“No nosso ADN está a vontade de sermos campeões, uma referência na modalidade”

O Viana Remadores do Lima surgiu da fusão de dois clubes existentes na cidade. E apesar de ter completado, recentemente, oito anos, tem já uma história de mais de um século.

O Centro de Mar, projeto municipal, foi o impulso para a fusão do Clube Náutico de Viana e da Associação de Remadores para a Competição. Com o foco na formação de “campeões” de remo, o Viana Remadores do Lima tem “de forma sustentada e sistemática” conseguido alcançar pódios nacionais.

A Aurora Lima (AAL): Há quanto tempo existe o Viana Remadores do Lima (VRL)?
José Esteves (JE): Mais importante que a data de constituição desta associação, 21 de março de 2012, é a história que a antecede. O VRL resulta da fusão do CNV – Clube Náutico de Viana (1936) e da ARCO – Associação de Remadores para a Competição (1977), instituições então detentoras do Estatuto de Utilidade Pública, herdando as tradições, património e história destas coletividades, respetivamente com 76 anos e 35 anos. O VRL completou assim no passado dia 12 de março, oito anos de existência, com um historial desportivo acumulado, à data de hoje, de 119 anos.

AAL: Por que decidiram criar este clube?
JE: A decisão que levou à constituição desta associação foi-se “construindo” no seio dos atletas e sócios dos clubes fundadores, processo que levou quase 20 anos. O CNV e a ARCO, nos finais dos anos 90 e apesar do seu grande historial desportivo e de cidadania, em prol da modalidade e da cidade, apresentavam-se desgastados, devido à ausência de investimento público em infraestruturas para a prática da modalidade, agravadas por uma “guerrilha” sempre latente entre estas duas coletividades e da ausência de estratégias concertadas, nomeadamente com o município, de médio/longo prazo, que permitissem o seu desenvolvimento. Para mim, o momento de viragem desta realidade dá-se em 1995, data em que é aprovado o 1º Plano Estratégico de Viana do Castelo, que de entre muitas ações e linhas condutoras para o desenvolvimento sustentado do concelho, aponta a necessidade da cidade reconquistar uma cultura náutica perdida, devendo para tal serem potenciadas e valorizadas todas as atividades associadas ao ecossistema mar/rio. Este desígnio que na altura passou despercebido à maioria dos agentes ligados à modalidade do remo, veio mais tarde, aquando da ampla discussão sobre a localização e modelo de gestão do futuro centro de remo no âmbito da elaboração do Plano de Pormenor do Parque da Cidade (aprovado em 2002), ajudar a desbloquear os impasses que se foram criando no projeto de fusão em curso (assembleias gerais da ARCO em 2003 e 2006 e do CNV em 2007). Mais tarde, em junho de 2008, a autarquia apresenta o inovador projeto “Centro de Mar”, sendo este determinante para a consolidação do projeto de fusão, que viria a acontecer em 2012.

AAL: O VRL dedica-se em exclusivo ao remo?
JE: A 1.ª e principal vocação do VRL é a formação e o desenvolvimento do remo para a competição. No nosso ADN está a vontade de sermos campeões, uma referência na modalidade a nível nacional, desígnios que felizmente e com trabalho de todos (direções, equipa técnicas e determinação dos seus atletas) temos conseguido. Desde a fundação do VRL estamos de forma sustentada e sistemática no pódio nacional do Ranking Nacional de Clubes, numa luta saudável com os grandes e históricos clubes de remo deste país. Na época desportiva, 2016/2017 o VRL foi Campeão Nacional de Clubes e em 2018/2019, Vice-Campeão Nacional, com 51 atletas a sagrarem-se campeões nacionais, nos diversos escalões e categorias, destacando-se no conjunto destes sucessos o Título Europeu de Ergómetro (Copenhaga) e o 8º lugar no Campeonato do mundo (Tokyo), escalões de juniores, conseguido pelo André Pinto. A 2ª atividade com mais importância na dinâmica do VRL prende-se com o já referido projeto da “Náutica nas Escolas”, promovido pela Câmara Municipal, em estreita articulação/coordenação com os clubes náuticos do “Centro de Mar”, envolvendo no ano letivo 2018/2019, 11 escolas (ensino básico e secundário), 111 turmas e 2.241 alunos. Pelo Centro de Remo, passaram um total de 688 alunos (36 turmas de 10 escolas). Paralelamente temos vindo a desenvolver diferentes variantes da prática do remo, nomeadamente; Remo de lazer (jovem e adulto); turismo; adaptado e indoor. Destaco destas variantes a expressão que o remo lazer adulto alcançou no clube e o apoio que temos dado a instituições que lidam com cidadãos portadores de deficiência (…).

