Tradições da Páscoa

As tradições da vivência comunitária da Páscoa em Lanheses vêm sucessivamente a afastar-se da realidade do tempo presente: mais conhecimento, melhor nível de vida, mobilidade fácil, novos hábitos e interesses culturais, foram substituindo, paulatinamente, costumes consolidados por sucessivas gerações. Numa sinopse descritiva das diferenças entre o passado e o presente, vão ser, a seguir, referidas as mais salientes e significativas.

1. Já não se deixa para a Semana Santa o arrumo e a lavagem geral das casas, a caiação e remendos nas paredes, a substituição de tábuas de soalhos degradados, dos vidros quebrados, das cortinas e roupa da cama própria da quadra, que outrora se fazia impreterivelmente no tempo da Quaresma, causando contudo no quotidiano familiar um desarrumo enervante até que tudo voltasse à normalidade

2. Nenhuma rapariga casadoira, com namorado ou debutante, se preocupa atualmente em procurar costureira para que lhe apronte vestido para estrear no dia de Páscoa, pago pelas poupanças obtidas no decorrer do ano com a percentagem da venda de animais e géneros alimentícios da lavoura caseira, porque tem tudo o que necessita nas grandes superfícies que enxameiam os centros populacionais do país e sobra-lhes com que pagar. O mesmo se aplica aos jovens, confiados na disponibilidade financeira dos pais.

3. O abastecimento da despensa é atualmente um trabalho que dá preocupação para quem tem parcos rendimentos, mas não de aquisição (por agora…) porque há oferta abundante e diversificada em relação ao passado, facilitando a intenção de  quem tenciona juntar a família dispersa ou surpreender convidados com uma ementa especial constituída por produtos de tradição pascal.

4. Na semana anterior à Páscoa desfilava, pachorrento, pelos lugares da freguesia vinda de Perre (Viana do Castelo) uma parelha (ou duas) de gado bovino bem nutrido e escovado com vista a estimular o apetite e informar da proveniência dos animais, o abate no matadouro municipal e o local da venda. Em Lanheses, os talhos afixam atualmente na montra os nomes dos produtores que, salvo raras exceções, são os credenciados fornecedores do costume.

5. A carne de cabrito ainda é das mais consumidas na quadra pascal. Noutros tempos, os “cabriteiros” conduziam em rebanho de trinta ou quarenta rezes, pela estrada, casa a casa, e após a escolha regateada dos compradores abatiam-nos e aprontavam-nos entregando-os ao comprador para os cozinhar.

6. O acompanhamento do Compasso, na tarde de domingo e na segunda-feira, juntava uma multidão de gente, sobretudo na estrada dos lugares a norte da freguesia, que engrossava à medida que o séquito da Cruz se aproximava da igreja, num ajuntamento compacto, entoando cânticos próprios da Páscoa.

7. Terminado o ato era o tempo de se consumar o início do primeiro namoro, com o rapaz a juntar-se à moça que, insistentemente, adulara no decorrer da tarde acompanhando-a depois até perto da sua casa onde a mãe, já à porta, a aguardava. 

 Às vezes, dava certo.  

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.