Encontros de Cinema são espaços de “partilha”

Há 21 anos que a Associação AO NORTE dinamiza os “Encontros de Cinema”. Este ano, ao contrário do habitual, acontecem em outubro e novembro. Esta iniciativa é, na opinião do coordenador geral “um momento importante na vida da AO NORTE” e apresenta propostas cinematográficas, formações e entregas de prémios.

Para o próximo mês está agendada uma oficina cinematográfica aberta a toda a comunidade. As inscrições são gratuitas, mas obrigatórias.

Fundada em 1994, a AO NORTE alia a atividade cineclubista à produção cinematográfica, nesse sentido foram também afetados pela covid-19. Carlos Eduardo Viana conta que a pandemia obrigou ao cancelamento da exibição de filmes no Cinema Verde Viana e de várias iniciativas, como o MDOC- Festival de Documentário de Melgaço.

Com os olhos postos no futuro, a AO NORTE pretende fazer uma “série de documentários sobre o património imaterial do Alto Minho”.

Há quanto tempo existe a Associação AO NORTE?
A AO NORTE foi fundada em dezembro de 1994. É uma organização sem fins lucrativos, com sede em Viana do Castelo, que alia a atividade cineclubista à formação, à produção de documentários de caráter etnográfico e social e à fotografia.

Quais as principais atividades que desenvolvem?
Na área da divulgação e do cineclubismo programa cinema contemporâneo de qualidade e ciclos e retrospetivas sobre autores. Promove sessões de cinema semanais, as Sessões Cineclubistas, no Cinema Verde Viana, à segunda-feira, e sessões para as escolas, integradas em contextos de formação e em articulação com os professores. No campo da formação promove cursos e ações de formação junto das escolas. Esta atividade formativa está condensada no projeto “Escolas em Grande Plano” e estende-se pelas atividades formativas Os Lumière na Sala de Aula, CinePoesia, Olhar o Real, Vídeo na Escola, Histórias na Praça e O Filme da Minha Vida. Este último projeto é o resultado de um desafio lançado aos autores nacionais de ilustração e de banda desenhada para criarem uma obra a partir de um filme que lhes tenha deixado memória. Até ao momento já foram editados 26 autores. Este projeto, com direção artística de Tiago Manuel, cruza a banda desenhada e o cinema e é uma proposta editorial com uma evidente carga pedagógica, tendo sido considerado o projeto português mais alternativo tendo como base a ligação da banda desenhada com o cinema (in Expresso, 24/10/2009). No campo da produção, realiza documentários de carácter etnográfico e social. Nesta área concordamos com o realizador chileno Patricio Guzmán, quando afirma que um país sem documentários é como uma família sem álbum de fotografias. O grande esforço, a este nível, tem como objetivo dotar a região onde trabalhamos com esse álbum sobre o território e a sua identidade. Até ao momento, a AO NORTE produziu trinta e três documentários. No âmbito da educação para o desenvolvimento também realizou, em colaboração com o Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimento da Escola Superior de Educação de Viana do Castelo, da ONGD Rosto Solidário e dos Leigos para o Desenvolvimento, documentários em Cabo Verde, Angola e Moçambique.

Os Encontros de Cinema, que habitualmente faziam em maio, mas que transferiram para outubro devido à pandemia, são a principal atividade?
Na área dos festivais, Os Encontros de Cinema de Viana são uma das atividades que a AO NORTE realiza há 21 anos. Promove também, desde 2011, o Montaria-Documentário e Património, em colaboração com a Junta de Freguesia da Montaria e, desde 2014, o MDOC-Festival Internacional de Documentário de Melgaço, em parceria com o município de Melgaço. Como atividades principais será de destacar também o projeto Escolas em Grande Plano, que tem sido implementado nas escolas do concelho de Viana do castelo, as sessões cineclubistas semanais e a atividade da Oficina de Fotografia.

