Baseado em factos reais e filmado em Viana do Castelo, já está nas salas de cinema o filme Sombra. Além de êxito de bilheteira, tem sido premiado internacionalmente e está, desde já, pré-selecionado a ser um dos candidatos portugueses aos Óscares 2022.
Bruno Gascon é o realizador e acedeu a uma conversa com A AURORA DO LIMA onde falou das filmagens e da obra que também está em exibição na capital alto-minhota.
A longa metragem “Sombra” inspira-se no caso do desaparecimento do Rui Pedro.
Considera que o cinema tem também o papel de não deixar esquecer certos casos?
A longa metragem “Sombra” não se inspira unicamente no caso do desaparecimento de Rui Pedro. É na verdade uma homenagem a todas as mães e famílias de crianças desaparecidas. Através da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas tive a oportunidade de falar com várias famílias, a Filomena Teixeira foi uma das mães com quem falei. Acho que o cinema e a arte no geral podem ter uma missão social. O filme é obviamente uma obra de ficção ainda que inspirada em factos reais, mas ainda assim a ideia é que as pessoas que o vejam possam pensar sobre este tema, não só para não esquecerem os casos, mas como forma de prevenção para o futuro.
Qual a motivação para abordar este assunto?
A ideia deste filme surgiu-me quando fiz a pesquisa para o meu primeiro filme “Carga”. Depois de ter contado a história dos que iam decidi que queria contar a história de quem ficava à espera e à procura destas pessoas que desapareciam. No caso do filme foco-me nas crianças, mas a história é muito mais sobre o amor, a força e a coragem de quem luta para trazer para casa os filhos.
Por que razão escolheram Viana do Castelo para a rodagem do “Sombra”?
O filme necessitava de um local que tivesse duas componentes, cidade e natureza. Viana do Castelo é uma cidade lindíssima que além de arquitetonicamente ser muito bonita para se filmar tem também uma envolvente natural de uma beleza enorme. Tentei mostrar no filme uma Viana do Castelo diferente em que esta componente de natureza se destaca.
Que sítios ou lugares de Viana foram os escolhidos e qual a razão dessa escolha? Não teria mais lógica em Lousada, local onde ocorreu o desaparecimento?
Filmámos em vários locais em Viana do Castelo, desde logo no centro da cidade, em Nogueira, Perre, no Outeiro, em Santa Maria Maior, Santa Marta de Portuzelo. A escolha era sempre guiada pelas necessidades da história, não posso especificar os locais porque não quero revelar demasiado sobre o filme, mas acredito que vão gostar de como a cidade surge no filme.
Quanto à sua segunda questão, conforme referi o filme não se foca no caso Rui Pedro, é uma obra de ficção inspirada em factos reais, mas não num único caso real, logo não faria sentido. Vou mais longe ainda, para a estética que queria este filme só faria sentido ter sido filmado em Viana do Castelo.
Considera que Viana tem potencial para ser cenário de outros projetos?
Sem dúvida. Além disso a Viana Film Comission é extremamente organizada, prestável e é possível em Viana filmar-se com condições incríveis. A cidade pode ser cenário de todo o tipo de filmes e de séries dado que tem um potencial imenso. As pessoas recebem muito bem as rodagens e são muito prestáveis, vão encontrar muitas caras conhecidas de Viana do Castelo entre a figuração.
O filme estreou recentemente. Como tem sido a reação das pessoas?
A reação tem sido muito boa. O filme estreou no dia 14 em 46 salas de cinemas, uma delas fica aqui em Viana do Castelo. Temos tido muita gente comovida a dizer-nos que gosta imenso do filme e isso é muito gratificante. Espero sinceramente que todos os habitantes de Viana do Castelo possam ver o filme Sombra dado que o filme também é deles.
Que prémios já conquistou com o “Sombra”?
O filme tem vindo a ser reconhecido em todo o mundo, tendo sido selecionado para o Raindance Film Festival, onde eu estou nomeado ao Prémio de Melhor Realizador e Ana Moreira nomeada para Melhor Performance.
Estreamos a nível mundial no Festival de Cinema de Barcelona – Sant Jordi, onde o filme foi distinguido com o prémio de melhor obra e o galardão ‘Filme- História’. Integrou ainda a secção “Spectrum: Alternatives”, da 24.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Xangai; apresentou-se no Festival de Cinema Ischia em Itália tendo sido selecionado também para a secção Panorama do Mastercard Off Camera na Polónia e para o festival de cinema francês Les Reflets du Cinéma Ibérique et Latino-Américain e temos ainda mais festivais para anunciar brevemente. É um filme que tem tido uma grande aceitação, o que nos deixa muito felizes.
Já tem algum projeto agendado? Se sim, qual?
Filmei no início deste ano o meu terceiro filme “Evadidos” em Barcelos. Estamos agora a finalizá-lo e para o próximo ano já tenho um novo projeto sob o qual ainda não posso revelar nada.
O cinema português, em termos gerais, precisa de apoios públicos e privados para se fazer. Como foi com “A Sombra”?
Nunca é fácil. Felizmente a Sombra teve a sorte de encontrar muitos parceiros que apoiaram o filme, muitos deles são precisamente aqui de Viana do Castelo. Mais do que de apoios o cinema português neste momento precisa de pessoas, precisa de público e precisa que as pessoas lhe possam dar uma oportunidade. Se as pessoas começarem a ir ao cinema e a consumir filmes portugueses acredito que o aumento de apoios públicos e privados possa ser uma consequência.
Por isso neste momento gostava de deixar o convite a todas as pessoas que lerem esta entrevista a irem ao cinema ver o filme “Sombra”, acredito que terão uma boa surpresa.
Qual o nível da literacia cinematográfica no nosso pais?
Acho que está a melhorar, já existem muitas escolas e professores que tentam educar as crianças e jovens para terem uma cultura cinematográfica. Acho que podemos fazer mais ainda no sentido de criar hábitos de consumo de cinema nacional. Podemos sempre melhorar e espero que esse nível de literacia aumente com o passar dos anos.