O jardim do edifício sede do antigo Governo Civil é o palco escolhido para a concentração das mordomas. Antes das 16h, a maioria ultima os preparativos para poder enfrentar mais de dois quilómetros de distância e ser observada por centenas de olhos. As ruas estão apinhadas de gente, que suporta o intenso sol só para aplaudir, gritar e ver passar as mordomas que vão convidar as autoridades para as festas. Este ano, foram 636 oriundas de vários pontos do país, mas também do estrangeiro.
Margarete Couto natural de Afife, mas a residir em Lisboa trouxe da capital para a “princesa do Lima” algumas das suas alunas. “Desafiei algumas das minhas alunas a que se passassem de ano podiam vir, elas passaram de ano e tive de cumprir a promessa”, revela. Adiantando que “elas vieram e estão sorridentes constantemente. Viram que não é um desfile exclusivo. Algumas delas até tinham algumas peças em casa e não davam valor. Elas têm noção que estão a vestir história e que é importante não nos esquecermos”.
Rita Conceição é lisboeta e aceitou o desafio da explicadora de Afife. “A minha explicadora é daqui e desafiou-nos e nós ficámos muito entusiasmadas. Não tenho nenhuma ligação a Viana, mas viemos mesmos para o desfile e estou muito feliz”, salienta. Acrescentando que a plataforma online facilitou a inscrição.
Há 16 anos a participar, Susana Rodrigues traz o traje de lavradeira rico, o mesmo que usa no Rancho Folclórico das Lavradeiras da Meadela. Com “muita emoção”, aquela sublinha o descer a Avenida dos Combatentes. “É uma emoção muito grande, quando desfilamos a Avenida o nosso coração parece que vai sair pela boca”.
Ninguém se atreve a dizer o valor e são poucas as que sabem o peso dos elementos em ouro que carregam ao peito, no entanto, serão perto de “30 milhões de euros” que circularam pelas ruas de Viana naquele que foi o dia de arranque da festa em honra da Nossa Senhora d`Agonia.
Madalena Calheiros é de Deão e desde que regressou à freguesia depois de anos de emigração não deixa de participar. Enverga o traje de mordoma, porque é “o mais bonito”. Defensora da manutenção das tradições, Madalena aplaude o rigor no trajar e ourar. “É necessário preservar a tradição e com rigor absoluto. Temos de ser cada uma de nós a respeitar esse rigor”.
Pela primeira vez a desfilar, Patrícia, com 15 anos, leva o traje vermelho de Carreço e cumpre a tradição familiar depois dos mais velhos o terem feito. “Esta é uma tradição da minha família, onde as mulheres participam anualmente. Mas como já são mais velhos calhou-me a mim dar continuidade à tradição”.
“Temos vindo a registar um crescendo no número de inscrições. Este ano não sei se por causa da plataforma online se pela importância que este momento está a adquirir nas festas temos um novo recorde”, referia a vereadora da Cultura, organizadora da festividade. Maria José Guerreiro enaltecia o desfile. “O desfile da mordomia é um momento que os nossos trajes se mostram em todo o seu esplendor, porque temos sobretudo os trajes de luxo”.
Na receção no Salão Nobre da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o autarca vianense mostrava-se orgulhoso pela participação de tantas mulheres enaltecendo que “as nossas mordomas são as rainhas deste dia”. José Maria Costa lembrou Amadeu Costa que foi um dos organizadores do desfile há 50 anos.
No final do trajeto, o Bispo da Diocese, D. Anacleto Oliveira recebeu as mordomas e manifestava a honra de ser convidado para a festa, por mais de 600 mordomas.