Esta é a XXI edição. O que tem de diferente das anteriores?
Os XXI Encontros de Cinema integram um conjunto de atividades que consideramos serem as atividades estruturantes desta iniciativa: a Conferência Internacional de Cinema, o Prémio PrimeirOlhar, o Ação! Festival de Vídeo Escolar, a Escola no Cinema, o Encontro Luso-Galaico de Cineclubes, o Cinema Dentro e as Histórias na Praça. A par destas atividades são propostas várias ações de formação que se destinam a um público-alvo desde o pré-escolar ao ensino superior, aos professores e ao público em geral.
Como novidades desta XXI edição, destaco o Ciclo Olhar a Leste, que reúne sete documentários recentes da Rússia, Bielorrússia, Alemanha, Polónia e Roménia, e pretende contribuir para uma reflexão sobre as mudanças operadas no mundo pós-soviético. A Conferência Internacional de Cinema, a par das áreas temáticas que já existiam, Cinema e Escola e Cinema: Arte, Ciência e Cultura, lançou uma nova proposta, Fotografia e Memória, que pretende acolher fotógrafos, investigadores nas áreas da fotografia, arquivos fotográficos e antropologia visual, assim como demais praticantes e ativistas culturais que vêm a fotografia como meio ou fim de reflexão e pesquisa. Ainda no âmbito da Conferência vai realizar-se, pela primeira vez, uma iniciativa inédita em Portugal, a que chamamos Working in Progress, um Seminário de apresentação e discussão de projetos de Mestrado e Doutoramento nas áreas do cinema e do audiovisual. Os mestrandos e doutorandos terão a oportunidade de discutir as suas investigações e confrontá-las com observações e recomendações de respondentes de instituições do ensino superior portuguesas e internacionais. Outras novidades são a ação de formação de curta duração para professores O Garoto Faz 100 Anos, organizada com o objetivo de celebrar o centésimo aniversário do filme O Garoto de Charlot, de Charles Chaplin, uma referência universal na história do cinema, realizada em parceria com o Centro de Formação Contínua de Viana do Castelo e a ação de formação A Narrativa no Cinema, organizada em colaboração com a Escola Superior de Educação de Viana do Castelo, com o objetivo de mostrar várias formas de contar histórias com imagens e de como se “escreve” com a câmara de filmar.

O que pretendem com a realização destes “Encontros”?
Os Encontros de Cinema são um momento importante na vida da AO NORTE porque são uma espécie de corolário de toda a atividade desenvolvida ao longo de um ano. É um espaço que, apesar da aposta na mobilização dos mais jovens, reúne um conjunto plural de públicos para proporcionar um espaço de divulgação, partilha, de debate e de formação, que junta estudantes de cinema e das escolas de região, cineclubistas de Portugal e da Galiza e público em geral, e a participação ativa de investigadores de profissionais do cinema.

Com mais de 20 anos de experiência, que balanço fazem?
Embora mantenha os objetivos para que foram criados, os Encontros de Cinema foram evoluindo ao longo das sucessivas edições. A sua programação, sempre dinâmica, vai sofrendo as transformações que a avaliação de cada edição exige. O número de participantes e a adesão aos Encontros permite fazer um balanço muito positivo, e as diversas reações que vamos colhendo deixa-nos concluir que esta iniciativa, dedicada à capacidade formativa e pedagógica do cinema, é uma experiência única no meio cultural da região e do país. A título de exemplo, refira-se uma das iniciativas realizadas no âmbito dos Encontros, a Conferência Internacional de Cinema de Viana, que permitiu à AO NORTE criar uma rede internacional de cooperação com universidades de Portugal, Espanha e América Latina. Foi também a partir da Conferência, que foi criado o Grupo de Estudos de Cinema e Narrativas Digitais, coordenado pelo professor José da Silva Ribeiro, e que hoje integra o ID+, Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura, uma estrutura de investigação ancorada em três instituições: a Universidade de Aveiro (Departamento de Comunicação e Arte) [UA/DeCA], a Universidade do Porto (Faculdade de Belas Artes) [FBAUP] e o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (Escola Superior de Design) [IPCA/ESD].

Em novembro terão, integrado nos “Encontros”, uma oficina cinematográfica. É aberta a todo o público? Como é que as pessoas se podem inscrever?
A oficina de novembro, Ideogramas Animados: Stopmotion Com Smartphone, orientada por Sérgio Nogueira, consiste numa iniciativa formativa de animação experimental com recurso a dispositivos móveis (smartphone ou tablet). Os participantes irão realizar experiências de animação a partir de cubos de papel cujas faces serão caracterizadas com ideogramas. Estes cubos serão partilhados entre os participantes para, no fim, se criarem poemas visuais em animação. Esta atividade tem como público-alvo os jovens que frequentam o ensino secundário e o superior e, à semelhança das outras oficinas propostas, a inscrição é gratuita.

