Três crianças ucranianas institucionalizadas no “Berço”

Após denúncia da direção do Agrupamento de Escolas da Abelheira da ausência do país de uma cidadã ucraniana, os três filhos, de seis, nove e 11 anos, foram colocados na Associação “Berço”, no dia 04 de outubro. 

“O que aconteceu foi o seguinte. No dia 27 de setembro foi-nos dito que as crianças passariam a sair das escolas com outros… Uma cidadã portuguesa telefonou-nos para cá a perguntar como é que as coisas se faziam”, explicava o sub-diretor do Agrupamento de escolas. Luís Braga acrescentava que “no dia seguinte de manhã, a mãe das crianças entregou um documento, numa folha de caderno, escrito à mão, em inglês, que enumerava três nomes de pessoas que até ao dia 11 de outubro viriam buscar as crianças. Uma delas, uma cidadã portuguesa [que tinha telefonado no dia anterior para uma das escolas], uma outra cidadã, que viemos a descobrir que era ucraniana. Esses dois nomes tinham telemóvel a acompanhar. O da cidadã portuguesa funcionava o da outra não. E um terceiro elemento, de nome eslavo”.

No dia 28, a direção da escola contacta a PSP para que no final desse dia viessem identificar a cidadã portuguesa, que levaria as crianças. Nesse entretanto, elementos da PSP contactam a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Viana que, segundo Luís Braga disse que poderiam entregar as crianças. Depois da identificação e da verificação da “idoneidade” da cidadã portuguesa que já conhecia as três crianças, as mesmas foram entregues.

A situação voltou a suscitar dúvidas no dia 03 de outubro quando, na manhã, as crianças chegaram à escola com uma cidadã ucraniana. “Na segunda-feira as crianças vieram para a escola com a cidadã ucraniana e disse-nos que no fim do dia as vinhas buscar. No fim do dia, voltou a PSP para identificar a cidadã”, conta o sub-diretor. Acrescentando que já tinham contactado várias instituições, nomeadamente CPCJ e o Ministério Público, mas “ninguém nos disse nada de significativo”.

Na terça-feira de manhã, dia 04 de outubro, a cidadã ucraniana comunicou à direção da escola que ao final do dia seria o terceiro nome da lista, deixada pela mãe, a recolher as crianças. “Já tínhamos pesquisado o nome e tínhamos visto as redes sociais e inspirava-nos alguma desconfiança”, salienta Luís Braga. Alertado ainda pelo facto das crianças nunca terem estado com o homem.  “Seria muito irresponsável se entregasse três crianças, uma delas no primeiro ano, outra no segundo e outra no sexto, a um senhor com aquela aparência, sem as conhecer de lado nenhum. As coisas têm de ser feitas com o mínimo de seriedade”, assinala Luís Braga.

A direção do Agrupamento fez vários contactos e  “chegamos ao limite de dizer: ficamos aqui com as crianças até alguém vir cá buscá-las. E o limite é o limite. Podia ser às três da manhã ou às cinco… sendo certo que anunciamos que se as pessoas não dessem uma solução qualquer íamos chamar jornais e televisões para contar esta história que merece ser contada”.

A presidente da CPCJ de Viana do Castelo, Teresa Viana, disse-nos, por escrito, que “adotou, em tempo útil, todas as medidas de promoção necessárias e adequadas à situação concreta, nos termos da lei encontrando-se as crianças em segurança”.

As crianças foram acolhidas no Centro de Acolhimento Temporário “Berço”, ao final da tarde de 04 de outubro.“Acolhemos e estão a adaptar-se”, dizia-nos o responsável da Instituição. O padre Artur Coutinho referia que “nós apenas as acolhemos e tratamos delas”, estando a ser acompanhadas pelos serviços de psicologia da Instituição. “A nós interessa-nos que temos crianças ao nosso cuidado e que tem de ser cuidadas. Os outros pormenores competem a outras instituições”, frisava o presidente do “Berço”.

Fonte próxima da família lamenta toda esta situação e informa que a mãe comunicou a ausência à Segurança Social e às técnicas municipais que acompanham o processo de integração em Viana do Castelo. “A única falha, porque não sabia, foi não ter formalizado a questão das crianças com a escola”, diz a fonte que preferiu o anonimato. Acrescentando que a mãe “fala com as crianças e fala connosco. Está é muito preocupada com o que lhe irá acontecer a seguir”.  Lamentando todas “as proporções do caso” e reforçando: “a mãe nunca as negligenciou. Fala com elas por videochamada. Assim como o pai que ficou na guerra”. 

A cidadã ucraniana teve de voltar ao país de origem para tratar da renovação de documentação dela e dos filhos, mas também dar apoio familiar, uma vez que a mãe foi hospitalizada e o irmão foi baleado quando lutava contra a ofensiva russa.  
 

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