Maio é sinónimo de fé, de flores e alegria. É o mês de Maria, da Senhora do Rosário e de festa, da Festa das Rosas.
Maio é significado de uma grande azáfama, de um constante vai e vem, principalmente junto das famílias em que um ou mais elementos têm participação na festa do seu coração, a festa maior, a rainha da aldeia e uma das maiores do concelho de Viana do Castelo, quiçá do Alto Minho. A envolvência local, a grande variedade de ofertas colocadas à disposição dos visitantes e o gostar e saber receber bem, são atributos que levam dezenas de milhares de pessoas a deslocarem-se a esta risonha e simpática freguesia do norte de Portugal, para se deliciarem com um programa festivo, de “encher o olho”, com que são presenteadas.
O presente ano, 2020, não foi assim! O grande perigo causado por um inimigo oculto e traiçoeiro levou ao cancelamento da Festa das Rosas. Fez com que a alegria e a euforia, que todo o bom vilafranquense sente nesta época do ano, fossem adiadas para 2021.
Para desgosto da população, a Festa das Rosas, cuja realização ocorre no fim de semana correspondente ao segundo domingo de maio e que este ano seria nos dias 08, 09, 10 e 11, não foi de festa. O momento que se vive impediu as gentes de Vila Franca de “virem para a rua”, de exteriorizarem toda a sua alegria, o seu brio na Festa das Rosas, mas não conseguiu tirar-lhes o sentimento, o orgulho da sua festa.
Devido a uma louvável decisão da Comissão de Festas, em perfeita harmonia com a Confraria da Srª do Rosário, as celebrações foram muito limitadas, resumindo-se à realização de alguns pequenos atos, pequenos na aparência, mas de enorme significado para quem os realizou e para toda a comunidade local.
No domingo, 26 de abril, pelas 12 horas, já não se tinha ouvido o rebentar de foguetes, isto porque não se procedeu ao hastear da bandeira. Havia decisões superiores que impossibilitavam a realização das festividades.
CERIMÓNIAS CANCELADAS
Contrariamente ao usual, na sexta-feira, dia 08 de maio, não houve arraial minhoto ou o costumado “festival da juventude”, não houve feira de diversões ou abertura de qualquer exposição temática, nem se pode assistir à sessão de fogo de artifício. Houve sim, um enorme silêncio, como costuma dizer-se: um silêncio demasiado ensurdecedor. Um silêncio nada fácil de assimilar pelos vilafranquenses, mas que, de forma responsável, para seu bem e para bem do seu semelhante, foram e se sentiram, obrigados a cumprir.
O sábado, dia 09, amanheceu triste e chuvoso e assim se manteve até à noite. Parecia compreender o estado de alma dos habitantes da freguesia. Triste como que solidário com as mordomas, principalmente com as que, desde pequeninas, tinham o sonho de, quando chegasse esse grande momento, oferecer o cesto à Srª do Rosário e assim se viram privadas dessa honra e alegria. Também não houve a tradicional apresentação de cumprimentos às autoridades, nem os concertos musicais pelas bandas ou bombos e zés pereiras. Não aconteceu o cortejo das rosas votivas onde, no final, os cestos floridos, as autênticas obras de arte levadas à cabeça pelas mordomas, eram oferecidas à Srª do Rosário. Não se pôde assistir ao arraial minhoto, à feira de diversões, ao festival da juventude ou ao “super rosas”, iniciativa de animação noturna.
Além de não se verem ornamentações junto à igreja e de não se ouvir qualquer tipo de música festiva difundida pelas instalações sonoras, também não foi possível assistir ao XXXVIII festival de folclore, organizado pela Associação Cultural e Recreativa de Vila Franca, à sessão de fogo de artifício, à segunda sessão do “super rosas”, ou ao espetáculo noturno, sempre abrilhantado por um artista contratado para o efeito. Mas, em contrapartida, procedeu-se à ornamentação da igreja de uma forma mais simples, mas mantendo o elevado perfil de dignidade. Pensando ser esse o sentimento dos vilafranquenses, a Comissão de Festas não quis deixar de expressar o seu sentimento, a sua devoção à Srª do Rosário, colocando um painel à porta (fachada) da igreja, onde exprimiam a sua enorme crença interior, uma painel onde se podia ler: “A FORÇA DE UM POVO DENTRO DE UM CESTO DE ROSAS”. A frase inserida no cartaz da festa para este ano.
