Cruzeiro de Paçô vilipendiado

Simplesmente o Cruzeiro de Paçô é notícia pela aberração de que foi alvo. Este secular monumento está impávido e sereno na sua imponente posição, ali ao lado da estrada N.º 13, provavelmente desde a construção na nossa freguesia da atual capela de S. Sebastião, nos finais do séc. XIX, exatamente no ano de 1821, o mesmo merece toda a atenção de quem se move na esfera da cultura, da arte e da história, para lhe devolver a dignidade perdida.

Antes de mais, para quem não tem conhecimento da sua localização, convém esclarecer que o Cruzeiro de Paçô fica situado do lado esquerdo da estrada N.º 13 no sentido de Viana/Valença, relativamente próximo do extremo norte do lugar de Paçô.

Aquando das obras realizadas na EN13, principalmente na construção do viaduto de Paçô, a cota do nível da estrada subiu consideravelmente e apesar de não conhecermos as razões para tal, o facto é que a cota subiu mesmo.

 Como resultado direto dessa subida, o cruzeiro ficou muito abaixo do nível da estrada. Para não ficar muito acentuado tal desnível, e para que o Cruzeiro de Paçô não ficasse num autêntico fosso, os responsáveis de tais obras enterraram um duplo degrau do Cruzeiro, isto é, dois degraus de uma obra de arte, degraus que suportam a base setecentista que por sua vez sustenta um fuste cilíndrico encimado com uma cruz com Cristo.

Estamos assim perante uma amputação de uma obra de arte com inumação perfeita, porque ao Cruzeiro de Paçô foi-lhe eliminado o seu duplo degrau através do enterramento, isto é, uma pura amputação de parte integrante de um todo do seu conjunto arquitetónico. Com todas as letras, podemos afirmar que foi amputada e enterrada a arte, a história e a cultura.

 Estamos portanto perante um mau serviço prestado a toda uma comunidade, a qual foi e continua a ser ludibriada com semelhante ato brutesco até que as instâncias competentes eliminem este atentado contra a arte, a história e a cultura. 

Sabemos muito bem que a nossa autarquia não dispõe de verbas para corrigir erros de terceiros desta índole. Erros ou talvez não, porque ficou a custo zero lançar duas pazadas de terra em alternativa a desmontar e remontar o cruzeiro ao nível atual da EN/13 como então se impunha e ainda hoje se impõe. 

Cabe à nossa Câmara Municipal de Viana do Castelo, à qual aqui pedimos para atuar na sua esfera competente com a finalidade de eliminar esta afronta ao nosso património, porque tem todos os meios necessários ao seu alcance, desde investigar a origem do aterro, se for caso para tal, e tudo o mais até à simples orientação no cuidado a ter na movimentação das peças de arte. 

Para quem não se tenha apercebido que o Cruzeiro de Paçô foi vilipendiado, podem os interessados observar isso mesmo na foto, mas muito melhor o poderão fazer no local, recomendamos também a consulta de “A Comenda de Carreço”, de Lourenço Alves, saudoso pároco desta freguesia, para elucidação perfeita deste infausto atentado.   

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.