“Limitações financeiras impedem-nos de proporcionar mais momentos de lazer”

Tiago Castro, presidente da direção da Casa dos Rapazes e Helena Barros, diretora técnica da Instituição fazem um retrato da Instituição, que completa este ano 70 anos. 

Fundada pelo padre Constantino, a Casa dos Rapazes surgiu com a missão de acolher “rapazes pobres”. Hoje a carência económica não é a principal razão do acolhimento, por isso as respostas têm de adaptar-se aos casos que vão surgindo.

O projeto a iniciar em breve “apartamentos de reintegração” surge para ajudar os rapazes que passaram pela Instituição a terem “apoio numa fase de alguma fragilidade”, que acontece quando termina a passagem daqueles pela Casa.

O presidente da direção tomou posse há um ano e revela o apoio da comunidade vianense à Instituição e pretende que os jovens acolhidos se integrem mais, seja respondendo às ofertas dos clubes desportivos, seja a participação em outras iniciativas.

Destacando a componente económica como a principal dificuldade, Tiago Castro olha para o futuro e fala do projeto com o IPVC para remodelar alguns espaços comuns. Para isso, contam com os apoios da comunidade. Este mês vão precisar de padrinhos para remodelar quartos e salas comuns.

A Casa dos Rapazes existe desde 1952. Qual a principal função desta instituição?

Esta Instituição dedica-se ao acolhimento e à proteção de crianças e jovens em risco, desde 1952.

Com que objetivo foi criada?

Foi criada para ajudar os “meninos da rua”, na altura com muitas carências económicas. Em 52 começou a funcionar só em regime diurno. Durante muitos anos funcionou com sistema de voluntariado. O fundador, o padre Constantino, juntamente com várias senhoras ligadas à obra social da Igreja juntaram-se, de forma voluntária, para criar a instituição. Ao longo dos anos foi evoluindo e a partir de 82 começou a ter apoio do Estado.

Atualmente é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS’s).

Sim, que se dedica ao acolhimento e proteção de crianças em risco. Atualmente é apoiada pela Segurança Social.

Quantos rapazes estão integrados na Instituição?

Temos 23. Existem duas respostas sociais.Quais são?

Temos a Casa de Acolhimento, com 18, e onde estão jovens entre os seis e os 18 anos. E nos Apartamento de Autonomização, cinco rapazes. Para estarem integrados nesta valência têm de ter mais de 18 anos até aos 25 anos. Nesta valência, a regra é estarem a trabalhar ou a estudar.

Quando estão integrados nesta última valência, é a Casa do Rapazes que suporta todas as despesas?

Os apartamentos incluem-se na medida que o Estado apoia a Instituição. Os rapazes já têm alguma autonomia e há uma técnica que faz o acompanhamento. Quando o projeto de vida passa pela autonomização faz todo o sentido passarem pelos “Apartamentos” e quando é a reintegração familiar ficam na “Casa” e depois seguem para o seio familiar. Os Apartamentos de Autonomia tem capacidade para 10 pessoas e a Casa para 46.

São maioritariamente do distrito?

Nós temos, neste momento, um jovem de Lisboa. Mas o que a Segurança Social defende é colocar os jovens na sua área de residência para permitir um trabalho de proximidade com as famílias. Após o acolhimento do jovem, normalmente, define-se o objetivo de trabalhar a relação com a família, com a exceção dos casos em que tal não é recomendável. 

Há casos de reintegração nas famílias?

Não muitos, porque na maioria das vezes o que se verifica é que é o próprio rapaz que, quando chega a hora de voltar, não o quer fazer porque percebe que a situação familiar não se alterou e prefere ficar afastado. Há ainda outras situações que, os rapazes preferem ficar a morar em Viana e não regressar para o concelho de origem.

O tempo de permanência dos rapazes na Casa têm diminuído. Qual a razão?

É porque a rede está a funcionar melhor. A lei sempre preconizou que os acolhimentos sejam mais curtos. Contudo, para o distrito de Viana há apenas um Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP), que na nossa opinião é muito pouco. Sentimos necessidade de fazer um trabalho junto das famílias. Neste momento, a Casa dos Rapazes de Viana não tem capacidade para fazer esse trabalho. Já fizemos várias candidaturas para que “a Casa fosse a casa”. Sentimos necessidade de trabalhar com as famílias a organização familiar, mas também a gestão do dinheiro…Se é desejável que o miúdo fique pouco tempo, também é fundamental que quando trabalhamos para a autonomização, o processo seja feito com mais tranquilidade. Por vezes, as saídas rápidas nunca são muito boas. Nós temos um menino que está no ensino superior e incentivamos a que ele acabe o curso. É importante que eles fiquem, mas está nas mãos deles, porque a partir dos 18 anos, podem decidir sair. E depois de saírem não podem voltar atrás.  

