De 29 de setembro a 02 de outubro decorreu, em Viana do Castelo, um encontro mundial de especialistas em Neurologia. O Biennal Meeting of the World Federation of Neurology Research Group on Aphasia, dementia & Cognitive Disorders teve lugar no Anfiteatro Lima de Carvalho.
A Federação Mundial de Neurologia, que tem como missão implementar a qualidade do exercício da Neurologia, foi fundada em Bruxelas em 1957. Agrega associações da maior parte dos países do mundo e grupos que estudam temas e patologias particulares do Sistema Nervoso. Um dos grupos estuda a Cognição e denomina-se «World Federation of Neurology – Aphasia, Dementia and Cognitive Disorders Research Group» (WFN ADCD ARG). Dedica-se ao funcionamento cognitivo e comportamental do cérebro normal, mas também as suas modificações nos processos patológicos, como demência, epilepsia e doenças vasculares cerebrais.
Ainda tem especial interesse no impacto transcultural e translinguístico no desenvolvimento humano e manifestações neuropsicologicas da doença. É constituído por diferentes profissionais, nomeadamente médicos, psicólogos, terapeutas da fala, entre outros.
De dois em dois anos, os membros do grupo reúnem-se durante alguns dias, para comunicar resultados dos vários projectos nesta área, muitos deles multicêntricos e multidisciplinares. Tal permite a troca de opiniões e discussão de diversas teorias e pontos de vista. Este encontro é caracterizado por intenso convívio científico, mas num clima informal, permitindo também estabelecer contactos para futuras colaborações.
Viana do Castelo — pela sua beleza e charme, mas também pelas excelentes infraestruturas — foi escolhida para a realização do encontro bienal de 2018. Para concretizar tal objetivo, foi essencial a incomparável colaboração do Município, da Escola Profissional (ETAP) e respectiva equipa de professoras e alunos do curso de Secretariado e ainda do Instituto Politécnico de Viana do Castelo que cedeu o auditório Prof. Lima de Carvalho, um espaço de ambiente muito agradável, assim como a assistência técnica e de audiovisual.
Neste encontro, foram apresentados resultados de projectos científicos e casos clínicos de Unidades de Neurologia da Cognição de todo o mundo, como Reino Unido, Alemanha, Índia, EUA, Canadá, Argentina, Irão, Japão e Portugal. Um dos temas mais importantes nesta reunião foi a influência do tipo de educação, da escolaridade e do bilinguismo na aquisição e desenvolvimento de capacidades cognitivas e ainda como podem ser neuroprotectores na degenerescência cerebral. Discutiu-se também consequências neurológicas, neuropsicologicas e comportamentais de factores civilizacionais como os traumatismos cranianos e a forma como a neurociência pode influenciar a política e organização actual das sociedades. Finalmente ainda se abordou as doenças degenerativas — com especial relevo para as demências – nas repercussões das doenças vasculares cerebrais, epilepsia e outras patologias que afectam o funcionamento cognitivo cerebral.
Na despedida, lembrámos a famosa lenda do Rio Lima — uma história apropriada a profissionais dedicados à cognição – que conta o que terá ocorrido quando a legião romana deparou com a beleza deste rio e das suas margens. Décimo Júnio Bruto, o Cônsul, que comandava as tropas, tentou convencer os seus centuriões e soldados a atravessar o rio mas eles recusavam-se pois, tal encanto só poderia ser do rio Lethes – do esquecimento — o rio dos mortos. Quem o atravessasse não voltava. Nessa altura o Centurião nadou para a outra margem e chamou, pelo próprio nome, cada um dos seus soldados.
Voltamos agora a abrir um novo ciclo. Nara, no Japão, espera-nos para mais um encontro em 2020.
Elia Baeta e Cláudia Guarda
(Assistentes Graduadas de Neurologia)
Foto: Arménio Belo