Rancho mais antigo

O Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço, fundado em 1923, festejou os cem anos de existência no dia 27 de maio. Uma longa vida ao serviço do folclore composta de grandes sucessos e com alguns contratempos, mas é sem dúvida alguma que uns e outros fazem a verdadeira história de vida de uma instituição. É nos momentos mais difíceis que a resiliência se impõe e vence novos desafios e aplica-os na prática. Essa mescla de prós e contras é que descreve a história de vida do Grupo Folclórico mais antigo de Portugal.

O Rancho das Lavradeiras de Carreço, nestes cem anos de labuta no campo cultural e artístico, não passou imune aos problemas comuns de uma instituição com estas características muito específicas. Apesar das mudanças inerentes de diretores, primeiro do seu fundador Carlos Peixoto de Freitas Sampaio, para a filha Teresa Veloso de Freitas Sampaio e desta para o filho Carlos Silvano de Freitas Sampaio, mas uma coisa é evidente, o rancho soube sempre percorrer o caminho certo no rumo certo e quando assim acontece os objetivos são alcançados e os cem anos de atividade acontecem dentro da maior normalidade.

Juntamente com a comemoração do centenário do Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço, a Ronda Típica de Carreço celebrou as bodas de prata. Este duplo acontecimento aconteceu  no mesmo dia e na Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço, no qual também participou o Grupo Folclórico Danças e Cantares de Carreço. A animação para além do folclore esteve a cargo de Phole, Filipe Gachineiro e dos cantores ao desafio Gonçalo Moreira e Pedro Mendes.

Nas intervenções alusivas ao centenário do Rancho Regional das Lavadeiras de Carreço, Manuel Sampaio, membro da direção, começou por referir-se à origem do rancho que começou com o bisavô Carlos Peixoto Freitas Sampaio e com o padre Domingos Afonso do Paçô, então pároco da freguesia de Carreço, os quais decidiram registar o Rancho. O início das atividades decorreram com as tradicionais desfolhadas e malhadas, os trabalhos agrícolas que eram realizados nas eiras com grande azáfama. Juntaram-se, depois, os instrumentos musicais de corda, violas e cavaquinhos e mais tarde apareceu a concertina. Referiu ainda que esta data é uma marca única. Não é todos os dias que se fazem 100 anos. 

A diretora da Ronda Típica de Carreço, Fernanda Arieira, recordou que a instituição a que preside foi fundada no dia 29 de dezembro de 1998, há 25 anos. Tudo começou com um grupo de amigos, no auge da juventude, o qual se reunia aos fins  de semana num coberto, para a realização de encontros de folclore. Constou-se, logo, na freguesia que iam fazer um rancho novo, situação que provocou um alvoroço total no meio. Foi essa mesma situação a causa e a motivação que lhes deu força para formarem o rancho. Neste quarto de século de vida do grupo, já atuaram em diversos locais no país, inclusive na Madeira e no estrangeiro, Espanha, Andorra e França. Tencionam muitas mais internacionalizações para continuar a divulgar o nosso folclore além-fronteiras. Disse que foi com muito trabalho, e muitas dores de cabeça que foram ultrapassados estes 25 anos, mas conseguiram construir uma sede com as ajudas da autarquia e de pessoas da freguesia, agora que está pronta já estão mais disponíveis.

O representante da Associação dos Grupos Folclóricos do Alto Minho, Alberto Rego, teve o ensejo de recordar que foram as Lavradeiras de Carreço que apadrinharam a estreia do Grupo Etnográfico de Areosa, na Sociedade de Areosa. Disse com muita satisfação “obrigado por serem nossos padrinhos”. Referiu que está muito preocupado com o comportamento das novas gerações porque é muito diferente do da sua geração e das que se seguiram. Lembrou que vai ser preciso repensar todo este movimento, porque temos tradições das melhores que há no mundo. Disse que Viana do Castelo é rica em trajes, danças, músicas, e cantigas para ombrear com as melhores que há no mundo.

O presidente da Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço, Manuel Moreira, fez questão de realçar a arte de bem receber que anima a instituição a que preside. Evidenciou que para satisfazer o pedido dos intervenientes nas comemorações, a direção interrompeu a peça de teatro que estava em cena, desmontou todo o cenário da mesma, o qual vai voltar a ser montado para retomar as sessões de teatro. Isto aconteceu, frisou Manuel Moreira, porque a cooperação entre as instituições da nossa freguesia não é palavra vã e quando assim é temos de dar o melhor de nós e passar das palavras aos atos.

O presidente da Junta de Freguesia de Carreço, João Nuno Amorim de Pinho, frisou que este duplo aniversário “é um momento singular e uma festa para a freguesia”. Recordou o padre Domingos Afonso do Paço como um dos principais responsáveis pela fundação do Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço, e manifestou que é preciso dar-lhe o mérito que teve e dar mérito também a todos os que trabalham com o rancho.

O presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Luís Nobre, esteve também presente nestas comemorações do Rancho mais antigo de Portugal e frisou que o facto da freguesia de Carreço ter três grupos folclóricos, concorre para que esse empenho e essa disponibilidade sejam a causa principal da longevidade dos grupos e o concelho de Viana do Castelo não seria reconhecido a nível nacional e internacional como é. 

Luís Nobre também admitiu que o município tem o dever de dar mais apoio aos grupos folclóricos, porque estes são passiveis de mais apoio, em particular daquele que o exercício de 2022 lhe concedeu (7,2% para a cultura), pelo facto da projeção e da visibilidade que os grupos folclóricos dão à cidade de Viana do Castelo. Assumiu a mesma teoria de Alberto Rego sobre a dificuldade de captar jovens para o folclore. Referiu que não se pode inventar, mas manter a nossa identidade, encontrando para tal formas para o fazer. É este o grande desafio dos grupos folclóricos, manterem a continuidade e longevidade do folclore através do desenvolvimento de outras atividades e assim por intermédio delas atraírem os jovens para dentro deste grande mundo que é o folclore.

Desta festa ou melhor desta reunião fraterna do folclore carrecense, podemos e devemos retirar, para além dos votos de felicitações e de parabéns, duas fortes ilações. A primeira prende-se com a falta de matéria-prima jovem, coisa que parece estar a rarear, mas neste contexto cabe aos grupos folclóricos encontrarem os meios para obterem os fins, o desafio para tal foi lançado pelo nosso presidente da Câmara, resta agora meterem as mãos na massa. A segunda ilação é verificar que a fraternidade é possível e saudável entre todos nós enquanto humanos e particularmente muito mais enquanto membros da mesma comunidade, por isso mesmo dizemos com um sentimento muito forte de alegria que o Folclore da nossa terra está de parabéns, mais, Carreço está de parabéns. Bem hajam.   

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