O nosso grande poeta lírico-satírico BOCAGE (Setúbal, 1763-1805), de vida agitada, desregrada, julgada e condenada, mais tarde arrependida, deixou, entre muitos e variados outros, estes versos sublimes, que vale a pena meditar: “Ganhe um momento o que perderam anos! Saiba morrer o que viver não soube! Crê na Eternidade!”.
Era o arrependimento final, o seu testamento religioso! A Religião pode salvar…!
Verdade, prezado Leitor, verdade! As “musas” inspiradoras dos Poetas não são apenas nem sobretudo as da Mitologia greco-romana. Os sentimentos sinceramente religiosos dos Crentes podem fazer vibrar cordas artísticas.
Foi o meu caso, ao tentar humildes ensaios de lirismo religioso como os seguintes:
Manhã feliz
Esta manhã como as demais, Senhor
levantei-me e quis vir ter Contigo
porque és meu amigo em Quem posso esperar.
Vim dizer meus anseios e preces
que Tu bem conheces
mesmo sem olhar!
Meus desgostos e minha alegria
deste novo dia, aqui trouxe e Te dou.
Se quiseres que eu viva a sofrer,
ouvirás eu dizer: ó Senhor, aqui estou!
Hesitações
Ó Senhor, quero ser vosso
mas o Mundo diz que não…!
Tento subir mas não posso,
Se me falta a Tua mão…!
Quereria ser mais forte
como pessoa que crê,
mas receio a minha sorte,
temendo, não sei porquê…!
Confiança
Bem presa à Tua, a minha mão, Senhor,
é como corda que me prende à praia!
Se a minha é fria, a Tua traz calor
à mão temente que da Tua saia!
Tanto mais seja a força que me prenda
quanto mais forte fôr o furacão!
Se anoitecer, que a Tua luz se acenda
e mais se aperte à Tua a minha mão!
Como vês, prezado Leitor, poetar pode também ser rezar…