Há cinco anos como diretor da Escola Superior de Educação (ESE), César Sá fala do percurso da mais antiga escola superior do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, que foi criada ainda antes do Politécnico, e dos desafios futuros.
Com a matriz assente na formação de professores, a ESE abriu novos pilares, que assentam na gerontologia e nas artes.
Desenvolvendo centenas de projetos nacionais e internacionais, a ESE é “uma escola extremamente aberta à comunidade”. As infraestruturas são, muitas vezes, utilizadas por organizações ou pessoas individuais, que pagam pela sua utilização, revertendo a verba a favor da Instituição. “Um dos eixos [aquando da tomada de posse da direção] foi a otimização e rentabilização dos recursos e foi abrir as instalações à comunidade”.
A Aurora do Lima (AAL): Quando surgiu a Escola Superior de Educação (ESE)?
César Sá (CS): A Escola foi criada institucionalmente em 1979 e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo em 80. Fazemos este ano 40 anos e somos a escola mais antiga do Instituto. As escolas superiores de educação têm um longo percurso e tiveram um papel importantíssimo na qualificação e formação de professores.
AAL: Durante muitos anos não havia escolas com esta filosofia.
CS: E com esta profissionalização. Não se entendia um professor como alguém que tem de ser um especialista e ter uma formação superior. Antigamente bastava uma licenciatura e podia dar-se aulas. Mas com as escolas superiores de educação isso deixou de ser possível. Estas são as herdeiras naturais dos magistérios primários e das escolas de educadores de infância. Hoje, para ser professor a condição mínima é ter um grau de mestre.
AAL: A escola continua com essa vocação de formação de professores?
CS: A Escola Superior de Educação atualmente tem três pilares fundamentais, três eixos. Temos o principal eixo que é a educação e formação de professores, a nossa matriz identitária. Posso dizer que já formamos entre 7500/8000 pessoas ao longo destes 40 anos…
AAL: Não só professores?
CS: Maioritariamente professores, porque a escola esteve centrada na área da formação inicial e contínua de professores. Hoje os pilares são também uma aposta estratégica na área do envelhecimento, mais propriamente na área da gerontologia social, onde temos feito um investimento muito grande na área do ensino e investigação. E mais recentemente as artes plásticas, tecnologias artísticas. E ainda a gestão artística e cultural.
AAL: Quantos cursos têm atualmente?
CS: Já tivemos mais. Temos cursos técnico-profissionais (CTeSP), licenciaturas e ainda formação avançada. A nossa formação a nível dos CTeSP posso destacar o Artes e Tecnologia [Luz, Som e Imagem]; o Intervenção Educativa em Creche e ainda Serviços Educativos e Património Local.
AAL: E licenciaturas, mestrados e pós-graduações?
CS: Temos três cursos a funcionar este ano: Artes Plásticas e Tecnologias Artísticas; Educação Básica e Educação Social e Gerontológica. Nos mestrados posso destacar a Gerontologia Social e a Gestão Artística e Cultural, sem esquecer os do ramo do ensino. A nível de pós-graduações, a Administração Escolar e Inovação Educacional, outra em Educação, Herança e Memória. Fizemos uma em parceria com a câmara, em exclusivo, que foi a Educação, Ciência e Património Local. E vamos muito brevemente abrir formação na área da Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global.
AAL: Como se materializa a relação da ESE com a comunidade?
CS: Nós somos um parceiro natural da comunidade, a vários níveis, em termos de formação, ensino e investigação. E contribuímos assim para a mudança social, educativa, cultural e artística da região onde estamos inseridos. Temos inúmeras parcerias, cerca de 82 parcerias, com escolas, IPSS´s, organizações culturais. Em números, posso dizer: sete com agrupamentos de escolas, 18 autarquias, 15 IPSS´s, 48 empresas privadas e variadíssimas universidades nacionais e internacionais, com o Instituto Camões, e etc…
AAL: É necessária essa transferência de conhecimento.
CS: Eu diria que somos uma escola extremamente aberta à comunidade. Muitas vezes não podemos dar resposta às propostas por constrangimentos vários. Cerca de 97% do pessoal que está a tempo inteiro são doutorados. São profissionais altamente qualificados, o que nos permite criar, reforçar a nossa oferta formativa e responder a alguns desafios. Uma das nossas grandes urgências é o rejuvenescimento do nosso corpo docente.
AAL: De quantos docentes falamos?
CS: Neste momento, cerca de 70. 35 a 40%, a tempo inteiro.
AAL: E pessoal não docente?
CS: Temos 14/15 funcionários. É um corpo não docente qualificado.
AAL: Dos projetos com a comunidade quer destacar algum?
CS: Só com as escolas temos diversos projetos de consultoria e de avaliação. Fazemos a avaliação exterior das escolas e a avaliação do impacto da formação contínua. Somos também consultores do Instituto de Avaliação Educativa. Com o Município de Viana, temos o projeto de equipas de flexibilização curricular, fazemos a colaboração técnica e científica do projeto Geoparque, e as atividades lúdicas e de apoio às famílias.
AAL: E a nível de investigação.