Tem de ter muita consciência dessa decisão.

Mas aos 18 anos não tem essa consciência. Nós temos agora uma resposta nova, que vamos abrir dois novos apartamentos, aos quais chamamos de “apartamentos de reintegração”. Estes destinam-se a jovens que saem da casa e deixam de ter qualquer medida de proteção do Estado e podem alugar uma casa sem ter fiador, e terem uma renda mais acessível. 

Iniciativa autónoma

Este projeto é uma iniciativa autónoma da Casa?

Sim, não temos qualquer apoio da Segurança Social. Numa fase em que os rapazes estão ainda em fragilidade, mas que já podem assumir alguma autonomia com despesas. 

Mas esta valência ainda não está em funcionamento.

Já estão prontos, só ainda não entraram em funcionamento, porque a rua onde se localizam está em obras. Este projeto surgiu pela dificuldade que sentimos dos nossos jovens arrendarem uma casa. 

Quais as principais dificuldades da Instituição?

A principal dificuldade é a limitação económica para desenvolvermos as mais-valias que achamos que a casa deve ter. Nós somos financiados pela Segurança Social, mas que não nos permite dar resposta a todos os nossos projetos para a Instituição. No ano passado fizemos uma candidatura para “mente sã em corpo são” para termos um espaço de ginásio e montar uma pequena área para os jovens se sentirem mais ativos e terem um espaço de descontração. As nossas limitações financeiras impedem-nos de proporcionar mais momentos de lazer e bem-estar.

Quais as razões para os jovens integrarem a Instituição.

Em 52, era por carência económica, mas hoje os desafios são maiores e mais complexos e as razões são a desestabilização familiar; problemas de dependências; abandono escolar, entre outros. A carência económica não é a predominante.

Para além da área social apresentam uma valência que pode ser usufruída pela comunidade, que é a gráfica, não é isso?

A gráfica começou por ser uma escola tipográfica. Hoje o lucro da gráfica é para a Casa dos Rapazes. É uma empresa do terceiro setor. Evoluiu para uma empresa profissional.

A atual direção entrou há relativamente pouco tempo. Quais os objetivos e projetos futuros?

O grande projeto passa pela entrada em funcionamento dos “apartamento de reintegração”. Depois é sermos cada vez mais exigentes na prestação de serviços e com a qualidade no cumprimento da nossa missão. A Casa é que tem de se adaptar aos miúdos e não o contrário.  Nós temos uma supervisão externa, que vai afinando métodos. É necessário que haja formação contínua. Temos desafios muito diferentes. O que funciona com um, não funciona com outros. No futuro, pretendemos desenvolver e aumentar a nossa capacidade de autonomização. Queremos que a saída dos rapazes nunca seja precipitada. 

Viana apoia a Casa dos Rapazes

Sentem que a sociedade ainda se fecha à Instituição?

Não, antes pelo contrário. Sentimos muito apoio da comunidade. Muitas vezes eram os nossos miúdos que não queriam integrar-se na sociedade. Nunca houve nenhum estigma em relação à Casa.  Em geral, o exterior apoia bastante a Casa. E queremos que os nossos rapazes tenham uma grande liberdade de escolhas e que possam frequentar as atividades de interesse, como a vela, o ténis, o remo, etc…

Quantas pessoas trabalham na Casa?

Cerca de 20, divididas pelo quadro técnico, educadores e auxiliares.

Estão neste momento a desenvolver um projeto em parceria com o IPVC, fale-nos disso?

Sim chama-se “o meu quarto, a minha sala” e surgiu porque queremos tornar os quartos e as salas de estar e de estudo mais pessoais. Fizemos uma candidatura, no âmbito da escola inclusiva do IPVC, e vai ser desenvolvido com o curso de Design de Interiores. 

Os alunos do 1.º ano deste curso estão a fazer maquetes de propostas  de remodelações de quartos e salas comuns. Em fevereiro, faremos uma exposição e queremos desafiar as empresas da região para apadrinhar o projeto, comparticipando a execução da obra, porque a Casa dos Rapazes não tem capacidade financeira para suportar este investimento.  

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