Morreu Zé da Veiga (1925 – 2023)

P

artiu do nada e atingiu um enquadramento profissional na empresa superiormente qualificado. Entrou nos ENVC quando ainda se construíam as docas que haveriam de ser berço para a construção de navios que sulcaram os oceanos um pouco por toda a parte. A sua experiência de carreteiro, atividade que iniciou de apoio ao pai ainda criança, levou-o à condição de chauffeur (como dizia com graça) dos carros de bois que transportavam as componentes dos navios das oficinas para as docas.  

Entretanto, os carros de bois foram substituídos por guindastes, gruas e outros equipamentos de elevação e transporte, e o Zé da Veiga – José Rodrigues de Matos, de seu nome de batismo – passou à condição de cravador, com um trabalho de oito horas diárias, seis penosos dias semanais, com direito a três dias de férias por ano e um vencimento diário de 14$00 (pouco mais que cinco cêntimos). Em 1950, porque o mérito era evidente, passou a cravador de 3ª classe, com vencimento atualizado, para nunca mais parar na ascensão da carreira profissional.
Em 1968, já na condição de montador especializado de estruturas metálicas, foi evidente o seu nível profissional na construção do navio “Porto” –  um navio que, pela sua grandeza, obrigou ao crescimento e alargamento da principal doca dos ENVC – sendo nessa altura guindado à categoria de operário-chefe, função onde demonstrou destreza e capacidade de comando, assim granjeando a confiança da hierarquia da empresa, sendo aposta para a assumir a responsabilidade da atividade reparadora da Doca Eng. Duarte Pacheco, à época adjudicada aos ENVC. Em 1974, é nomeado contramestre e, decorridos dois anos, Técnico Industrial. Cinco anos depois, em 1979, atinge o topo da carreira com a promoção a Técnico Industrial Especializado, já com a função de chefe da secção da Montagem de Casco

A sua voz sonante, orientando o trabalho da montagem dos navios em doca fazia-se ouvir longe. Por essa razão, amigavelmente, o alcunharam do “Imperador”.  Era, porém, um profissional que vendia simpatia e amizade. Compreensivo dos problemas de cada homem que orientava, bom conselheiro, porque tinha subido a “corda a pulso”, fez amizades para a vida.

Na Praia Norte cruzámo-nos várias vezes, proporcionando-se encontros emotivos, num sorriso que demonstrava amizade enraizada. Dizíamos-lhe sempre que completaria o século (nasceu em 1925). “Vamos ver”, disse-nos com naturalidade, talvez há um ano, a demonstrar vontade de viver e perpetuar amizades. Não chegou lá. Talvez tenha partido no momento que julgaria mais oportuno, porque não era homem para desejar viver com dependências. Fica a sua imagem de Homem Elevado, e bom amigo.  

    GFM

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