Alminhas registadas na Freguesia

As alminhas representam uma tradição religiosa cristã católica exclusiva de Portugal, nascidas do Concílio de Trento no século XVI. Existem em quase todas as regiões do nosso país e são muito comuns no norte, designadamente no Alto Minho. São normalmente construções simples de menor dimensão, erigidas perto das bermas das estradas e caminhos, rotas rurais de peregrinos, de passantes com itinerário escolhido para alcançar um destino pré-concebido, mas também perto de cruzeiros e embutidas na frontaria de capelas, junto a igrejas ou outros templos de raiz religiosa.

Sumariamente, as alminhas visavam proporcionar aos viajantes momentos de oração e evocação dos entes queridos falecidos, bênçãos e perdão de pecados cometidos, cumprimento rituais comuns na evocação das almas do Purgatório e ofertas de agradecimento pelas graças obtidas. Todas guardavam um retábulo configurando uma determinada imagem ou figuras religiosas com um fundo com painel de cenas bíblicas, nomeadamente, do Purgatório.

Da preservação e manutenção permanente destes pequenos templos cuidava tradicionalmente uma família ou pessoa a quem era confiado esse cuidado. Além dos arranjos na estrutura e de pintura e embelezamento geral, havia que manter acesas, permanentemente, as velas e as lamparinas, bem como a luz dos candeeiros, sem esquecer a renovação e a rega dos ramos de flores.

Apesar de frequentemente se encontrarem algumas bem cuidadas, designadamente as existentes nos povoados, o desaparecimento das alminhas está a acontecer em ritmo vertiginoso.

É cada vez maior o número das que se encontram abandonadas e degradadas, desativadas ou pouco cuidadas. O facto explica-se pelo crescente alheamento coletivo das comunidades pela preservação das tradições e hábitos religiosos, sendo contudo a mais relevante a que advém da falta de cuidadores para assumir o lugar dos tratadores que vão desaparecendo.

As entidades locais, designadamente as autarquias, não têm demonstrado a devida preocupação para garantir a preservação deste património cultural das comunidades que tutelam.
Em Lanheses estão referenciadas cerca de meia dúzia destas simbólicas capelinhas, incluindo um retábulo aberto na parede de uma moradia. Há anos, identifiquei-as todas e escrevi sobre elas. Não fiz agora a via sacra para a confirmação, mas, não alimento a convicção de que todas estejam vivas e com saúde, isto é, cuidadas e notadas. A que ainda aparenta ter alguém a prolongar-lhe, piedosamente, o estertor da morte anunciada, por abandono, está no Campelo, junto à estrada municipal 202, ao lado da residência que foi da sua última zelosa cuidadora, recentemente falecida.

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