Diz o povo que “filho de peixe sabe nadar”. Este provérbio assenta perfeitamente à autora do texto “País das Canções de Embalar,” que foi apresentado no Teatro Sá de Miranda, na Sala Experimental, em Viana do Castelo, nos últimos dias 13, 14 e 15 de maio.
A autora é filha do falecido ator e encenador Manuel Geraz.
O espetáculo tem texto de Daniela Silva e Vânia Geraz. “Uma assistente de bordo guia-nos para uma viagem pelas paisagens do País das Canções de Embalar e pede para nos esquecermos.
O local de encontro no meio do Oceano Atlântico: São Miguel, Açores. Entre quem age e quem narra, entre o autor no texto e o autor do texto surge um conflito, e a narradora perde o controlo da linguagem à medida que o texto prolifera. A história que queria ter contado era a história de um cão de água português, que por razões que desconhece, foi-lhe impossível dizer.
O dispositivo cénico joga com as questões que se abrem na busca de uma identidade, quer seja a identidade de Vítor, de um país, de uma cidade ou de um cão: e se a diferenciação entre eu e tu fosse impossível? E se a certeza e autenticidade de um “eu” já não se constituísse como problema? Por outro lado, é preciso não esquecer que uma canção de embalar, com as suas repetições hipnóticas, pode cristalizar-se numa canção moralizante e unívoca, adormecendo literalmente as consciências dos vivos, fazendo esquecer a violência”.