50.º aniversário do “25 de Abril” numa peça de teatro

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 Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana acolhe Guião para um País Possível em contexto de Residência de Estreia, sendo com a estrutura artística Cassandra, o produtor do espetáculo, que fará  quatro récitas no Teatro Municipal Sá de Miranda. Hoje, quinta-feira, dia 07, mas 21h; amanhã, sexta-feira, dia 08, também às 21h; sábado, dia 09, às 19h e domingo dia 10, às 16h

Um espetáculo com interpretação de João Melo e Margarida Carvalho, desenho de luz de Cárin Geada, composição musical de Pedro João, desenho de som de Mariana Guedelha, figurinos de Cristina Cunha, conceção de cenografia António Quaresma e Susete Rebelo, coordenação da pesquisa de João Mineiro e apoio à dramaturgia e coordenação de Parlapatório de Carlos Malvarez.

No parlamento português, entre as bancadas dos deputados e a tribuna com membros do Governo, existe, exatamente a meio da sala, uma secretária sem nada à volta onde trabalham dois funcionários que têm a missão de transcrever tudo o que ali é dito. Através dos dedos, registam-se os discursos, as intervenções, os apartes, as insubordinações e até os gestos. São centenas de milhares de páginas que registam debates, assembleias constituintes, votações, avanços e recuos nos direitos sociais, laborais e humanos. Guião para um País Possível é um espetáculo criado a partir destes registos, para contar os últimos 50anos da nossa democracia.

Há um ano a ser construído

Em declarações após um ensaio de Imprensa, esta semana, a dramaturga e encenadora Sara Barros Leitão, que, há 15 anos,  se estreou em palco também no Teatro Sá de Miranda, referiu que se trata de um espetáculo que começara a construir há mais de um ano, partindo das transcrições  dos diários da Assembleia da República. Segundo a encenadora, as transcrições são parecidas com um “guião de teatro”, a nível de diálogos…, mas com “uma realidade muito maior, um espetáculo que já estava escrito e dito”.

Durante cerca de 1h40 são apresentados os “momentos mais marcantes para contar a nossa história coletiva e alguns menos importantes e desconhecidos da população”, explica a encenadora. 

Cicciolina na Assembleia da República

Entre eles está o protaganizado pela deputada italiana Ilona Staller, conhecida pelo nome artístico de Cicciolina enquanto atriz porno, na sequência de um outro com a deputada portuguesa, intelectual e ativista pelos direitos da mulher Natália Correia.

“A deputada Natalia Correia estava na Assembleia nessa altura. Ilona Staller foi convidada para ir à Assembleia, e acabou por ali protagonizar um episódio insólito com cenas que já tinha feito em vários outros momentos públicos, em que baixava o vestido, subia a camisola, mostrava os seios”, referiu  Sara Barros Leitão.

“Correu o boato de que tinha sido Natália Correia que a tinha convidado. Mas esta negou-o. Depois, nos corredores da Assembleia (há, aí, imagens públicas disso) abraçaram-se e Natália disse que ela tinha procedido muito bem por ter feito aquilo. Elas estavam juntas na mesma sessão e, de alguma forma, juntei várias cenas que pudessem ser, também, uma forma menos despudorada para a Assembleia”, pormenoriza.

“Era uma luta que a Natália tinha na sua vida, na questão do pudor, da sexualidade, na forma como lidamos com o nosso corpo. Juntamos uma série de acontecimentos e intervenções na mesma cena. Como, por exemplo, o caso do naturismo, uma das leis propostas pelo deputado José Sócrates, ainda muito novo e acabado de chegar da Covilhã, com uma intervenção pedindo a legalização do mesmo. Também há muitas coisas que acontecem na Assembleia e que não conseguimos ver. Não está nos diários, nem as câmaras captam. Certamente a sexualidade também corre pelos corredores e, de alguma maneira, estão ali outros olhares sobre ela.”

Guardiões da democracia

O facto de ter optado por colocar apenas dois atores em palco é explicado, segundo Sara, pelo facto de, nomeadamente, a Assembleia da República ser composta por 230 deputados e entre estes e a Mesa, além de, eventualmente, representantes do Governo, estarem dois redatores que fazem a transcrição direta de tudo o que acontece ali. “São os guardiões da nossa democracia”, garante, até porque o espetáculo começa e acaba com eles.

Nota-se, ainda, que o  Serviço Educativo da companhia vianense promove atividades de acessibilidade e mediação com Reconhecimento de Palco e Legendas em Inglês em todas as sessões, uma Conversa Pós Espetáculo dia 08 de dezembro e Audiodescrição e Tradução Simultânea em Língua Gestual Portuguesa dia 10 de dezembro.

O preço dos bilhetes varia entre os 4€ e os 10€ e podem ser adquiridos na BOL – Bilheteira Online e na Bilheteira do Teatro Municipal Sá de Miranda.  

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