“O meu telefone estava em todos os cafés e mercearias”

O engenheiro Mário Guimarães é um vianense ilustre que desempenhou cargos de topo na EDP – Eletricidade de Portugal, nomeadamente o de Adjunto do Conselho de Administração em 2017 e 2018. Participou ativamente no processo de eletrificação do país, designadamente em todo o Alto Minho. Recentemente aposentado, tivemos o privilégio de, com ele, conversar durante um almoço numa das unidades de restauração mais emblemáticas da sua e nossa cidade, o Restaurante VIANAMAR.

Como nos recorda, em 1974 ocorreu a nacionalização de setores básicos da economia, como a energia, sendo que todas as entidades privadas o foram por decreto. Relativamente às empresas públicas, sentiu-se maior resistência na transferência por haver diminuição de poder e influência política.

Passados dois anos, ainda havia 178 operadores por integrar. A EDP assume interesse em fazer todas as integrações no distrito de Viana. “Cinco concelhos, por força da nacionalização, já eram da EDP; dos restantes cinco, em quatro o processo terá corrido bem e no último nem tanto. É uma história interessante que um dia há-de ser contada…”, observa.

Como acontece a tua admissão na EDP?
Olha… foi em 1978, através de um anúncio n’ A AURORA DO LIMA para engenheiro na ex-Hidroelétrica do Coura. Nas 284 freguesias do distrito de Viana, em apenas 60% havia energia elétrica. Acompanhei todo esse processo de a levar às populações. Isso levou a que ficasse conhecido como o “engenheiro da luz”. Imagina o que foi chegar a uma freguesia e inaugurar a energia elétrica! Por exemplo, em 1978, no concelho de Ponte de Lima, em 51 freguesias, apenas em 16 havia energia eléctrica

Qual era, então, o desafio?
A eletrificação em superfície, levando a energia a todas as freguesias. Na eletrificação em profundidade, recordo a criação da autoestrada de energia no distrito – fecho anual de rede de Alta Tensão. Assim, a rede de distribuição de energia elétrica regista uma melhoria que nos permite afirmar que temos, no distrito, uma qualidade de serviço ao nível do que melhor se pratica na Europa. Sinto ter contribuído para isso.

Eras conhecido como o Engenheiro da Luz?
Sim. Tudo isto levou a que nas aldeias fosse conhecido como “Engenheiro da Luz” e o telefone de minha casa estava escrito em tudo que fosse parede de cafés e mercearias da região. Permitiu-me ter um relacionamento com diferentes entidades e parceiros – Stakeholders – a par dos nossos milhões de cliente e largas dezenas de presidentes de Câmara com quem trabalhei e que ainda hoje tenho relações de forte amizade, independentemente de cor política.

Foi uma Nova Era da Energia?
Participei nessa Nova Era. Estamos num mundo novo! Estive em projetos inovadores, como “Redes Inteligentes” = Smartgrids e “Cidades Inteligentes”= Smartcities.Participei, também, no projeto que corresponde ao 1.º concelho totalmente equipado com tecnologia LED em Portugal, o de Lousada (distrito do Porto), a 08 de março de 2017.

E relativamente ao futuro?
Quando olho para trás, noto que a minha vida dificilmente poderia ter sido melhor… Tive o privilégio de fazer coisas diferentes, com funções e desafios diferentes, mas sempre fazendo o que gosto.Realmente, às vezes, coloco-me perante a questão: E daqui para frente? Na EDP senti-me sempre bastante motivado e a gostar do que fiz. Na vida política fui vereador na Câmara Municipal de Viana (como Independente) durante oito anos (2005/2013). Na comunidade social, fui presidente e membro de Direção de várias instituições e sou atualmente membro da Direção do Centro Comunitário de Darque, terra onde nasci, cresci e sempre vivi.

Também estiveste ligado ao desporto…
Estive ligado a várias associações desportivas e sou atualmente presidente da Mesa da Assembleia Geral da Juventude de Viana. O que posso dizer, quanto ao futuro, é que quero continuar a traçar o meu futuro com a mesma coerência, na certeza de procurar fazer sempre aquilo que gosto.

Trabalhaste com muita gente ligada à vida politica?
A minha atividade e os lugares que ocupei, na EDP, tiveram também a ver com política. Relacionei-me com mais de 70 stakeholders, trabalhei com largas dezenas de presidentes da Câmara, comunidades intermunicipais e agências de energia. Nunca direi nunca…

Que pensas sobre a regionalização?
Considero-me um Regionalista por convicção. Votei favoravelmente no único referendo que tivemos. Por vezes, perdemo-nos em “piqueniques” e a malta de Lisboa, que é contra qualquer tipo de descentralização, bate palmas de satisfação enquanto assim for: temos um problema de liderança no Norte… Temos as cinco regiões (comissões de coordenação Norte,Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e a do Algarve).Trabalhei numa empresa que tem seis regiões.. temos as CIM’s… e, por isso, a solução é olhar para o mapa e ver a melhor forma… mas é preciso fazer alguma coisa nesse sentido. Não tenho dúvidas! Todos falam em dinamizar a economia local. É um bonito chavão político. Mas o problema tem sido o passar à prática. Para isso é preciso, diria mesmo obrigatório, encontrar a melhor forma de contribuir para que a regionalização aconteça. Eu procurei e procuro sempre fazer a minha parte!.
E… agora prometo ser eu, num próximo almoço, a entrevistar-te!

CURRICULUM

– Mestrado Engenharia Humana
– Pós-Graduação Gestão Empresarial
– Licenciatura Engenharia e Gestão Industrial
– Bacharelato Engenharia Eletrotécnica

Atividade Profissional
1972 – Estágio profissional de seis meses nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo;
1972/1978 – Professor Escola Técnica de Viana do Castelo, Profissional Engenharia ENVC;
1978 – Anúncio publicado no Jornal A Aurora do Lima – Concurso EDP/Engenheiro Ex. EHEC;
SET.1978/2018 – EDP: – Adjunto responsável Serviços de Exploração;
1989/1994 – Diretor distrito Bragança;
1991/1998 – Diretor Centro Distribuição Vale do Ave;
1994/1998 – Diretor Centro Distribuição distrito Viana do Castelo;
1998/2007 – Diretor Região Minho;
2007/2017 – Diretor Região Norte;
2017/2018 – Adjunto Conselho de Administração;

Rui Barbosa

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