Ex-alunas do IPVC fazem ação de voluntariado em África

Catarina, Joana e Mafalda, ex-alunas da Escola Superior de Educação (ESE) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) participaram, este verão, numa missão de voluntariado na Guiné-Bissau. As jovens, que se conheceram entre os cursos de licenciatura em Educação Básica e o de mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico na ESE-IPVC, confidenciaram que há muito tinham o “bichinho” de fazer uma missão deste género. Catarina já tinha tido a experiência e, desta vez, convenceu as amigas a abraçarem esta causa e a seguirem viagem juntas na primeira quinzena de agosto. Agora que regressaram a casa, depois desta “oportunidade única”, todas querem voltar. “Sentimos que fizemos mesmo a diferença junto de educadores e professores”, confirmaram.

As alumnae da ESE-IPVC mantêm a amizade desde que se cruzaram nos corredores da Escola Superior de Educação do Politécnico de Viana do Castelo. Terminaram o mestrado em 2018 e hoje as três jovens estão “realizadas e felizes”, a trabalhar na área na qual se formaram e a fazerem o que gostam.

 

Catarina Oliveira – “Sentimos que fizemos mesmo a diferença junto de educadores e professores”

Depois de terminar o mestrado, Catarina Oliveira regressou a Vila Nova de Famalicão. A jovem, que tem um centro de estudos, sempre quis fazer missões de voluntariado em África, tendo dedicado a tese de mestrado à temática “Educação para o Desenvolvimento”. Nesse mesmo ano, Catarina Oliveira teve conhecimento que a Associação HumanitAVe – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, com sede em Vila Nova de Famalicão, estava à procura de professores para dar formação a professores guineenses e o “sonho” concretizou-se em 2019. “Desde então sou voluntária da associação, que atua nas áreas da saúde e da educação”, contou a jovem, adiantando que mesmo à distância vários professores se juntam e trabalham para a angariação de material escolar e até de manuais. Em 2020, Catarina tinha tudo preparado para repetir a experiência, mas a pandemia não permitiu.

A atuar no setor de Bigene, na região de Cacheu, na zona norte que faz fronteira com o Senegal, a HumanitAVe foi convidada pela Diocese de Guiné-Bissau para dar formação aos melhores professores de cada escola. “Eram necessários educadores para o pré-escolar, professores do 1.º ciclo, professores de Português e de Matemática do 2.º e 3.º ciclos e professores bibliotecários”, recordou a jovem, que acabou por convidar as amigas Mafalda e Joana a abraçarem esta causa.  “Tentamos sempre colocar em missões pessoas que já tenhamos confiança para que tudo corra bem”, referiu a ex-aluna da ESE-IPVC, admitindo que foi “uma experiência maravilhosa”. Catarina espera ter oportunidade de continuar a fazer voluntariado.

Joana Cacais – “A nossa missão não foi só levar material, mas dar ferramentas para ajudar a mudar”

Joana Cacais mora em Viana do Castelo e dá aulas ao 1.º ciclo no Colégio do Minho. Quando a amiga lhe lançou o desafio, a jovem aceitou de imediato.  Escuteira e catequista na paróquia do Senhor do Socorro, Joana sempre teve o “bichinho” de fazer voluntariado em África, por isso, nem hesitou. “Não foi fácil preparar esta missão e acabei por ir muito apreensiva. Sabíamos que as pessoas tinham vontade de aprender, mas não têm os recursos que nós temos. Tivemos que pensar muito bem nos conteúdos e o que poderíamos fazer com o material que conseguimos levar”, sublinhou. No final, a experiência junto de 31 educadores guineenses acabou por “superar as expetativas”. “Muitos dos educadores tinham conhecimento de um material ou outro, mas falta a parte do método pedagógico. Eles ainda resolvem os conflitos com as crianças à moda antiga, a ralhar e a bater e, por isso, tivemos que trabalhar mais nessas ferramentas”, relatou Joana Cacais, acreditando terem deixado ferramentas para ajudar os educadores a fazerem e a serem diferentes. “A visão que têm do ensino é diferente da nossa. A nossa missão não foi só levar material, mas dar ferramentas para ajudar a mudar. Não faz sentido chegar lá e deixar apenas material e vir embora”, defendeu a jovem voluntária.

A ex-aluna da ESE-IPVC diz que nunca mais vai esquecer a pobreza que viu na Guiné-Bissau. “Por muitas fotografias que vejamos e conversas que tenhamos com pessoas que já foram à Guiné-Bissau, só quando se está lá é que se tem a noção da realidade e isso dói.  É uma realidade muito dura”, confirmou Joana Cacais, admitindo que regressou a casa com um sentimento misto. “Senti o dever cumprido, mas eu vim embora para o meu conforto e eles continuam lá e precisam de nós isso dói-me muito”, lamentou. Realidades “tão diferentes” da nossa deixaram a jovem vianense “completamente chocada”. “Um dia vimos uma mulher desmaiada que tinha acabado de dar à luz e foi levada de motorizada ao hospital por dois homens. O bebé morreu e ninguém já sabia dele”, recordou emocionada, lembrando ainda a visita que fez a um orfanato em que “crianças com paralisia cerebral, que tinham sido abandonadas, passavam os dias deitadas sem fazer nada”.

Quando partilha as histórias vividas nesta missão, Joana nunca esquece outro episódio que a “marcou profundamente”. A voluntária estava a recortar papel e colocou os restos no caixote do lixo. Uma das educadoras foi ao lixo apanhar aqueles bocadinhos de papel. “Na Guiné o lixo é luxo”, disse a educadora a Joana que ficou sem reação. “Ainda bem que fui. Quero regressar, mas ainda não sei quando”, confirmou a ex-aluna, garantindo que foi “muito bem-recebida” e “nunca” se sentiu insegura. “Trataram-nos muito bem e senti que aquelas pessoas eram muito agradecidas. Apesar da pobreza, as pessoas são muito felizes, do pouco fazem muito”, constatou a jovem, confirmando que “a Joana que foi não é a mesma que voltou”.

Mafalda Liz – “As pessoas são extremamente felizes e bondosas com tão pouco”

Mafalda Liz, que trabalha como educadora de infância na Santa Casa da Misericórdia de Vizela, conheceu a Catarina e a Joana quando ingressou no mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º ciclo do Ensino Básico da ESE-IPVC. Tal como as amigas, Mafalda tinha o sonho de um dia participar numa missão de voluntariado. “Na verdade, sempre pensei integrar uma missão de voluntariado na América do Sul, mas quando surgiu esta oportunidade aceitei o desafio e como ia com duas amigas tudo seria mais fácil”, recordou. Apesar de ir com “poucas expetativas”, Mafalda sabia que “ia gostar”. “Foi uma experiência muito gratificante. As pessoas são extremamente felizes e bondosas com tão pouco”, assegurou a voluntária, garantindo que temos muito a aprender com os guineenses.

Sobre a experiência profissional, Mafalda confidenciou que sentiu “alguma dificuldade em comunicar com os educadores”. “Tivemos que perceber a realidade deles, sendo que das 30 pessoas que estavam a receber formação, acho que só uma ou duas é que tinha licenciatura. Entender esta realidade foi desafiante, porque é uma realidade incomparável”, confessou a jovem, admitindo, no entanto, que cumpriu a missão. “Sentimos que mudamos um bocadinho daquela realidade, fizemos a diferença. O país precisa de mais formação e educação e que digam às pessoas que há outras maneiras de viver”, apelou Mafalda Liz, confirmando que “a única certeza” que tem depois de regressar a casa é que vai lá voltar.

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