Nos anos 50 do século passado, era mais improvável os habitantes de Lanheses possuírem uma bicicleta ou motorizada do que atualmente um automóvel topo de gama; no início dos anos 60, a televisão estava acessível nos cafés e a rádio nos domicílios; ver um filme de quando em vez em modo ambulatório e, em alternativa, a exibição de um cantor (ou cantora) na moda em sessões na Casa do Povo geravam acontecimento notável.
De modo que, para além das festas tradicionais, por alguns lugares da freguesia os moradores, em número avultado, inventavam procedimentos e cantorias divertidos para a ocupação dos tempos livres e no decorrer de trabalhos menos pesados, entravam em bailes espontâneos que ocorriam nos lagares de azeite, no decorrer das desfolhadas e malhadas ao som de concertinas ou realejos nas festinhas dos lugares, faziam parte do elenco de teatro amador com atuações na freguesia e fora de Lanheses, por iniciativa de Rogério Agra, ator e organizador, e de Rogério Dantas, ponto nas representações e colaborador e criador nos ensaios. Numa passagem curta como auxiliar da paróquia e percurso de vida, o padre Alberto Pinto Faria soube congregar a mocidade da época para as atividades recreativas e culturais obtendo resultados muito valiosos na preparação da juventude que liderou. Deixou pegada indelével na ação pedagógica prestada à comunidade jovem.
A vida social da comunidade lanhesense decorria unida, voluntariamente participativa e em harmonia com as diretrizes dos promotores das ações que, graciosamente, exerciam.
Depois do fluxo da emigração nos anos 50 e 60 e a descolonização do império ultramarino após o 25 de abril de 1974, com o regresso de milhares de portugueses imbuídos de um avanço cultural acima do nível da população residente e, principalmente, o aumento em flecha dos alunos do ensino secundário e superior, alteraram gradativamente os gostos e os meios da nossa comunidade. Aos poucos, os lanhesenses expandiram-se para além das frágeis fronteiras do apertado círculo natal, conheceram novas realidades, modos de vida, adquiriram conhecimento académico superior que lhes aumentou o modo de ver e de pensar, conceitos superiores e gostos selecionados.
Entretanto, por carência de promotores voluntários e de adesões de candidatos bastantes para corporizar em permanência qualquer proposta, Lanheses não acompanhou integralmente uma realidade próxima da que o progresso atualmente proporciona. A fácil mobilidade dos tempos, a melhoria económica de uma parte significativa de população e a abertura da maioria das fronteiras aos visitantes, a pléiade incomensurável das sugestões que lhes são apresentados para fruir participando, prevalecem sobre a inexistência local de uma casa de cinema, uma piscina pública, um museu recheado de evocações históricas, agremiações culturais (o clube desportivo e o Rancho Folclórico locais são exceção) e recreativas, um hotel ou estalagem chamativos, conjuntos musicais, serviços estruturado de transporte de passageiros, espaços para recreação e funcionamento de associações, uma escola náutica e, muito necessariamente, de empreendedores, os quais, como é constatável, já não é fácil encontrar em idade jovem em razão do que acima se descreve. Louve-se a iniciativa da criação da Associação Desportiva e Cultural (ADCL) de Lanheses, por João Palma Rios, a qual esteve em funcionamento produtivo enquanto ele foi vivo, estando por esta altura em situação indefinida sendo que há dúvida estar extinta por falta de gestor(es).
Um pensamento otimista formalizará a esperança de que a Zona Empresarial será, no futuro próximo, um fator a considerar no aceleramento do desenvolvimento da freguesia de Lanheses, concedendo a admissão ao seu serviço dos naturais qualificados com a garantia de poderem usufruir das condições de vida que, atualmente, procuram noutras partes de Portugal e do mundo.