Dramático e Verdadeiro

Só uma vez – e já lá vão várias dezenas de anos – visitei a cidade de Madrid. Inscrevi-me e participei numa excursão turística, organizada pelos “Irmãos Cunha” (Viana do Castelo) e na qual foi motorista um dos referidos irmãos. Partimos daqui, atravessámos a fronteira de Vilar Formoso (salvo erro), passámos pela “serra de Guadarrama, pernoitámos na capital de Espanha. Nesta, tive oportunidade para conhecer algo: – vi, pela primeira vez, “Cinerama”, o “Museu do Prado”, “Puerta d´el Sol”, “Palácio Real”, etc.
Num dos números da excursão, constava uma visita-passagem pela célebre cidade Toledo (ex-capital dos Visigodos, ex-capital de Espanha, pelo palco da carnificina mortífera da “Guerra Civil” (1936-1939)), com referencia especial ao seu celebérrimo “Alcázar”, destruído em 1936.
Em visita ao cemitério público da cidade e advertido não sei por quem, deparei-me com uma sepultura especial e epitáfio respectivo. Duas jazidas lado a lado: “General José Moscardó” e seu filhinho “Luís(?) Moscardó” – dois inesquecíveis heróis da Guerra-Civil. Ali, foram-me então fornecidas informações, orais ou escritas, acerca do episódio dos dois “Moscardo”. Eis o seu resumo: na citada “guerra –civil (1936-1939), em que morreram perto de um milhão de pessoas das duas facções (além dos fugitivos para Portugal (conheci e convivi com alguns), os dois beligerantes eram Nacionalistas e os Revolucionários (“roxos”))”.
Ora, na cidade de Toledo, havia uma célebre “Alcázar” (palácio real já dos Mouros) e o Governador era, então, o citado General Moscardó (Nacionalista) cuja família vivia numa casa da mesma cidade de Toledo. Do agregado familiar fazia parte o pequenito Luís (?) Moscardó, filho do Governador.
Nas lutas fratricidas da “guerra-civil” aconteceu que, um dia, os “Revolucionários” apossaram-se da casa-família do General Moscardó, prenderam o pequeno Moscardó, obrigaram-no a telefonar ao pai dizendo: “pai: estou preso e ameaçam matar-me, se o pai não se render nem abandonar a Alcázar”. Dilema terrível! – não te parece, prezado Leitor!? Que faríamos nós (eu e tu), em semelhante apuro….!? Pois bem: escuta a resposta – conselho do General, certamente com coração destroçado: – “Meu filho : reza o Acto de Contrição, ajoelha, dá um grito bem alto “Viva a Espanha” e deixa-te matar”.
O pequeno Moscardó, talvez tremendo e chorando, cumpriu à risca o conselho paterno! Mal terminada a última palavra “Espanha”, soou o trio-criminoso do fuzilamento infantil, talvez ainda escutado pelo pai Moscardó…! Dois heróis ao serviço da Mãe-Pátria!!!
Não sei o resto do heroísmo. Mas sei que os “nacionalistas” triunfaram finalmente…! E, para perpetuação daquele heroísmo arrebatador, lá ficaram, lado a lado, aquelas gloriosas jazidas dos dois “Moscardó” que eu nunca mais pude esquecer e me serviu de tema-base desta minha sentida crónica…!

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