À conversa com João Pedro Ferreira

De regresso à 1.ª Divisão Distrital após mais de meia dúzia de épocas distante do principal patamar competitivo da Associação de Futebol de Viana do Castelo, a Associação Desportiva Darquense vai tendo, em 2021/2022, a oportunidade de voltar ao convívio com alguns dos mais fortes emblemas do nosso distrito.

Apesar de um início complexo, de desfechos maioritariamente infelizes (em cinco jogos para o campeonato, contabilizam-se quatro derrotas e uma vitória), realçam-se sensações menos negativas, se dos jogos realizados forem extraídas ilações mais completas e menos dependentes dos resultados finais.

Tais conclusões poderão ser aproveitadas se e quando se analisar a entrevista concedida ao “A Aurora do Lima” por João Pedro, técnico-adjunto de Paulo Monte.

Da conversa com o jovem treinador, pretendeu fazer-se o balanço dos primeiros jogos da temporada. Discutiram-se diferenças e semelhanças competitivas entre primeira e segunda divisão. Abordaram-se virtudes do grupo de trabalho, as correções e as melhorias necessárias. Falou-se de princípios de jogo, de ideias transmitidas. Perspetivou-se o que se deseja.

João, algumas épocas depois, o Darquense regressou à primeira divisão. Até ver, que balanço pode ser feito, cumpridas as cinco jornadas iniciais de campeonato?
O regresso à primeira divisão era algo há muito pretendido pelo clube. Estávamos há sete anos na Segunda e um clube como a Associação Desportiva Darquense tem a ambição de estar constantemente e confortavelmente na Divisão Distrital mais alta. Acabámos por consegui-lo e assumimos o desafio de assegurar a manutenção esta época, o mais cedo possível, mantendo a estrutura do ano anterior. Sobre esta época, ainda não há um grande balanço que possa ser feito. Esta primeira fase tem um formato muito especial, onde os primeiros cinco classificados disputarão a fase de subida, ao fim de nove jornadas, sem qualquer relação em termos pontuais com a fase seguinte. Ora desta forma, as 10 equipas lutam todas pelo mesmo objetivo. No nosso caso, as coisas tornaram-se difíceis este domingo. Mesmo sabendo que o campeonato estava muito equilibrado (diferença de três pontos entre o terceiro e o último classificado), era crucial trazermos a vitória de Távora. Tal não foi possível e agora temos um duplo confronto com dois candidatos à subida (Âncora-Praia fora e receção ao Monção). Enquanto for possível, vamos lutar. O grupo está a trabalhar muito bem durante a semana e estamos a falhar nos pormenores. Acredito que vamos conseguir corresponder ao objetivo proposto, que é o da manutenção.

Em termos competitivos, quais as principais diferenças que poderão ser apontadas entre divisão principal e a segunda divisão distrital? O previsível incremento competitivo tem promovido diferentes formas de encarar as partidas, ao nível da organização, sistema e ideia de jogo?
O maior destaque da primeira divisão em relação à segunda, diria que é o investimento. Um clube como o nosso não tem condições financeiras de disputar atletas com mais qualidade. Não serve nem pode servir de desculpa, mas hoje em dia já praticamente ninguém joga na primeira divisão distrital sem vencimento. Sem querer entrar em comparações, os apoios no nosso caso não chegam para assumir salários a um plantel e corpo técnico. Estamos todos comprometidos a 100% por amor ao futebol. E isso até nos traz vantagens em termos de balneário, pois encaramos cada jogo como um desafio ainda maior. Agora, não vou mentir que gostaríamos de acrescentar qualidade ao plantel. De qualquer forma, penso que este grupo de trabalho nos vai dar mais alegrias do que tristezas, esta época.
Relativamente à alteração de sistema de jogo para jogo, é algo que vamos tentando fazer, sem nunca retirar a nossa identidade. A nossa proposta para esta época é querer jogar futebol e trazer para dentro das 4 linhas a nossa identidade. Claro que dependendo do adversário, haverá um pormenor ou outro que temos em atenção e trabalhamos isso no decorrer da semana de trabalho. Não nos contentamos em defender. Queremos ter bola e jogar o nosso futebol. Nem sempre é possível e muitas vezes a qualidade individual é bastante diferenciada. Em termos de organização das equipas, pelo menos até agora, penso que não está muito longe do que se tem feito na segunda divisão, nos últimos anos. Há cada vez mais qualidade nas estruturas técnicas o que é extremamente bom para o futebol de Viana do Castelo.

Estão detetados os principais aspetos menos positivos e as virtudes da equipa, nestes jogos iniciais? Em duas das derrotas, o ADD esteve mesmo em vantagem no marcador, tendo deixado escapar a hipótese de pontuar. Pode falar-se em falta de experiência ou houve bem mais do que isso nas partidas em questão?
Fomos das primeiras equipas a iniciar a pré-época. Quisemos preparar a equipa e ter algumas variantes no modelo de jogo para responder aos vários desafios táticos dentro de campo. Das cinco jornadas, penso que só fomos surpreendidos na primeira jornada, em Barroselas. De resto, temos tido jogos competentes. Os últimos 15/20 minutos de jogo estão a ser problemáticos. Estamos a trabalhar nisso pois foi aí que perdemos contra o Courense, Piães e agora em Távora. Precisamos de ser mais fortes mental e fisicamente para reagir às adversidades até ao último minuto de jogo. Talvez a experiência seja um dos fatores. Em 23 jogadores, só um ou dois jogaram na Primeira Divisão e sem poder oferecer grandes condições financeiras, o que eles estão a fazer já é enorme. Mas como o compromisso de toda a estrutura sénior é gigante, vamos trabalhar cada vez melhor.

Projetada a manutenção como o principal objetivo para esta temporada, permite-se, a estrutura de futebol do Darquense, almejar algo mais para as épocas seguintes? Consolidar o clube na principal Divisão Distrital está nos planos?
Em relação ao futuro, penso que o objetivo passa por estabilizar a equipa sénior na primeira divisão. Mas para isso, é inevitável o apoio tanto das entidades que o podem fazer como da massa associativa. Tem havido um decréscimo significativo do número de associados nos últimos anos também potenciado pela pandemia e os apoios locais também estão reduzidos pelo mesmo motivo. Acredito que com a recuperação económica e se houver bons resultados, possamos garantir novos sócios. É essencial para a sobrevivência de um clube que não tem praticamente apoio camarário e de instituições públicas. A aposta contínua na formação pode ser um fator importante para estrutura sénior dentro de 4/5 anos. Deixo aqui o apelo sincero a cada leitor Darquense, e não só, para darem algum contributo ao clube, seja a assistir aos jogos, a tornar-se sócio ou até colaborar com o clube. Eu estou a fazê-lo há 3 anos como gratificação de 8 anos de formação como atleta, nos quais nunca me faltaram condições para a prática do futebol e adquiri valores importantes que me fazem hoje um ser humano melhor a vários níveis. Levem os filhos para o desporto, seja ele qual for. Está mais que provado que traz competências e acima de tudo alegria de viver a todos os intervenientes. Da parte do ADD desejo uma boa época a todas as equipas e que a ética no desporto seja a primeira preocupação. Só assim crescemos todos e só assim o futebol em Viana do Castelo pode começar a ser reconhecido no resto do país. Um bom final de ano para todos com muita saúde.

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