Tatiana chegou de Kharkiv e planeia futuro em Portugal

Tatiana é uma refugiada ucraniana, oriunda de Kharkiv, a segunda cidade da Ucrânia que já foi capital deste país e hoje é das cidades mais flageladas pela guerra. Tem 40 anos de idade e chegou a Viana do Castelo a 15 de março último, após uma viagem que durou 15 dias desde a terra natal. Veio com a filha de 13 anos, entretanto matriculada no 7.º ano na Escola Pedro Barbosa, onde já se sente integrada com colegas portugueses, ucranianos e de outras nacionalidades.

À conversa com o A AURORA DO LIMA, conta ter vindo parar a Viana do Castelo integrada numa comitiva que o jovem Dylan Fonte e outros amigos vianenses trouxeram desde a Polónia. “Fomos muito bem recebidas”, diz-nos, adiantando que, a 16 de março, já estava na casa de Carlos Torres, em Santa Leocádia de Geraz do Lima, onde trabalhou no hotel deste, na área das limpezas, durante mais de quatro meses. Realça, neste aspeto, o papel que Margarida Silva, coordenadora do Plano Municipal para a Integração de Imigrantes, teve no apoio à família monoparental (ela e a filha).

No início de agosto passa a viver no espaço que lhe foi disponibilizado pela Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina (ACISF), junto à capela de N.ª S.ª d’Agonia, onde esteve quatro meses, até se mudar para o atual apartamento T2, que arrendou na cidade, onde vive com a filha.

“Comecei a frequentar o curso de Português do Instituto de Emprego. Frequento, três vezes por semana, com aulas, de quatro horas, de Português”, diz. Acrescentando que “na minha casa faço sobremesas para ucranianos, portugueses e quem mais quiser. Na Ucrânia já trabalhava nesta área da pastelaria e restauração”, conta.

Quando acabar o curso de português, pensa arranjar emprego em qualquer área. Mas gostava de exercer na área da confeção de sobremesas e pastelarias, dada a sua experiência na área.

Apoios para a integração

Além do abono de família, Tatiana regista, ainda, o apoio do  “Porta de Entrada”, um programa criado pelo Governo visando as situações de necessidade de “alojamento urgente de pessoas que se vejam privadas, de forma temporária ou definitiva, da habitação ou do local onde mantinham a sua residência permanente ou que estejam em risco iminente de ficar nessa situação, em resultado de acontecimento imprevisível ou excecional”, que lhe ajuda no pagamento da renda. Paralelamente, continua a procurar trabalho.

A integração na comunidade local tem sido um sucesso. Tanto de Tatiana, como da filha adolescente. Ambas já conquistaram amigos em Viana do Castelo, quer sejam locais, quer sejam oriundos da Ucrânia, Brasil e outros países.

Planear a vida em Portugal

Relativamente à situação de guerra no seu país, garante que “não gosta de falar disso”, que é “política”, mas “dói-me muito o sofrimento” dos conterrâneos. Quanto a família tem o pai em Sumy, Ucrânia, e, há já muitos anos, a irmã, em Moscovo, a capital russa.

Questionada sobre o seu retorno à Ucrânia, diz-nos que a guerra não deve acabar em breve, pelo que “quero planear a minha vida no vosso país”. “Gosto de Viana do Castelo, mas quero ir para outra cidade”, confidencia.

Em Portugal, já esteve em Ponte de Lima (“bonito sítio”) e foi a Lisboa. Em Viana do Castelo, diz-nos gostar de Santa Luzia e das praias (“lindas”). “As pessoas são amigáveis e prontas a ajudar. Qualquer ucraniano pode levar aqui uma vida normal e plena. Os portugueses são afetuosos e hospitaleiros”, garante.

“Quando cheguei da Ucrânia, planeei ir para Lisboa, mas estou aqui e não me arrependo um único dia. Viana do Castelo é incrível, com boa energia e pessoas prestáveis”, acrescenta.

A nível de gastronomia, aprecia, nomeadamente, os pastéis de nata, assim como bacalhau com natas, francesinhas e pratos de marisco. Já a filha tornou-se uma fã das batatas fritas, algo que não faz parte da alimentação habitual na Ucrânia. Também aprecia os hamburguers, mas estes também existem no seu país.


Natal 
ortodoxo online

Sobre a quadra festiva que se aproxima, Tatiana esclarece que, na Ucrânia, é comemorado em família na noite de 06 para 07 de janeiro. O principal prato é o kutya, um cozido feito de trigo, nozes, sementes de papoila, passas e mel. Na véspera de Natal, geralmente, são preparados “pratos quaresmais”, pois ainda se está a viver o período do Advento.

Uma curiosidade é o facto de se colocarem 12 pratos à mesa. “Estes pratos de Natal simbolizam os 12 apóstolos e o número de meses do ano”, esclarece. Todavia, “como o Natal, aqui em Portugal, é comemorado a 25 de dezembro, vamos celebrar o Natal católico e o Ano Novo com amigos ucranianos, que conhecemos aqui, e o ortodoxo, de acordo com as nossas tradições, com a família (pais, irmã e sobrinho) online, uma vez que estes moram em países diferentes”.

“Sou, com a minha filha, muito grata a pessoas como o Dylan Fonte e os amigos, ao senhor Carlos Torres, à Andrea e à Elsa, da ACISF, à Isabel, amiga do trabalho no hotel e que mora aqui na cidade, à Margarida, à Carina e a todas as pessoas que nos ajudaram”, refere Tatiana.  

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