Pedro Caramez, formador nas áreas de networking e consultor em marketing digital, “é o maior guru de LinkedIn em Portugal”. Nascido há 47 anos na cidade Invicta, vive há cerca de duas décadas em Viana do Castelo, localidade onde encontrou a sua “cara metade”, foi pai três vezes e, profissionalmente, consagrou-se, a nível mundial, naquela que “é a plataforma profissional mais importante do mundo”.
Com formação de base em Educação Física, Caramez acabou por fazer uma aposta noutra área. Já com obras publicadas, em português e inglês, leciona em várias universidades, mas continua a viver em Viana do Castelo, a partir da qual desenvolve ações de formação online, designadamente para grandes marcas multinacionais.
Caramez fala-nos na primeira pessoa num intervalo das aulas online que ministra para vários continentes.
“Profissionalmente, tenho uma formação de base na área do desporto pela Universidade do Porto. Tive duas fases da minha carreira profissional ligadas ao desporto e à educação física, também a uma cooperativa de ensino de V. P. Âncora, do qual guardo extraordinárias recordações, mas acabei por, ao longo dessa jornada, encontrar outros campos que não os desportivos, dos quais fui mantendo interesse.”
E pormenoriza:
“Desde tenra idade, fui um grande amante das tecnologias. Tive, como muitos, as experiências dos primeiros computadores Spectrum. Quando em 2006/2007, este vento das redes sociais e do digital começou a ganhar maior expressividade, entrei, como qualquer outro, movido pela curiosidade que tinha de encontrar nestas plataformas um acesso incrível a tantos mundos.
Continuei e continuo a lecionar em várias escolas, incluindo ensino superior, mas, na altura em que este click surge, estava, dos pés à cabeça, como um homem do desporto. Dei aulas de educação física, mas sempre tive ali um conjunto de motivações ligadas à área da gestão e do marketing do desporto. Estive também ligado a alguns projetos do Instituto de Desporto, formador no primeiro programa nacional de formação de dirigentes desportivos (2004) e, entretanto, surgiu este contexto. Estava como professor no ISMAI (agora Universidade da Maia) e, a motivação inicial, era um bocadinho de mostrar ao alunos que havia, no digital, um conjunto de plataformas e de meios que lhes permitiam encontrar oportunidades.
O ambiente digital fascinava-me. Comecei num contexto de carolice, em 2006/2007, ganho um crescente entusiasmo e interesse, obviamente associado ao facto de ser professor. Veio, então, a questão: Será que podia ensinar aos outros estas aprendizagens que fiz?”
Daí surgiram as sessões com o Linkedln.
“Na altura, esta era uma plataforma que estava muito focada, e manteve-se, na questão profissional, do emprego e da empregabilidade. O objetivo, na altura, era mostrar como aquela ferramenta poderia auxiliar os meus alunos num processo de integração no mercado de trabalho. A motivação inicial foi essa. Depois, todo um conjunto de felizes coincidências funcionaram como “bola de neve”. Estava numa aula do ISMAI a mostrar as maravilhas do LinkedIn e um colega, que estava a assistir, sugeriu explicar isso num seminário que se ia realizar na semana seguinte”.
Neste, estava uma senhora ligada à Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) que observou que a matéria a interessou. Convidou-me para fazer uma sessão na ANJE. Que os empresários, se calhar, iam ficar muito agradecidos e eu pensasse já num modelo formativo para explicar isso.
Ainda disse que não tinha nada a ver com isso. Mas ela lembrou-me que ninguém sabia. Que era tudo novo. Seguiram-se as sessões que se repetiram numa séries de vezes. Em 2009 , veio a vontade de sistematizar em livro. Saio com o primeiro sobre LinkedIn. Na altura, uma edição de autor. O processo foi-se fazendo. As escolas pediam para dar palestras. Como estava ligado ao contexto do ensino superior, contacto puxa contacto. Lembro-me de, em 2009, que a primeira escola onde estive, com o livro, foi no ESEIG de Vila do Conde, a 04 de novembro. A ‘viagem’ começava. A partir dali, a imagem que as pessoas tinham de mim, o professor universitário ligado às áreas do desporto, começa, de certa forma, a mudar e a ser a da pessoa que fala mais sobre a rede”.
O Linkedln permite caçar e ser caçado?
“Há empresas que querem que as ajudem a saber qual a melhor estratégia para caçar candidatos. Em 2022, estamos num contexto em que apostavam mais em estratégias mistas de anunciar a vaga para atrair candidatos, mas municiavam a equipa de recrutadores para os procurar ativamente.”
