Ucrânia: jovens vianenses levam alimentos e trazem refugiados

Dylan Fonte, 25 anos, Thomas Esteves, 25 anos, Rui Oliveira, 25 anos e José Pedro, 23 anos decidiram ter iniciativa e não ficar apenas a lamentar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Em poucos dias recolheram bens e algum dinheiro para percorrem mais de seis mil quilómetros e trazer para Portugal 14 refugiados. O início da viagem iniciou-se no dia 11 de março e terminou a 15 deste mês.

A ideia desta aventura surgiu numa viagem de carro de Dylan Fonte. “Perguntei no nosso grupo se alguém alinhava ir comigo até à Polónia se eu arranjasse duas carrinhas para a viagem. Eles disponibilizaram-se logo”, contou Dylan. 

Depois de conseguir o transporte através da solidariedade do pai e do tio, que disponibilizaram as da empresa, os jovens, dois vianenses e dois limianos, começaram a angariar bens e a ser contactados por ucranianos residentes em Portugal que lhes pediam para trazerem os familiares, que estavam em Varsóvia, Polónia. 

“No início, chegaram muitos bens. A parte dos donativos monetário não correu tão bem ao início, porque havia alguma desconfiança. Só na sexta-feira quando viram a fotografia que estávamos a arrancar é que as pessoas começaram a contribuir com dinheiro. Conseguimos também alguns patrocínios para nos ajudar na viagem”, refere Dylan. Acrescentando que os aumentos dos combustíveis aumentaram o custo da viagem. Nos primeiros 1500 quilómetros de viagem gastaram mais de mil euros.

Quando começaram a publicitar nas redes sociais a iniciativa, os jovens foram contactados por ucranianos residentes em Portugal que lhes pediam que trouxessem os familiares. Contudo, ao longo da viagem os jovens foram sendo informados que alguns dos refugiados ucranianos iniciais já tinham conseguido outro transporte. 

No final, ainda tinham dois lugares e trouxeram uma ucraniana e a filha. “Quando partimos não sabíamos que ela não tinha familiares aqui em Portugal”, esclarece Dylan, que ao perceber este facto não hesitou em acolhê-las em casa na primeira noite [terça-feira, dia 15 de março]. Com o apoio da Câmara Municipal, a mãe e filha ucranianas foram acolhidas por uma família em Geraz do Lima.

Solidariedade permitiu regresso

A viagem de regresso, já com os refugiados ucranianos, teve alguns percalços. O dinheiro disponível para a viagem tinha terminado e tiveram de voltar a apelar à solidariedade, o que rapidamente chegou. Na Alemanha, decidiram pernoitar num hotel. “Exigiam-nos certificado digital, e a maioria deles não tinha. Conseguimos apelar à boa-vontade da gerência e deixaram-nos ficar e até nos fizeram um desconto”, conta o jovem. Enaltecendo a compaixão dos empresários. “Quando parávamos nas estações de serviço ofereciam comida. Foi muito bonito de ver”, dizia.

“Eu sabia que poderia fazer algo e não conseguia ver aquele drama e não fazer nada. Claro que são apenas 14 pessoas, mas sentia que estava a ajudar alguém. Tendo possibilidades para o fazer, porque não”, explica Dylan. Acrescentando: “para nós foi uma experiência única e que vai ficar marcada para sempre. Durante toda a viagem senti-me bem, porque era aquela sensação de estar a ajudar alguém e isso dava mais força para aguentar tudo”.

A partida de Viana do Castelo aconteceu às 20h de dia 11 de março e a chegada à mesma hora, mas de 15. À espera dos jovens e dos 14 refugiados estavam familiares. 

O que levam desta experiência?, Dylan não hesita: “a melhor sensação de sempre foi quando chegamos a Viana e vimos as caras das pessoas que estavam a abraçar os familiares. Todos nos agradeceram e disseram-nos que fomos os heróis e que nos iam lembrar para sempre. Para mim, esse foi a melhor parte e valeu tudo. As pessoas sentiram-se seguras e isso é muito importante”.

As dificuldades de comunicação foram atenuadas com recurso a uma aplicação informática, porque nenhum dos 14 ucranianos falava inglês. Durante a viagem “falávamos coisas muito simples. Se precisavam de parar, onde estávamos. Se queriam comer ou dormir…Falávamos muito pouco, porque eles não percebiam inglês. Só falavam ucraniano e a comunicação era através de aplicações”, esclarece o jovem   

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