Os antimicrobianos são medicamentos que têm como finalidade tratar ou prevenir infeções causadas por microrganismos, eliminando-os ou impedindo que estes se multipliquem.
Uma das grandes questões que a classe médica tem vindo a debater ao longo dos anos é o uso excessivo de antimicrobianos e a falta de consciencialização da população para os seus efeitos na saúde.
Quanto mais elevado for o seu consumo, maior é a probabilidade de os microrganismos desenvolverem mecanismos de resistência ao fármaco que, inicialmente, os combatia. O crescente aumento de bactérias multirresistentes é uma realidade que requer uma ação conjunta dos profissionais de saúde, instituições governamentais e sociedade.
A Organização Mundial de Saúde estima que já ocorram, a nível global, cerca de 700 mil mortes causadas por bactérias multirresistentes, um número que a mesma entidade prevê que aumente para os 10 milhões até 2050.
O primeiro passo a tomar é a consciencialização: é importante desmistificar, junto da população, que os antibióticos apenas tratam, e por vezes previnem, infeções bacterianas. Jamais deverão ser administrados em casos de infeções causadas por vírus, como gripes ou constipações. A acrescentar a isto, convém destacar que este tipo de medicamentos só deve ser usado quando for prescrito por um médico.
Contudo, a consciencialização deve ser igualmente feita junto dos profissionais de saúde, uma vez que também se verifica um consumo excessivo a nível dos serviços de saúde, associando a elevada prescrição a uma duração prolongada da terapêutica antimicrobiana.
O Programa de Apoio à Prescrição Antimicrobiana (PAPA) visa orientar, uniformizar, verificar e validar a antibioterapia, tendo como meta final preservar a sua eficácia e o melhor tratamento do doente.
Para uma antibioterapia correta, o médico deve refletir, num primeiro momento, sobre qual a origem da infeção, qual o foco mais provável e quais os fatores modificadores ou de risco para as resistências.
O tratamento da infeção grave exige um equilíbrio entre o benefício de uma antibioterapia empírica agressiva, que implica o recurso a antibioterapia de largo espectro, e o desenvolvimento de microrganismos resistentes.
É obrigatória, entre 48 a 72 horas após o início da terapêutica, uma análise da resposta clínica e dos resultados dos estudos microbiológicos, devendo ser revista a estratégia inicial.
Há, inclusive, situações que implicam o ajuste da dose, como os casos de insuficiência renal, insuficiência hepática e obesidade mórbida. A sua evolução deve ser vigiada e a dose reajustada, para prevenir o subtratamento ou toxicidade.
São normas básicas da antibioterapia, como as referidas, que travam o desenvolvimento de microrganismos resistentes.
Os problemas relacionados com a prevenção e controlo da infeção estão intrinsecamente relacionados com o consumo de antimicriobianos e a emergência e propagação de resistências.
É fundamental a implementação de boas práticas de prevenção e controlo da infeção, como a higienização das mãos, o rastreio e isolamento de doentes portadores / infetados por microrganismos multirresistentes.
O PAPA e a prevenção e controlo da infeção têm que manter um trabalho de simbiose para frenar o panorama sombrio da resistência antimicrobiana.
De forma a prevenir os erros na prescrição antimicrobiana, que permanecem ainda como um fator crucial na seleção e aumento das resistências de microrganismos, é indiscutível a necessidade de apostar na constante atualização de conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde em Portugal, um trabalho no qual a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna tem investido, juntamente com os seus núcleos.
Ernestina Reis, Internista
e Membro da SPMI
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