a outra.

Seja qual for o futuro já traçado do prédio ou o que sobre ele está por decidir por quem de direito, cuja decisão final está em última instância nas mãos dos autarcas da Câmara Municipal de Viana do Castelo. Já decorreu tempo demasiado para que tivesse sido formalizada e tornada pública; e, se porventura já assumida ainda não tiver sido revelada com vista a ocasião favorável aos interesses eleitorais dos envolvidos, mal vai a edilidade local se estiver a adiá-la aos lanhesenses para a apresentar futuramente como conquista própria e irreversível.

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