Mea Culpa, mea maxima culpa

Carlo F. Sampaio
Carlo F. Sampaio

É um reflexo tipicamente cristão e ocidental, que nos leva a considerar ter culpa numa boa parte das desgraças do mundo. É o colonialismo, a escravatura, o domínio do “outro”, etc. Curiosamente, há mais indignação com a escravatura atlântica de há uns séculos (e que não era a única na altura) do que com as existentes nos dias de hoje, talvez mais aceitáveis por não serem praticados pelos “dominadores” tradicionais.

Seja o nome para um museu, a comemoração de uma batalha, a representação de uma peça de teatro, a rodagem de um filme… não faltam temas nem contextos para o Ocidente se autocensurar e flagelar com um “minha culpa, minha tão grande culpa”. Inocentes não há, mas se hoje o Ocidente é cultural, tecnológica e cientificamente dominante, isso é fruto do conhecimento desenvolvido, do modelo de sociedade criado e da qualidade de vida proporcionada. Existem imperfeições, certo, mas o respeito pela liberdade, pela diversidade, a condição da mulher, a aceitação do espírito crítico, a abertura a novos saberes, a separação entre Igreja e Estado e outras coisas para nós naturais, fizeram, fazem e farão a diferença.

Quando no “outro lado” há governantes falsos, desonestos, corruptos e criminosos, que condenam as suas populações à fome e à miséria, impedindo-as de viver com um mínimo de dignidade, invocam-se “diferenças culturais”. O racismo clássico incluía uma visão de superioridade dominadora: já que vocês são limitados e incapazes, mandamos nós. Esta tolerância atual presume e aceita uma natural inaptidão de bom governo dos outros. Aqueles que aí sofrem e morrem são vítimas “inevitáveis” das limitações da raça dos seus líderes. É uma fatalidade, vista com alguma superioridade natural e correspondente condescendência. Mea culpa… isto não será racismo…?

Carlos Sampaio

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