Praça das Concertinas homenageia embaixadores da cultura e das tradições

Foram inaugurados na Praça das Concertinas, no Santoinho, os dois painéis de azulejo do artista Mário Rocha de homenagem a Quim Barreiros e Augusto Canário, que chegaram ao local num Cadillac.

A estas obras de arte juntou-se o painel de homenagem, inaugurado em 2020, ao tocador Vilarinho, de Covas, que, assim, mudou de local. Ainda sem data marcada, irá ser também colocado na ‘Praça das Concertinas’, um outro painel do consagrado Cachadinha, outra grande referências da música popular, mas já falecido.

A cerimónia aconteceu no sábado e foi transmitida em direto num programa televisivo da RTP – 1, a propósito dos 50 anos da emblemática quinta tradicional minhota.

A cerimónia registou a presença de autoridades locais, como o presidente da Câmara, de Valdemar Cunha, administrador da Fundação Santoinho, dos colaboradores, familiares e amigos destes e dos homenageados, bem como de muitos populares que assistiram ao ato.

Praça das Concertinas a cantar para António Cunha

Valdemar Cunha era um homem feliz. Lembrou que, quando se deparou com o painel do Vilarinho na  Arte da Leira — mostra de arte que, todos os anos, decorre na Serra d’Arga —, “vi a concertina e disse ao Mário Rocha que tinha de estar no Santoinho”.

“Ficou o desafio para continuarmos a homenagear outros artistas da música popular, os embaixadores da alegria no país e no mundo, os tocadores de concertina Quim Barreiros e Augusto Canário. Agora serão os vossos seguidores que virão cá tirar outra fotografia convosco”, explicava Valdemar Cunha.

Além do espaço de festas, o Santoinho conta com o Museu dos Trajes e o dos Transportes. E tem agora a Praça das Concertinas. “Vamos eternizar no Santoinho o património cultural e a tradição que se expressa em cada canto, em cada pedra deste enorme espaço. É um compromisso  que procurarei passar aos meus continuadores”, disse.

Valdemar Cunha deu conta do empenho e das preocupações, bem como do testemunho da mulher, Carmem, pelas insónias que passou para que isso acontecesse.

Agradeceu a presença, no ato, do presidente da Câmara, Luís Nobre, e do antecessor,  José Maria Costa “que, desde o início, viveu o projeto”.

Agradeceu aos trabalhadores a enorme logística que envolveu. “Hoje, a Praça das Concertinas está mais rica para sempre a cantar para o António Cunha”, disse, referindo-se ao pai, fundador do Santoinho, que teve a “sorte da irmã Elisabete tocar acordeão”, desejando “que um sobrinho ou sobrinho-neto tocasse concertina”.

Pintar painel demora de três dias a um mês

Ao nosso jornal, o artista Mário Rocha aludiu às suas raízes minhotas e vianenses. “Na minha infância sempre estive envolvido com a minha família, através de Perre, na organização que havia nas danças, nos viras e na contradança e, portanto, aceitei o trabalho com todo o agrado e prazer”, sublinhou.

“Só juntei uns elementos neste painel de cerâmica do Quim Barreiros, a relacionar imagens ao lado que representam algumas das suas cantigas. No Canário, é menos, porque é muito difícil retratar as quadras e o cantar ao desafio. É complicado! Basta a imagem que é para perpetuar na história e continuar. Também fiz o do Vilarinho, aqui há uns anos, num processo diferente, a alta temperatura”, acrescentou.

Questionado sobre o tempo que demora a elaborar um painel, Mário Rocha confessou que “depende da disposição, do dia, mas tanto pode demorar um semana, 15 dias ou um mês”. Ou “apenas três dias.”

Como criança que vai à Disney

Augusto Canário confessou-nos que só viu o painel, pela primeira vez, no momento da inauguração.

“O do Quim já tinha visto na Arte na Leira, em agosto de 2021, e o senhor Valdemar fez questão de nos juntar, neste momento único, e é realmente uma emoção. Fico muito feliz e, sustento, as homenagens devem ser feitas com as pessoas com as suas faculdades, físicas e mentais, em pleno. Sinto-me muito honrado com este momento”,  asseverou.

“É um sonho, não só pelo amor próprio que nós, cantadores, temos – é lógico, o nosso brio, o nosso orgulho, mas, acima de tudo, que seja e se torne revelador e motivador para outras gerações que continuem esta nossa tradição do cantar ao desafio, de todos nós, das cantigas populares, do bailarico, do nosso arraial e da nossa cultura popular. É a matriz que o Santoinho nos transmite e a garantia do futuro que está a zelar”.

Canário confidenciou-nos que não esperava ser homenageado desta forma. “Já tinha sido muito honrado com a Presidência da Comissão de Honra das Festas da Senhora d’Agonia. Já tinha sido muito honrado com o facto de ser Cidadão de Mérito, mas, principalmente, esta figura, imagem, obra de arte de um dos bons artistas plásticos do Alto Minho, é uma honra. Neste espaço, nobre e dignificado, é uma coisa que me ultrapassa. Sinto-me como aquelas crianças que vão pela primeira vez à Disney. Vêem um sonho, coisas maravilhosas, o mundo fantástico. É como me sinto aqui hoje. Uma consciência e uma responsabilidade acrescida de zelar ainda mais por aquilo que é nosso. É o que isto me transmite”.

É para a eternidade

Por sua vez, Quim Barreiros referiu que foi uma tarde diferente, com muitas emoções. “Foi uma tarde de muitas emoções e diferente. É uma tarde séria, ando sempre na brincadeira. Mas isto é uma coisa muito séria. É para a eternidade”, afirmou.

Alguma vez pensou? “Não. É a melhor homenagem que me podiam ter feito. A melhor de todas. É do coração, é de amizade. Acho que também merecia. Há 65 anos que ando nisto. O meu muito obrigado ao Valdemar Cunha e à Fundação Santoinho. É um cantinho do céu”.

Já com 75 anos de vida e 65 de carreira, Quim Barreiros ainda não sabe quando terminará o percurso artístico e brinca: “De um momento para o outro… já sabes como é na nossa idade… Ai o coitadinho!”

Edil reconhece trabalho de Valdemar Cunha

“Isto foi a forma de reconhecer o trabalho que o senhor Valdemar tem, na sequência do trabalho iniciado pelo seu pai, em prol das nossas tradições e da nossa cultura”, sublinhou o autarca.

Luís Nobre enalteceu a criação de “um espaço que, no fundo, é a síntese da representação da nossa história, tradições, manifestações culturais, identidade, dos nossos bens materiais e imateriais e, naturalmente, trazer para esse espaço, que já em si incorpora tanta tradição, tanta herança social, mais estes dois ícones da nossa manifestação cultural tradicional, o Quim Barreiros e o Augusto Canário”.

Para esse, lembrou Luís Nobre, Valdemar Cunha recorreu, uma vez mais a um artista, o Mário Rocha, para perpetuar esse reconhecimento. “Esta é a demonstração que fazemos bem e muito melhor quando é com os nossos”, concluiu.  

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