Evocar o padre Domingos Afonso do Paço

A comunidade carrecense em boa hora quis evocar o padre Domingos Afonso do Paço na passagem do centenário da sua chegada a Carreço. Para tal as forças vivas de Carreço, paróquia de Santa Maria; Sociedade de Instrução e Recreio; Junta de Freguesia e um familiar do homenageado organizaram uma  evocação marcada para o dia 04 e 05 de dezembro. No dia acontece a celebração eucarística às 16 horas e no dia 05, às 15h, na SIRC tem lugar a sessão solene e a abertura da exposição.

É através das narrativas do Doutor José Luís Branco que temos acesso a grande parte das fases da vida do padre Domingos, bem-haja Doutor Luís Branco por em boa hora o ter feito. Descanse em paz.

O padre Domingos nasceu no século XIX, no dia 29 de janeiro de 1882, no lugar do Paço da freguesia de Outeiro, Viana do Castelo. Com 25 anos de idade, concluiu o Curso de Teologia nos Seminários de Braga com uma alta classificação. Como capelão militar fez parte do Corpo Expedicionário Português a França, na Grande Guerra de 1914 a 1918, regressou a Portugal em fins de novembro de 1919. Pouco tempo passado assumiu a presidência da Juventude Católica de Viana do Castelo e tomou conta da redação do Jornal “A União”. Em 1920, a 13 de novembro, por escrutínio secreto, é eleito, por unanimidade, capelão-mor da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo. No entanto, o seu grande desejo era ser pároco, ter uma freguesia onde pode desenvolver o seu ministério sacerdotal. Em 31 de outubro de 1921 pede a sua exoneração do cargo de capelão-mor da Santa Casa para seguir a vida paroquial. Aceite a exoneração é nomeado pároco da paróquia de Santa Maria de Carreço.

O padre Domingos desembarcou na estação de Montedor, hoje chamada de Carreço, na manhã do dia 04 de dezembro de 1921. Era domingo e à espera estava a maioria dos homens da freguesia que lhe apresentaram cumprimentos de boas-vindas, ao som do repique festivo dos sinos e o estralejar dos foguetes acompanharam-no até ao adro apinhado de gente que o esperava.

Nesse tempo, a igreja paroquial encontrava-se em deplorável estado de degradação, a sua principal preocupação foi restaurar e alindar a mesma. Simultaneamente com as obras e restauro da igreja seguiam as obras da residência paroquial. Em 1922 comprou parte do passal e no ano seguinte começou a canalizar para o passal a água das Fontelinhas.

No entanto, ao padre Paço interessava sobremaneira a promoção religiosa e cultural dos paroquianos. Se na parte religiosa as solenidades das 40 horas mereciam-lhe sempre particular atenção, mas para surtirem efeito convidava oradores cultos e zelosos para as pregações e conferências. No tríduo, de 15 a 18 de fevereiro de 1923, houve cerca de 1200 comunhões. Segundo o próprio: “é extraordinário para esta freguesia, cuja fama é de ser uma das mais rebeldes”.

Era assim que o bondoso padre Domingos servia a sua Igreja na promoção religiosa do seu povo, mas ele tinha outra ambição que era também servir a Igreja e o seu povo pela promoção cultural. Em abril de 1922 depois de haver entendido com a Direção da Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço, ofereceu-se para dar gratuitamente aulas de Português e Francês. Não lhe faltaram alunos assíduos e interessados. A Direção da Sociedade, reconhecida pelos relevantes serviços prestados, propô-lo para sócio de Mérito, sendo esta proposta aprovada por aclamação, na assembleia geral de 16 de dezembro de 1922. A este curso de Português e Francês juntaram-se mais tarde as disciplinas de Matemática e Música, também lecionadas por ele.

O padre Domingos do Paço era uma alma generosa e aberta. Em Carreço orientou a ação pastoral no sentido de elevar o nível religioso do seu povo, patrocinou a instrução e a cultura para valorização desse mesmo povo, em especial da juventude, mas também fomentou o progresso material da freguesia. Para além das obras de remodelação e acabamento na igreja e na residência paroquial, a ele se devem melhoramentos de vulto, como a escola primária, cujas obras administrou diretamente, a eletrificação da freguesia, a canalização da água para Montedor, abertura de novas vias de comunicação, como a Avenida de Paçô e alargamento de caminhos antigos.

A Sociedade de Carreço com o intuito de perpetuar a obra ímpar do padre Domingos fundou o Convívio Padre Paço, cujo regulamento foi aprovado em Assembleia-geral da Sociedade, em 05 de fevereiro de 1966. O seu objetivo principal era continuar a obra renovadora do padre Domingos Paço por meio de cursos, conferências, música em qualquer das suas modalidades, teatro, literatura, e outras manifestações conducentes à elevação do nível cultural da gente de Carreço, conforme se lê no art.º 2º do citado regulamento. Como bem sabemos infelizmente, o Convívio Padre Paço sessou a sua atividade em 08 de março de 1968, após uma assembleia conflituosa que levou o seu autor, Manuel Enes Pereira a abandonar a Sociedade.

Amava o povo de Carreço a tal ponto que, tendo sido insistentemente convidado pelo seu grande amigo Bispo de Beja para se incardinar na sua diocese em ótimas condições, não acedeu aos convites economicamente aliciantes, desculpando-se com a doença da irmã Joaquina. Falecida esta, aquele prelado voltou a insistir, mas ele escusou-se definitivamente, pois sentia que não podia ser arrancado de Carreço onde tinha criado raízes profundas.

O senhor padre Domingos Afonso do Paço, após doença prolongada, faleceu no dia 07 de setembro de 1939, quando contava 57 anos de idade e 18 a paroquiar Carreço. Pelas raízes tão profundas que tinha efetivamente à sua paróquia quis ficar sepultado no cemitério de Carreço. Obrigado padre Domingos pela grande obra pastoral e social operada em Carreço. Este povo continua a não esquecê-lo. Descanse em paz.

Atividade da SIRC 

A direção da Sociedade de Instrução e Receio de Carreço atenta à evolução favorável para retomar a realização de eventos, em virtude do decréscimo da pandemia de Covid-19, isto é, podendo efetivamente trabalhar, programou a partir do final de outubro a realização de vários eventos para variados gostos.

Assim para novembro/dezembro já realizaram na noite do dia 30 de novembro, véspera do feriado, uma sessão musical que relembrou os êxitos dos anos 80/90 que marcou gerações, foi através de uma viagem que fez o Dj Brás! 

No dia 05, decorre a sessão solene e a abertura da Exposição da Evocação do padre Domingos Afonso do Paço. 

Na véspera do feriado do dia 08 de dezembro, novamente uma noite de animação, desta vez dedicada às gerações mais novas com a batida forte do Dj Duffeinz! Eis um bom motivo para os jovens aparecerem e não só.

Aqui temos bons e variados motivos para frequentar a nossa Sociedade, coletividade que apesar de centenária, está ativa e à disposição de todos os gostos. 

Oxalá a pandemia não nos volte a condicionar toda a nossa convivência em sociedade e que a ameaça agora manifestada de nova vaga, não passe além disso mesmo.  

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