Mais do que uma notícia, neutra e seca, que essa facilmente corre e se instala na comunidade, venho saudar a vida e a memória do colega e amigo Francisco Trabulo, professor e pintor, nascido em 1957 em Vila Nova de Foz – Côa e radicado há vários anos, em Viana do Castelo.
Partiu, Francisco Trabulo em plena atividade académica e artística. Como professor e com o mestrado em Educação Artística pela Universidade de Monfort/Leicester, Inglaterra, lecionava na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo, onde coordenava a licenciatura em Artes Plásticas e Tecnologias Artísticas. Este curso, inovador no panorama do Ensino Artístico em Portugal, teve início no ano letivo de 2016/2017, tendo sido Francisco Trabulo um dos seus promotores e grande entusiasta.
Entretanto, depois de sofridos e por nós tão falados atrasos, Francisco Trabulo concluiu o seu doutoramento em Pintura, no dia 22 de julho de 2021, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, com uma dissertação intitulada “Dor na Pintura: Apropriação e Evocação Icónica dos Media”.
Aliás, o tema da dissertação serviu como título à sua exposição, inaugurada em 3 de dezembro de 2019 na Oficina Cultural do IPVC (REPRESENTAÇÃO DA DOR: Apropriação e evocação icónica dos media), onde manifestava “ Perante o dilúvio imenso de imagens mecânicas de dor (fotográficas e fílmicas) que constantemente assola as nossas vidas, olhamos a maior parte das vezes para elas com desinteresse quando na realidade nos deveriam fazer parar e fazer refletir, mais que não fosse, sobre qual o nosso grau de responsabilidade, enquanto cidadãos do mundo”.
Com o Curso de Artes Plásticas – Pintura, da Escola Superior de Belas-Artes do Porto, foi também como pintor que Francisco Trabulo se afirmou em termos artísticos, tendo participado em várias exposições individuais e coletivas, com vários prémios atribuídos e com representação em várias coleções.
Era, contudo, a sua bonomia e a capacidade de fazer amigos, a grande característica de Francisco Trabulo. David Rodrigues, professor e poeta, incluiu no seu blogue “Pão Integral”, em 17 de julho de 2015, uma verdadeira ode à amizade e a Francisco Trabulo, que hoje não pode deixar de constituir uma homenagem ao nosso amigo comum.
ao Pintor Francisco Trabulo
obrigado
amigo
o nós em nós de que somos feitos
na clara fonte da amizade
nasceu
e sem quaisquer margens de dúvida
amigo
como rio de águas translúcidas
cresceu
um percurso sereno em curso nos
envolveu
entre subtis afinidades de partilha
e agrado
versos e telas de eloquentes silêncios
nos firmaram para sempre
amigo obrigado
Por fim, o que te dizer caro Trabulo?
No seguimento daquelas pachorrentas horas de tertúlia cultural no “nosso” (teu, mas que permitias que eu o usasse) gabinete da ESE, desejo que descanses e desfrutes desse fantástico reino da Cor Eterna, onde a Dor (representada ou vivida), não será mais do que a memória de um mundo que teima em não se abrir ao espírito da Arte.
De mim, vai um abraço de solidariedade à tua querida família, ao nosso IPVC e àquela que nunca abandonaste… a Pintura.