Numa singular duna escaldante
onde nem Maquiavel nem Dante
ousariam criar alguma farsa,
ele, embrulhado na sua leviandade
deitou-se nela. Isto no tempo da idade
sem sentido, sem graça,
sob escárnio e gracejos
foi tentando impor os seus desejos.
E num peculiar método solitário
ele nunca contava a ninguém
se porventura pretendia ser alguém;
sentia-se um ser quase imaginário
refrescado pelo tempo que fugia,
embalado por ventos de utopia.
Mas a indiferença humana foi ganhando peso
e depressa a vontade esmoreceu;
tanta contrariedade aconteceu
e do mistério da vida não saiu ileso.
Há dunas onde o mar é generoso,
suaviza a vida de alguma gente
e até se torna dócil e gracioso.
Ele, na sua já fria duna, esquecido,
vai perdendo o ânimo, o sentido
do tempo em que cheio de ansiedade
procurou perto do mar a sua duna.
Tudo se dissipa… a sua vontade
convive bem triste com a realidade
e cobre-se, unicamente, de mera espuma!
Eugénio Monteverde