Tinha a convicção de que completaria um século. E ao longo da vida, pelas suas práticas quotidianas, tudo fez para atingir esse objetivo, mas nem sempre chegam as boas regras físicas e alimentares para nos estendermos no tempo, porque a natureza não se deixa dominar.
José Arrigada, como tantos, felizmente, foi outro bom exemplo do que deve ser o cidadão com enquadramento perfeito na sociedade, tendo permanentemente presente que, como afirmava Cícero, não nascemos só para nós, já que boa parte do que somos deve estar ao serviço da comunidade.
Particularmente, entendia que o trabalho só o honrava, não se recusando por isso ao uso de toda e qualquer atividade. Ligou-se à restauração, prestando serviço de mesa, trabalhou em casas de espetáculos e não recusava tarefas variadas, procurando melhorar os proveitos financeiros para alimentar a família, porque no seu tempo todos os tostões eram de importância suprema para viver com alguma decência. Contudo, profissionalmente, acabou mais tranquilo, como funcionário dos Serviços Municipalizados de Viana.
Mas foi ao serviço de causas filantrópicas que atingiu o brilho de melhor cidadão. Durante 42 anos, abnegadamente, prestou serviço voluntário na Cruz Vermelha de Viana. Tentaram arrastá-lo para a Legião Portuguesa, esse famigerado braço armado ao serviço do Salazarismo bolorento, mas ele soube rejeitar liminarmente, fazendo saber entre a família que sempre se sentiu vocacionado para prestar serviço social e nunca para servir Salazar. Daí a Cruz Vermelha e daí a sua ligação, ao longo de décadas, à Conferência de São Vicente de Paulo de Viana, para auxiliar mais diretamente os mais necessitados, onde desempenhou funções de tesoureiro.
Despediu-se agora de nós, de consciência tranquila, como assumia, já que soube cumprir o melhor que pode e soube a sua condição de cidadão com deveres: na educação, na elegância de trato e no serviço a prestar aos mais desafortunados. Lembrá-lo-emos como o homem bom, da saudação de vénia e sorriso, como é prática dos cavalheiros genuínos.
Que estejas bem, José Arrigada.
GFM