Marco Salgueiro vai levar a Senhora d’Agonia

Está há dois anos à espera de levar o andor da Senhora d’Agonia na Procissão ao Mar. No dia em que completa 46 anos vai cumprir essa tarefa. Nascido na Ribeira, Marco Salgueiro fala com paixão da Romaria que “não é só dos pescadores” e da emoção que é levar os andores ao mar e ao rio e ver toda a multidão nas margens do Lima.

 Pescador há 28 anos seguiu o exemplo do pai, Graciano, também ele pescador e mestre da embarcação Virgem de Fátima. “Tive como exemplo o meu pai. Eu tento seguir ao máximo os passos dele. Sempre vivi no meio da pesca e sempre tive o gosto por ela, desde muito pequenino”, revela. 

Se no passado, seguir as pisadas do pai pescador era um objetivo, atualmente Marco Salgueiro diz que as gerações mais novas não o fazem. “Antigamente os pais queriam que os filhos seguissem na pesca. Mas hoje já não é assim. Hoje já pensamos o contrário”.

Pela diminuição de embarcações de pesca de vianenses, o pescador acredita que em breve as embarcações da Póvoa do Varzim vão poder também participar no esquema de rotatividade para levar os cinco andores da Procissão ao Mar. 

Marco Salgueiro conta como é feita a escolha das embarcações para levar os andores: “É rotativo pelas embarcações, num ciclo de, mais ao menos, cinco anos, porque existem cinco andores para levar. Todos os anos levamos um até chegar ao da Senhora d’Agonia. Eu pessoalmente já peguei com dois andores, porque um colega teve de desistir e nós assumimos o lugar dele”.

Nos últimos dois anos não foi possível realizar a Romaria da Senhora d’Agonia com momentos presenciais, nesse sentido a Procissão ao Mar é um dos momentos mais aguardados para este ano. “Já estamos há dois anos à espera para levar a Senhora d’Agonia. Estamos numa expectativa enorme”, frisa.

A família já está mobilizada e a escolher a forma como embelezar a embarcação. Marco diz que a simplicidade vai prevalecer, mas já “começamos a pensar como vamos ornamentar o barco e como as nossas mulheres vão vestidas”.

Quando o questionamos se levar o andor da Senhora d’Agonia é de maior responsabilidade, Marco Salgueiro é peremtório: “Era muito hipócrita se lhe dissesse que não. O andor da Senhora d’Agonia é o centro das atenções e as pessoas estão mais focadas nesse barco e vamos ter um cuidado maior. Para mim, como católico, é igual levar a Senhora de Monserrate ou a Senhora d’ Agonia. Obviamente que sinto maior responsabilidade. Tanto orgulho me dá levar a Senhora dos Mares ou  a Senhora d’Agonia. Eu tenho a Senhora de Fátima a bordo da embarcação e levo-a todos os dias ao mar”.

A acompanhar o andor da Senhora d’Agonia vão cerca de 25 pessoas, e por isso Marco Salgueiro diz que levará mais 25 para que sejam cumpridas as regras de segurança ditadas pela Polícia Marítima. 

Procissão também é momento de perdão

O pescador, que continua a afirmar-se ribeirinho, apesar de já não morar naquela zona da cidade, confessa que a Procissão ao Mar é um dos momentos mais aguardados da Romaria. “Para nós tem um significado importante porque naquele dia conseguimos viver um ano de pesca. Este ano até vamos viver mais”, diz. Lembrando que há alturas em que aquele momento representa pedir perdão por alguma desavença com colegas. “Conseguimos olhar para o nosso colega, com quem tivemos um arrufo no mar e perdoamo-nos com um olhar. É quando estamos juntos em família e partilhamos. Para nós é o nosso Natal. Tenho a certeza que os pescadores que participam nessa procissão e olham para as imagens e para as caras das mulheres…, é uma demonstração de fé muito grande. Para nós a procissão ao mar e ao rio tem muito significado. A Nossa Senhora d’Agonia vai sempre nos nossos corações e na nossa mente, mas naquele dia vai mesmo connosco”, assegura.

Apesar de não ter vivido nenhuma situação aflitiva no mar, Marco Salgueiro sabe que a Senhora d’ Agonia é “uma das minhas proteções”. “O meu pai sempre foi um mestre exemplar e nunca me pos em perigo e eu como mestre também nunca estive em perigo”, salienta o pescador.

“Noite dos tapetes” é o espírito da Ribeira

Apesar de já não morar na Ribeira, na “Noite dos tapetes” passa por aquele local para animar todos. “Eu participo, mas nunca toquei no sal”, diz. Adiantando que “o meu papel é pegar na viola e animar toda aquela gente”. 

Desde pequeno a viver “intensamente as festas”, Marco Salgueiro lamenta que muitos digam que a festa não representa os pescadores. “Não podemos ter a Romaria d’Agonia como nossa, dos pescadores. A Romaria é da cidade. Eu participo e dou todo o meu contributo, agora eu não posso dizer que a festa é dos pescadores. O dia 20 é direcionado aos pescadores. A gente da Ribeira, que tanto trabalha na noite de 19 para 20 é enaltecia, porque a festa é toda direcionada para aquela zona”, revela. Acrescentando: “Há muita gente que acha que os pescadores não são valorizados. Eu não acho isso. Naquele dia somos muito valorizados, precisávamos é que esse dia fosse dividido pelo ano todo e que olhassem mais para nós durante o ano todo”.      

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