Regatas nacionais e internacionais

AAL: Quantos atletas tem o VRL?
JE: O VRL tem nesta época desportiva, até à presente data, 182 atletas federados, em todas as classes.

AAL: De que idades?
JE: As idades vão dos nove anos a mais de 70 anos.

AAL: Em que competições participam?
JE: Participamos nos três campeonatos nacionais de inverno e um de verão, que integram o calendário federativo: Campeonato Nacional de Ergómetro, Campeonato Nacional de Fundo, Campeonato Nacional de Yolle e Campeonato Nacional de Velocidade (verão). Completa estas participações com a disputa de várias regatas nacionais e internacionais organizadas pelos clubes. Destacamos neste universo de participações a Regata Internacional de Fundo “Centro de Mar”, organizada anualmente pelo VRL com o apoio da Câmara Municipal, e Associação de Remo do Norte (…).

AAL: Esta pandemia afetou, de alguma forma, o clube?
JE: Obviamente que sim, como na generalidade de todos os setores da nossa sociedade. Estamos a viver uma crise sanitária mundial que nos afetou bastante e continuará a afetar ainda por muitos meses a nossa normal atividade. O Centro de Remo respirava diariamente vitalidade com a presença de dezenas de atletas e demais utilizadores. Do ponto de vista competitivo tentamos minorar os danos, continuando com planos de treino adaptados, e que são completados com a distribuição das nossas máquinas de remo indoor pelos atletas, que as têm utilizado em casa com regularidade e com o devido controlo à distância pelos seus treinadores. A vontade de voltar é grande, ainda mais porque temos bem presente o excelente arranque desta época desportiva, com 12 atletas a sagrarem-se campeões nacionais no campeonato nacional de ergómetro (19 de janeiro) e 36 no campeonato nacional de fundo (01 de março). O remo será provavelmente das poucas modalidades desportivas que já tem campeões nacionais nesta época, que foi abruptamente interrompida por esta crise. Do ponto de vista financeiro também estamos a sentir bastante, com o corte drástico de receitas provenientes das mensalidades dos atletas, quotizações dos sócios e apoios de empresas. Estamos também apreensivos relativamente à decisão que a autarquia vai tomar face aos protocolos assinados. Para já tivemos de colocar 2 dos 4 trabalhadores do VRL em regime de LayOff e tivemos que suspender o pagamento de compromissos assumidos com fornecedores, especialmente e devido aos montantes envolvidos, com os que prestaram serviços na Regata Internacional de Fundo que se realizou em 02 e 03 de fevereiro.
Contamos ainda durante este mês de maio, em articulação com a autarquia e recomendações da Federação Portuguesa de Remo, retomar gradualmente a prática da modalidade na água em embarcações individuais, com as necessárias medidas de proteção e salvaguarda.

AMPLIAÇÃO DO CENTRO DE REMO

AAL: Quais são os objetivos futuros? E as necessidades?
JE: O VRL emana de um projeto corajoso e ambicioso. Nesta linha temos sempre de forma estratégica ambições e objetivos a atingir, seja de curto, médio ou longo prazo. Os objetivos de âmbito desportivo são os que nos ocupam no dia-a-dia, nomeadamente na procura de soluções e estratégias que permitam o sucesso dos nossos atletas, onde o objetivo máximo será que eles representem a seleção nacional nas grandes competições internacionais e em última análise possam sonhar com uma participação olímpica. Neste âmbito temos tido atletas de referência, como o Roberto Rodrigues, o Carlos Cruz e presentemente o promissor André Pinto que foi campeão europeu de remo Indoor e 8º classificado no campeonato do mundo em 2019, na categoria de juniores. Decorrente do sucesso desportivo (e não só), que incutiu um elevado nº de utilizações do centro de remo, e da necessidade de potenciar as suas condições funcionais, estamos a avaliar com o executivo a possibilidade de ampliação do Centro de Remo, juntamente com a concretização do arranjo paisagístico da marginal do rio lima a nascente, com previsão de correção da artificialização que foi feita aos limites naturais da margem, aquando da atividade de extração de areias nos anos 80, e que muito nos tem prejudicado, com o propósito de reunirmos condições para a colocação de plataformas de embarque que resultaria também numa mais-valia para o acesso à agua do remo adaptado. Aproveitando o processo em curso da revisão do Plano Diretor Municipal PDM), fizemos a proposta ao executivo para previsão da construção da pista de remo. Este equipamento náutico, que serve igualmente a canoagem e que já tinha sido contemplado no 1.º PDM (1991), é em nossa opinião basilar para a consolidação do projeto do “Centro de Mar”, dotando-se a modalidade do remo e da canoagem de condições para o desenvolvimento do alto rendimento como acontece na vela e no surf. A localização que achamos ser a mais adequada é a montante da ponte da A28, na margem sul e fora do leito do rio (em canal paralelo).

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.