CS: Os nossos docentes pertencem a redes internacionais de investigação, que é uma componente fundamental no Ensino Superior. Hoje temos uma produção muito grande em termos de publicação em revistas da especialidade, internacionais e nacionais. Nos últimos dois anos conseguimos 240 comunicações em encontros científicos. Escrevemos 66 artigos em revistas da especialidade; 37 capítulos de livros; 14 livros e 116 artigos. Estes são indicadores que permitem ver a produção científica.
AAL: Essa é também uma componente muito importante?
CS: Para nós é importante a investigação, mas a disseminação é fundamental, em redes nacionais e internacionais. Nós temos imensos projetos internacionais, dos quais nos orgulhamos e que são financiados: Get Up and Goals; Gobal Schools; Creative Connections; Rural 3.0….
AAL: Quer destacar algum?
CS: O Rural 3.0, que é uma nova metodologia de ensino baseada na aprendizagem por serviço e nós somos um líder. Somos a escola e o país coordenador de um projeto, que envolve 16 parceiros de oito países europeus. O objetivo é promover o desenvolvimento e a cooperação em contextos rurais.
AAL: E a nível nacional.
CS: Um projeto de empreendedorismo para crianças dos três aos 12 anos, em parceria com a CIM Alto Minho. É um projeto extraordinário e visa a produção de recursos educativos e a disseminação da cultura empreendedora junto das escolas. Há muitos anos que temos uma excelente relação com Cabo Verde e já tivemos um mestrado só para professores cabo-verdianos e que funcionou durante quatro anos sucessivos. Ainda este ano vamos assinar um novo protocolo com a Universidade de Cabo Verde. Com Guiné-Bissau temos uma longíssima tradição. Fomos responsáveis pela criação de uma escola superior de educação no país, que depois acabou por cair, por causa da instabilidade política. Em Angola também tivemos projetos.
AAL: Esta ligação aos PALOP´s é também importante.
CS: Sim. A instabilidade política da Guiné não nos permite mais projetos, mas com Angola ainda vamos, este ano, assinar novo protocolo para fazer formação dos professores angolanos, na área artística.
AAL: Quantos alunos?
CS: Tivemos uma quebra significativa, mas deve rondar os 600.
AAL: Em termos de infraestruturas.
CS: É uma escola que se renovou, que cresceu. Em 2000 construímos uma nova ala e já está a ficar pequena, sobretudo pela nossa aposta nas artes.
AAL: Estas estruturas também podem ser utilizadas por outras associações e organizações?
CS: Esta direção quando tomou posse propôs-se a trabalhar em colaboração e cooperação. Um dos eixos foi a otimização e rentabilização dos recursos e foi abrir as instalações à comunidade. Todos os espaços podem ser utilizados. Temos os protocolos definidos com parceiros estratégicos, mas qualquer pessoa, desde que cumpra certas regras, pode utilizar os espaços. Nós temos uma equipa de segurança o que permite que a escola esteja aberta 24h, e pode ser utilizada pela comunidade, mas também pelos estudantes que podem aproveitar para ficar a estudar e a trabalhar mais tempo.
AAL: É uma escola aberta à comunidade.
CS: Procura ser um parceiro estratégico neste anseio que o Ensino Superior deve ter de trazer a mudança e a inovação para a região onde está inserida.
AAL: Quais os maiores desafios.
CS: Gostaríamos de rejuvenescer o corpo docente, mas isso é um constrangimento do financiamento do Ensino Superior. Outro desafio é crescer e afirmar-nos ainda mais como uma instituição motora e potenciadora do desenvolvimento da região. E ser um parceiro impossível de passar ao lado.
AAL: Nesta mudança da presidência do Instituto foi o único diretor das seis escolas que se manteve em funções. Qual a razão?
CS: Tem de perguntar ao novo presidente, porque retomou a confiança em mim. O meu maior incentivo é ser profissional e dar um contributo positivo naquilo que é a missão e objetivos desta escola. E só aceitaria, não pelo convite do presidente, que muito me orgulhou, mas pelo reconhecimento dos pares aqui na instituição. Por sentir que na escola há essa coesão e esse sentimento de união. Estou aqui há 32 anos e fiz todos os cargos. E nos últimos cinco anos aceitei a direção da Escola Superior de Educação. O mais fácil e o mais difícil numa instituição são os Recursos Humanos, e o aspeto mais importante é conseguir motivá-los diariamente.
AAL: E ter uma equipa coesa.
CS: Sendo certo, que isso é completamente impossível. Quem decide faz escolhas. E há características que essa decisão deve ter que é a coerência, equidade, equilíbrio e bom senso. E isso é que faz a liderança da pessoa. Não é a decisão, é a capacidade de mostrar estabilidade, coerência, consistência e equilíbrio. Falar sempre com as pessoas.
Perfil
Nome – César Sá
Idade – 56 anos
Formação – Licenciado em Educação Física, mestrado em Ciências da Educação, metodologia de ensino e doutorado em Ciências da Educação, na área de especialização de sistemas de formação de professores.
Naturalidade – Viana do Castelo
Profissão – Professor de Educação Física e desde 87 integra o quadro da Escola Superior de Educação, desde assistente até ao patamar de professor coordenador.