As palavras obrigam a quem as profere

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Ricardo Simões

As palavras obrigam a quem as profere

No passado dia 19, a Ministra da Cultura assinou um artigo de opinião intitulado “Apoiar as artes é investir na democracia”, no jornal Público. Nele, Graça Fonseca afirma que “uma visão estratégica para a cultura constitui um elemento essencial para a democracia. Agora ainda mais que antes. É decisivo para o futuro do país a concretização de uma potica pública de cultura, estruturada e duradoura.”

Pode a afirmação parecer óbvia e quase de senso comum (ou alguém não concorda que a Cultura seja importante para a democracia?) mas, no entanto, a limpidez com que a governante a assume, no momento de retoma das atividades culturais presenciais por parte de um dos setores mais afetados pelo confinamento e quando já se discute o Orçamento de Estado, é um dado relevante.

Lê-se também no artigo que “A instabilidade no apoio às artes em Portugal tem-se prolongado no tempo, sendo frequentemente acompanhada de diferentes visões entre os seus profissionais e a área governativa.E, ainda mais adiante: “O surgimento da pandemia alterou profundamente as nossas vidas e revelou, de uma maneira crua e gritante”, as dificuldades sentidas pelos artistas.” . Finalmente, afirma que Mal estaríamos se não aprendêssemos com a situação ampliada pela covid-19 e não déssemos o exemplo. O apoio do Estado às artes deve ser acompanhado da exigência de que os trabalhadores tenham garantidos os seus direitos sociais.”.

Para além destas considerações, a Ministra Graça Fonseca revela o que pretende fazer quanto ao futuro dos apoios às artes assumindo, já para 2021, ainda que genericamente, compromissos claros que correspondem a algumas das principais expetativas do setor.

Depois de muitas críticas, Graça Fonseca dá um passo em frente, ousando medidas que  colhem, elevam a fasquia e colocam o foco no Orçamento de Estado para a Cultura do próximo ano, ficando politicamente vinculada à capacidade que tiver para conseguir o que agora anuncia.

No entanto, como clama Matilde de Melo no Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, “As palavras obrigam a quem as profere!”. E já ninguém perdoará à Ministra se falhar desta vez. Honra lhe seja feita por isso.

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