Decorridos 51 anos após a edição inaugural, o Festival de Vilar de Mouros regressou da melhor maneira. As noites dos últimos três dias na mítica aldeia de Caminha foram vividas de forma intensa por jovens e seniores, pais e filhos, num evento em que a “patine” também significou qualidade e vigor. Este ano, por ele passaram perto de 55 mil pessoas, segundo a organização, com o último dia a atingir as 22 mil e os muitos parques de estacionamento, criados pela organização, praticamente esgotados. O norte-americano Iggy Pop levou-nos a uma saudável loucura que nos faz ver que “I Wanna Be Your Dog” se sente melhor na companhia de mais alguém que aparece na multidão e “The Passenger” é um hino que nos arrebata e nos faz cantar em uníssono.
Foi perto de hora e meia em a mostrar que conserva a mesma voz e tem por trás uma banda simplesmente brilhante. Logo na primeira música tirou o casaco para ficar em tronco nu e a movimentar-se em contorcionismos variados. O lendário músico de 75 anos de idade, que foi vocalista dos Stooges e por muitos é tido como o “padrinho do punk”, mostrou uma energia de fazer inveja a muita gente mais nova, inclusive, entre os que assistiam ao concerto.
Anteriormente, tinha sido dado espaço aos portugueses The Legendary Tigerman (Paulo Furtado), Blind Zero e The Mirandas que aqueceram o público que ia entrando no recinto. Depois de Iggy Pop, viu-se algum do público a sair do local e a neblina a envolvê-lo. No meio deste, apareceu Peter Murphy e os Bauhaus (agora completos), repetentes em Vilar de Mouros. Era já uma e meia da manhã deste domingo e foi, porém, motivo de gáudio para muitos fãs do rock e do teatro gótico que, já na tarde de sábado, se colocaram junto dos pórticos de entrada para, depois, marcar lugar junto ao palco.
O primeiro dia (25) foi o menos concorrido (oficialmente 16 200 pessoas), mas Placebo e Suede destacaram-se pela qualidade e empenho mostrado, em prestações em que também atuaram Gary Numan (um bom registo), Battles e The Black Teddys.
Já na sexta-feira (16 700 espetadores), os famosos Simples Minds não corresponderam às expetativas, com a voz de Jim Kerr já com demasiado patine, cabendo aos Claw Finger a melhor prestação da noite. Nota, também, para a banda vianense Non Talkers (que abriram esta edição do Vilar de Mouros e o seu primeiro EP, Pendulum Of Time, recebeu Prémio Honorário na edição 2020 da Blue Rhymez Entertainment, por Melhor Banda Independente, e de Artista do Ano, no último ano), os Black Rebel Motorcycle e, a fechar a noite, os Tara Perdida, o punk rock nacional de regresso e onde foi lembrado João Ribas, o histórico vocalista que faleceu em 2014.
A edição do próximo ano do Festival de Vilar de Mouros está já marcada para 24, 25 e 26 de agosto.
Manuel Sotomaior