Até porque a perspetiva, vista hoje no mercado, é que se coloque uma vaga de emprego num portal de emprego que atrai cerca de 20% da comunidade de pessoas eventualmente elegíveis para a mesma. E os outros 80%? É exatamente no LinkedIn que as empresas sabem que, através destas estratégias, conseguem ir buscar o candidato que procuram.”
Quais são as atividades profissionais mais representativas?
“O LinkedIn tem 830 milhões de utilizadores em todo o mundo, 2.4 milhões são portugueses. Tem 60 milhões de empresas registadas, tendo 140 mil a atuar em Portugal.As vagas são na ordem dos 15-16 milhões em todo o mundo, em Portugal andará na ordem das 1 000 a 2 500 por dia.
Dentro destes contextos, os setores de atuação são os mais variados. Atualmente, o Linkedln identifica cerca de 600 setores de atividade. Os principais são os das tecnologias da informação e serviços (setor dominante), bem como os do imobiliário, da banca, marketing, recursos humanos… na atualidade, praticamente todas as áreas podem, de alguma forma, estar lá.”
Tem clientes no país e estrangeiro?
“A semana passada fiz uma sessão para uma empresa, a Ascendum. Estiveram pessoas na sala virtual da Turquia, dos Estados Unidos, Espanha, Áustria, Alemanha, gente de todo o mundo…”
Como é que as empresas chegam a si?
“No caso de uma empresa multinacional, o evento foi disponibilizado a pessoas que estavam nos vários contextos. Mas elas chegam da mesma forma que outras. A ‘porta’ é a mesma e está visível 24 horas/dia para todos. O utilizador, para além de ser caçado e caçar, pode, de alguma maneira, também querer utilizar a rede para se destacar na sua área. Há utilizadores, como no comércio, nomeadamente, que estão mais no domínio de negócio para negócio, empresas que querem dialogar com outras empresas, nacional ou internacionalmente, outros que procuram investidores para os seus próprios negócios, fornecedores também.”
“Chego de manhã, normalmente tenho já preparados, com a equipa, os conteúdos que pretendo colocar na plataforma. Lembro que é essa a maneira como eu, neste momento, comunico a minha atividade. Se hoje aparece uma nova funcionalidade, vou partilhar a opção. Nos conteúdos, os diretos têm três tipos de formato: conteúdo escrito, visual e audio. Qualquer conteúdo que publique, diariamente, tem sempre visualizações, no mínimo, de quatro dígitos. Também tenho algumas de 50 mil a 200 mil!”
Posso dizer que, de manhã, acordo a tomar o pequeno-almoço com alguém da Austrália, vou trocar impressões com alguém que esteja em França; à tarde (por causa do diferencial horário) vou falar com um americano e termino com alguém noutro lado do mundo.
Já a língua mais utilizada é o inglês. Todavia, no meu caso particular, tem sido o português. Tenho uma forte comunidade brasileira – no Brasil há 56 milhões no LinkedIn.”
Como é, então, o seu dia a dia?
Qual o segredo para a melhor forma de estar no LinkedIn?
“O que de alguma forma nos obriga hoje é, ao criarmos uma presença, saber as motivações para lá estar. Se não, era a mesma coisa que o jornal tivesse lá um registo e nada mais acontecesse. Não tinha alimento.”
Um dos segredos é o do profissional se consciencializar dos motivos e propósitos que o levam a estar na rede. A presença é marcada pelo seu próprio perfil no LinkedIn, uma espécie de um novo curriculum (CV). Está 24 horas disponível e, se “googlar” o nome, encontra a referência. Outro é perceber que a rede tem também outras pessoas que terá de ligar e conectar. A rede de contactos, que cada um desenvolve, vai ditar muito. Depois perceber que há muitas formas de participar na rede.”
Prefere as sessões online ou estar presencialmente?
“Fazer o online é estar aqui. Se tivesse feito presencialmente a sessão que fiz hoje para a Geas estava em Lisboa. Não tinha tempo de falar com vocês! Comecei no Seixal, (09.00h), estive depois com uma profissional que estava no Porto e uma empresa de Aveiro. A produtividade explode! Fui almoçar. Às 14h00 estive com um cliente do Porto, mal acabei este, entrei logo com a malta de Lisboa. Estou agora com vocês e às 18h30 já estou, com outro pessoal, em Lisboa.”
Há uma ideia feita que os jovens têm mais aptidão para as redes e o online?
“Não sou dessa opinião. Claro que já nasceram nessa fase. E não têm receio. Eu pessoalmente não vejo essa questão da idade como um elemento de diferenciação. “
Temos informação de que faz uma avaliação do LinkedIn de três em três meses. Quais os números de Viana?
“Neste momento, em Viana do Castelo existem 3 347 vagas no LinkedlIn. Na rede estão inscritas 911 empresas vianenses e cerca de 15 mil utilizadores.”