Autarca lamenta que São Romão de Neiva seja “esgoto” da zona industrial em Viana de Castelo

O presidente da Junta de São Romão de Neiva, Viana do Castelo, lamentou hoje que a freguesia seja “o esgoto” da zona industrial, afirmando que a população se sente “revoltada” com as constantes descargas poluentes no ribeiro de Radivau.

“A freguesia de São Romão de Neiva é o esgoto da zona industrial. Isto tem de acabar”, afirmou Manuel Salgueiro, referindo-se a mais uma descarga ocorrida hoje.

O autarca socialista classificou esta descarga poluente como a “maior descarga de sempre” no ribeiro de Radivau, junto à segunda fase da zona industrial do Neiva.

O ribeiro de Radivau desagua no rio Neiva, entre Castelo do Neiva, Viana do Castelo, e Antas, no concelho de Esposende, distrito de Braga. No verão, este curso de água é muito frequentado para a prática balnear.

“Hoje a água do ribeiro corre azul. É colorida. Quem é que trabalha com isto? É evidente que toda a gente sabe de onde é que isso vem”, apontou, escusando-se a revelar a unidade fabril que, alegadamente, fará as descargas no ribeiro.

O autarca adiantou ter acionado o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, mas considerou que, “neste caso, o crime compensa”.

“Têm sido feitas denúncias, as autoridades sabem do que se passa, mas o crime compensa porque ninguém faz nada. Os moradores da freguesia estão revoltados com isto”, acrescentou.

Contactada pela Lusa, fonte do município de Viana do Castelo respondeu: “a vereadora do ambiente informa que os serviços estão já a acompanhar a situação para verificar a origem da descarga, num trabalho conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e com o SEPNA”.

Segundo o presidente da junta de freguesia, “há pessoas que têm campos agrícolas ao lado do ribeiro” e que começam a desistir de os cultivar.

“Quando há cheias, as águas contaminam os terrenos agrícolas. As pessoas sentem-se impotentes e estão a desistir de fazer as suas culturas. É um prejuízo para as pessoas”, sustentou.

Em dezembro de 2022, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) informou que os “problemas de poluição” no ribeiro de Radivau “resultam de ligações indevidas à rede de águas pluviais, no troço em que a mesma se encontra entubada”.

Na ocasião, em resposta escrita a um pedido de esclarecimentos enviado pela Lusa na sequência de uma nova descarga, de “óleo e gasóleo”, naquela linha de água que atravessa a segunda fase da zona industrial do Neiva, a APA adiantou que, pelo facto das descargas ocorrerem no troço da rede de águas pluviais que está entubada, é “difícil identificar a origem de todas as descargas”.

Segundo a APA, no âmbito das ações de fiscalização que realizou após as primeiras descargas, que começaram em janeiro de 2022, “identificaram-se situações de rejeição de águas provenientes do separador de hidrocarbonetos sem autorização e práticas suscetíveis de gerar descargas de águas residuais e/ou de lavagens para a rede de águas pluviais”.

“Na sequência destas ações, os estabelecimentos industriais foram notificados no sentido de procederem às respetivas correções”, referiu a agência tutelada pelo Ministério do Ambiente.

A APA, através do seu departamento descentralizado – Administração da Região Hidrográfica do Norte (ARH do Norte), adiantou ter solicitado à Câmara de Viana do Castelo, “como entidade responsável pela rede de águas pluviais, a realização de um diagnóstico pormenorizado do sistema de drenagem de águas pluviais para garantir o seu regular funcionamento, a identificação de afluências indevidas, assim como a limpeza da linha de água, nos locais de estagnação, devido à vegetação existente”.

Aquela entidade admitiu não ter conhecimento da descarga e garantiu que “irá apurar junto das entidades locais, nomeadamente do Núcleo de Proteção Ambiental (NPA) da GNR e do município, informações mais detalhadas”.

Sobre a descarga de hoje, a agência Lusa contactou também a APA e aguarda resposta aos esclarecimentos pedidos.

Lusa

Foto: arquivo

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.