Já é habitual, sempre que as entidades competentes efetuam a respetiva reparação, que alguém, munido de um spray tantas vezes usado de forma incorreta e abusiva, danifica a placa que assinala a entrada na nossa freguesia, no sentido Viana–Perre, logo ali, no lugar da Costa. Na verdade, quem assim procede prejudica, enormemente, a nossa freguesia, retirando relevo ou quase encobrindo a palavra PERRE de que tanto nos orgulhamos, e empobrecendo o chavão que orgulhosamente sustentamos, que nos coloca “ao nível” das duas capitais europeias mais famosas, Londres e Paris.
A frase “Perre, Paris e Londres!” tem a sua origem numa aventura que envolve emigrantes da nossa terra, que “a construíram” sem intenção inicial, mas da qual hoje se orgulham por colocar Perre na ribalta. Trata-se de uma forma de expressão que caracteriza a nossa freguesia e que, embora utópica, traduz o nosso orgulho perrense.
Quem assim danifica a placa que assinala o início da nossa terra natal, deveria pensar duas vezes antes de voltar a repetir a proeza. É que a sua atitude, além de constituir uma agressão ao património púbico, empobrece a força da expressão “Perre, Paris e Londres!”, colocando-a ao nível de um qualquer desmando praticado a altas horas da noite.
Sugerimos por isso que, para a sua divulgação, sejam usadas outras formas criativas e não lesivas do património público. Perre agradece, certamente.
Coisas antigas, ou nem tanto
Numa das suas habituais incursões pelo sótão da nossa residência, a minha mulher encontrou um assinalável acervo de cartas dirigidas ao meu tio avô Manuel Pires Gil, que foi padre, reitor de Liceu, vice-presidente da Câmara de Viana e também Governador Civil, para além de ser um fervoroso republicano, envolvido nas querelas com os monárquicos. Foi proprietário da casa do lugar da Portela que conhecíamos como Casa Grande (talvez uma das maiores residências de Perre), hoje propriedade dos herdeiros de Luís Quesado e Rosalina Carvalho. Os seus restos mortais estão depositados numa das construções em pedra do Cemitério desta freguesia – que partilha com outra família de Perre -, sendo o primeiro do lado esquerdo para quem acede à “parte nova” do Cemitério.
De entre as cartas, distingo as que provêm do Partido Republicano Português, do Gabinete da Presidência do ministério, do Liceu Passos Manuel do Porto, do sexto Presidente da República Portuguesa, António José de Almeida, e do ministro da Instrução, Alfredo Magalhães. E é sobre estes dois últimos que farei breve referência, uma vez que estiveram ligados, por motivos diferentes, à freguesia de Perre.
O mencionado Presidente da República esteve acoitado na Casa Grande durante algum tempo, sob o cuidado de Manuel Pires Gil, na época intranquila de luta entre os dois regimes opostos já mencionados. Curiosamente, deixou lá um legado curioso, que os herdeiros me mostraram recentemente. Trata-se da gravação do próprio rosto, através de objeto cortante, na porta do quarto que foi seu durante algum tempo. Essa gravação encontra-se cuidadosamente conservada, apesar das inúmeras pinturas a que a porta se submeteu e que sempre respeitaram aquele pequeno espaço. Nas cartas que enviou ao meu tio avô, António J. Almeida fala-lhe sobre a amizade que os unia e sobre os motivos que o levaram a abandonar a Presidência da República Portuguesa.
Relativamente às cartas de Alfredo Magalhães – 21, na sua totalidade -, as mesmas demonstram à saciedade a grande amizade que os unia, aludindo também a factos importantes relacionados com a freguesia de Perre.
Recordando que Alfredo Magalhães assumiu as funções de ministro da Instrução (hoje seria ministro da Educação), sabemos também que foi o responsável pela construção da velha Escola do Calvário, que ainda hoje ostenta o seu nome na parte frontal virada para a veiga de Perre. Dentre essas cartas, que falam, entre outras coisas triviais, da amizade, da gratidão e da ingratidão humanas, de tarefas cumpridas e não cumpridas ou de um indelével amor à Pátria, encontrei curiosas informações sobre o andamento das obras das Escolas em Viana do Castelo, bem como dos subsídios que lhes eram atribuídos, a exemplo da alusão às de Carreço, Deocriste, Lanheses, Perre, Viana, Vila Mou, Ponte da Barca ou Valença.
À Escola de Perre calhou, nessa altura, um subsídio que, assinale-se, foi o segundo mais baixo (8.000.00). Numa outra carta, Alfredo Magalhães pede desculpa ao seu amigo por não poder estar presente na inauguração da Escola em Perre, ao mesmo tempo que agradece a Manuel Pires Gil por nela “ter colocado o meu pobre nome, a par da minha vera efigie”. Presumo que, face ao que escreveu Alfredo Magalhães, Manuel Pires Gil teve influência decisiva na colocação do nome do Ministro na face sul do edifício, e viu também colocada numa das dependências da Escola uma fotografia sua, face à alusão à “sua vera efigie”.