No dia 30 e 31 de outubro terão um encontro de cineclubes. Qual a razão para este evento?
O Encontro Luso-Galaico de Cineclubes, organizado regularmente durante os Encontros de Cinema, junta cineclubes portugueses e galegos e é um momento de debate e reflexão sobre questões ligadas ao cinema e às práticas cineclubistas. O Encontro de 2021 tem como tema Cinema e Cineclubes Pós-Pandemia e procura descobrir qual foi o impacto da COVID na programação e na atividade cineclubista e como se têm adaptado os cineclubes e as salas independentes a esta mudança e à pandemia. Além de cineclubes portugueses e galegos conta, como convidados, entre outros, João Paulo Macedo, Presidente da Federação Internacional de Cineclubes, Laura Godoy, da Rede de Cineclubes do Equador, Pablo Sancho Paris, da Federação Catalã de Cineclubes, Vítor Ribeiro, do Close Up-Observatório de Cinema, Tiago Santos, da Casa do Cinema de Coimbra, Elena Garcia Román, da Federação de Cineclubes da Galiza, Leonor Pires da Federação Portuguesa de Cineclubes, Isa Mateus, da Secretaria de Cine e Educação da FICC, Américo Santos, do Cinema Trindade e da Nitrato Filmes, Tiago Manuel, artista plástico e João Ramalho Santos, cientista, crítico e crítico de BD. Destaque ainda para a presença de Samuel Barbosa para apresentar o documentário A Távola de Rocha, o filme documentário que realizou e que propõe um reencontro espácio-temporal de todo o trabalho de fundo que existe nos filmes do realizador Paulo Rocha, e do produtor Rodrigo Areias.

Tem um protocolo com o estabelecimento prisional de Viana. Em que consiste?
O protocolo celebrado entre a Asso­ciação AO NORTE e o Estabelecimento Prisional de Viana do Castelo tem como principal objetivo promover a prática e a cultura audiovisual em contexto prisional, sensibilizando os reclusos para a utiliza­ção do vídeo como ferramenta criativa, e o favore­cimento de encontros e a troca de experiências e ideias entre reclusos e profissionais do audiovisual e do cinema. Neste contexto, será exibido durante os Encontros o documentário “Entre os Montes”, de Filipe Reis, Filipe Ferraz, Adérito Monte e Antónia Monte
A exibição contará com a presença de Filipe Reis e Adérito Monte e será seguida de um debate com os reclusos.

Em parceria com a CIM Alto Minho realizaram 10 documentários. Foi um por cada concelho do distrito? Quais as temáticas abordadas?
Os documentários produzidos para a CIM Alto Minho viajam por diferentes períodos da história do território, querem dar a conhecer aspetos da identidade cultural da região e divulgar bens patrimoniais que são testemunhos de um passado coletivo. Com início na Pré-história, com o megalitismo e a arte rupestre, percorrem a cultura castreja, a romanização, o românico, o barroco, os mosteiros, as fortificações e as arquiteturas tradicionais. Com a colaboração de consultores científicos nas várias áreas temáticas trabalhadas, os documentários são um contributo para a divulgação do património cultural do Alto Minho.

Como é que a Covid-19 os afetou?
Na AO NORTE o impacto foi grande porque a atividade da Associação exige a proximidade e o contacto com as pessoas. A pandemia obrigou ao cancelamento durante meses das sessões cineclubistas, ao encerramento da Sede, do centro de Documentação de Cinema e da DVDteca, obrigou ao cancelamento da edição de 2020 do MDOC- Festival de Documentário de Melgaço e ao projeto Cinema Dentro, levou à reprogramação dos XX Encontros de Cinema e à sua realização online e à suspensão, durante quase um ano letivo, do projeto Escolas em Grande Plano. A suspensão e o cancelamento destas atividades tiveram uma repercussão imediata nos apoios financeiros que foram atribuídos.

A comunidade vianense interessa-se pela temática cinematográfica?
O facto da atividade da AO NORTE ter vindo a aumentar ao longo dos anos é uma prova do interesse pela oferta que disponibiliza na área do cinema.
As sessões cineclubistas semanais mantêm a sua regularidade sempre com público interessado, e a oferta formativa destinada às escolas é insuficiente para a procura.

Sabemos que muitos realizadores escolhem Viana como cenário de filmes. Como veem o crescimento destas ações? Acham que se poderia fazer mais?
A procura de Viana para filmar reveste-se do maior interesse para a cidade e a região. A rodagem de um filme dinamiza a economia local ao nível do alojamento e da restauração e permite a divulgação do território, o que se pode traduzir numa maior procura turística.

Quais os projetos para o futuro?
Considerando o futuro próximo, a preocupação passa pela digitalização da projeção no cinema Verde Viana, a divulgação nas escolas do projeto Escolas em Grande Plano, a organização dos XXII Encontros de Cinema de Viana no mês habitual, maio, o lançamento da 8.ª edição do MDOC-Festival Internacional de Documentário de Melgaço e a preparação, pela Oficina de Fotografia, da segunda edição do RE.VER, uma iniciativa que propõe Viana do Castelo como centro de uma nova plataforma de pensamento sobre o ato fotográfico. Ao nível da produção estamos a trabalhar numa proposta de realização de uma série de documentários sobre o património imaterial do Alto Minho.

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