A pandemia alterou profundamente os nossos hábitos e afetou a quase totalidade dos eventos, sobretudo aqueles que se evidenciam pela diversão e encontro das pessoas, como o são as festas e romarias. Foram e continuam a ser atingidas, sendo muitas delas suspensas. As romarias vão salvando a face, graças à vertente religiosa, pela possibilidade de serem praticados alguns atos litúrgicos, em honra e louvor a Cristo, algumas; a Nossa Senhora, muitas, e aos santos padroeiros, muitas mais. É o caso de Santa Marta onde, conforme enfatiza Hugo Martins, há a preocupação dos seus responsáveis de serem abrangentes e contemplarem equilibradamente, ainda que sob a ‘ditadura’ do orçamento, todas as iniciativas, numa perspetiva holística. As ‘dores de cabeça’ terão aumentado com a Covid-19. Todavia, sempre confiantes. Sem desistirem. E em Santa Marta de Portuzelo, atente-se, quem deixa a programação está disponível para ajudar quem os substitui, pelo que a sua saída, verdadeiramente, não é uma despedida. Entre outros aspetos de relevo, é o que resulta das informações de Hugo Martins, que deixou o cargo de vice-presidente da Comissão de Festas, ao fim do período de três anos.
O Hugo é bracarense, casou e constituiu família em S. Marta de Portuzelo, onde reside e é professor, na C+S Pintor José de Brito. Vindo de Braga, diz que as diferenças encontradas nas romarias não são muitas, pois lembra «o já muito conhecido S. João de Braga e também a Romaria de Santa Marta e de Santa Maria Madalena da Falperra!» Portanto, Santa Marta já não lhe era estranha, de todo.
Romaria de Santa Marta e as festas de média dimensão
À questão, disse: «ao longo dos anos a Romaria de Santa Marta começou a ganhar espaço entre as romarias mais importantes do Alto Minho. Para tal, muito tem contribuído o esforço e dedicação dos santamartenses. Algo que é intrínseco nesta Romaria é a entrega de todos em prole de um objetivo comum: enaltecer a Romaria de Santa Marta que é de e para todos».
A importância da marca e a Romaria
Na sua tese de doutoramento, o Hugo versou sobre “Personalidade e imagem de marca do destino turístico”, apoiando-se no destino turístico do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Sendo-lhe pedido para comentar eventual ligação entre o que ali expõe e a direção da romaria, respondeu: «Um dos focos da minha tese é a importância da marca e o seu posicionamento nos destinos turísticos. A Romaria tem procurado consolidar o seu espaço e tem caraterísticas ímpares que se sobressaem das demais romarias.
Fazendo uma analogia com o conteúdo da minha tese, existem inúmeros destinos turísticos e que querem cada vez mais atrair e fidelizar turistas. Atualmente, outras romarias procuram fazer o mesmo: desenvolver/aprimorar os atrativos para que consigam aumentar o número de visitantes e de romeiros. No entanto, é um trabalho contínuo e exigente. Para tal é necessário que haja um esforço na divulgação e uma forte aposta no marketing, sobretudo o marketing experiencial. Foi algo que, quando entrei já estava a ser trabalhado e que continua quando saí da direção».
A convivência entre o profano e religioso
«A Romaria de Santa Marta já se tornou um ícone incontornável, quer na vertente etno-cultural, artística e, evidentemente religiosa do Alto Minho. Durante o período em que estive na direção foi visível, de um ano para o outro, o aumento do número de visitantes. Isso pode ver-se no número de panfletos que são distribuídos, por exemplo nos cortejos. Algo a salientar é de facto a união das pessoas, na altura da Romaria, darem algo de si em prole da Romaria.
A festa realiza-se por causa da vertente religiosa que tem atraído cada vez mais visitantes, sobretudo por causa do trabalho que se tem desenvolvido no marketing. No entanto, tem melhorado bastante em termos de qualidade nas outras vertentes, nomeadamente artística, cultural e etnográfica. O cortejo de sábado à tarde, por exemplo, não fica nada atrás do cortejo da Romaria d’Agonia. Atrevo-me a dizer que a fasquia está muito elevada. Os objetivos para os anos vindouros são fazer igual ou melhor». (continua)