Vim para dizer

Vim para dizer o que vai 

neste meu íntimo insatisfeito, 

daquilo que do meu peito 

com melancolia entra e sai. 

Podeis, ainda, ouvir o ai 

qu’eu deixo em cada porta

quando na saudade da hora morta 

a última alegria s’esvai.

Venho falar dos momentos

passados na minh’ aldeia,

à luz da fosca candeia

que alumiava meus pensamentos. Lembro-me de certa noite

pintada de fresco luar

em que sentado no velho adro 

m’ extasiei a versejar.

Porém, a emoção foi tal,

que em cada janela ou portal 

havia alguém a chorar

de pena pelo meu mal.

Era a saudade d’alguém, 

era o amor à minha terra,

era a dor que o peito encerra 

quando a nostalgia vem.

Mas quand’ o dia chegou 

molhado pelo orvalho,

fui desviado do meu sonho 

pela melodiosa sinfonia 

das aves, indiferentes

ao momento qu’ eu vivia, 

pois não sabiam a razão 

que motivou tanto choro; 

as aves cantand’ em coro 

eram felizes… eu não!

Desci a ladeira e taciturno 

cheguei à conclusão

que sou mais feliz enquanto durmo porque não careço d’ afeição,

não penso na minha gente, 

não penso na terra querida,

nem m’apercebo que tenho ferida aberta no coração!

Eugénio Monteverde

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.