No chão, em frente à igreja, foi desenhado um coração com flores, predominantemente rosas, e colocada uma cruz. Da torre da igreja descaía um rosário, como que a lembrar o rosário de Fátima ou o rosário de dificuldades que constitui a vida humana.
TRANSMISSÃO ONLINE
O domingo, dia 10, apareceu solarengo, airoso e desafiador, o que, sendo considerado o dia maior da festa, foi, também, assumido como o de maior nostalgia. Na manhã desse dia, sentiu-se a falta da multidão, o nervosismo com que as pessoas se preparam para a celebração da solene eucaristia onde se daria a consagração das mordomas e mordomos e a entrega a cada um, pela confraria da Srª do Rosário, de um rosário, testemunho solene da honrosa condição de mordoma(o). Sentiu-se a ausência das bandas de música, da atuação noturna de grupos musicais ou da sessão de fogo de artifício e, com um maior aperto no coração, sentiu-se a falta da solene procissão, o momento mais alto das festividades, aquele em que desfilam os andores, como o da Srª do Rosário transportado pelos mordomos e alguns ajudantes, onde desfilam dezenas de figurantes e onde as mordomas, galharda e orgulhosamente, exibem, perante os muitos milhares de admiradores, os seus cestos floridos, as suas autêntica e magnificas obras de arte.
É verdade que não tivemos a possibilidade de viver estes momentos tão marcantes, mas vivemos outros mais simples, mais singelos e muito mais restritos, mas de grande simbolismo e enorme valor sentimental. Observando todas as regras vigentes, transmitida para a freguesia através das amplificações sonoras da igreja paroquial e com cobertura televisiva sob responsabilidade da Viana TV – Televisão Independente de Viana do Castelo, pelas 10h30, o Revmo. Padre José Luís Esteves do Couto, pároco da freguesia, procedeu à celebração da eucaristia, brilhantemente acompanhada pelo quarteto vilafranquense de música de câmara, 4 PorArte.
A segunda-feira não contou com a exposição dos cestos floridos, com a eucaristia ou a procissão. Não se realizou o tradicional feirão, organizado pelos responsáveis da EB1 e do JI de Vila Franca, que costuma contar com a participação ativa dos alunos.
Como não houve Festa das Rosas, também todas as entidades que, terminadas as festas, gostavam e assumiam a responsabilidade por uma digna exposição dos cestos em espaços de variada índole, este ano viram-se privadas dessa mais valia.
Finalmente, no próximo domingo, também não se poderá apreciar os andores e cestos floridos das crianças, devido às regras implementadas para combater este manto cinzento que se abateu sobre o planeta.
NÃO É INÉDITO
Tudo isto acontece este ano, em 2020, mas, quando for vencido este inimigo, quando tudo voltar ao normal, voltar-se-á a fazer a Festa das Rosas, dentro dos altos pergaminhos a que a comunidade se habituou e acostumou todos quantos a visitam!
A não realização da Festa das Rosas não é um facto inédito. Não é a primeira vez que isto aconteceu pois, já em 1975, embora por motivos diferentes, não se realizaram as festividades. Aliás, o, autor destas letras, que era mordomo nesse ano, serviu a mordomia no ano seguinte, em 1976. Também agora, como nessa altura, foram feitos dois pequenos cestos floridos. Os de então colocados no cemitério em homenagem ao padre António Quesado, falecido no dia 01 do mês anterior, os de agora colocados sobre o altar da Srª do Rosário e junto ao altar-mor.
EM 2021 SERÁ DE SUCESSO
Ninguém vai perder a calma e todos vão ganhar ânimo. Esta é uma terra onde a rosa é rainha. Rainha de uma comunidade que não se dá por vencida, que não se deixa abater por uma contrariedade, mesmo de enormes dimensões.
As mordomas e mordomos, bem como as respetivas famílias, a Comissão de Festas e Confraria da Srª. Do Rosário, as equipas de bordadores e a todos os que contribuem para o engrandecimento da Festa das Rosas, são merecedores do reconhecimento de todos, de um voto de confiança e encorajamento para que, juntos, em perfeita paz e harmonia, consigam conciliar posições e alcançar as melhores soluções para que a Festa das Rosas em 2021 seja um sucesso. Para que, no final, como escreveu Fernando Pessoa, possamos dizer: “Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena./ Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor./ Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu”.