“O nosso trabalho é de fim ou princípio de linha”

Todos os dias circulam pelas estradas do distrito a prestar apoio social na área das adições. Assim é há 16 apenas com pequenos interregnos motivados pela falta de financiamento. A Equipa de Rua Adições, do Gabinete de Apoio à Família (GAF), é composta por seis técnicos, apenas três em permanência, e abrange os 10 concelhos do distrito de Viana.

A sexta-feira é o dia reservado para Viana. O “A Aurora do Lima” apanhou boleia na carrinha e acompanhou a manhã da coordenadora da equipa, Cláudia Marinho, e da Educadora Social, Mara Silva.

A primeira paragem, embora não o tenhamos feito, porque a nossa presença não poderia ser bem recebida, é nas “trabalhadoras sexuais” de rua, que se localizam na reta de V. N. Anha. No dia da nossa reportagem apenas as visitamos “de passagem”. À tarde, as duas técnicas voltariam lá para sensibilizar para o uso do preservativo e das doenças sexualmente transmissíveis. Muitas vezes, fazem também testes rápidos de deteção do HIV e da Hepatite. Cláudia Marinho explica que “fruto do trabalho das equipas de rua, as mulheres já têm consciência para o uso do preservativo, com os clientes é que não é fácil, mas estamos a tentar chegar a eles. Já elaboramos flyers que as próprias entregam aos clientes dando conta da importância do uso do preservativo”.

Para além destas trabalhadoras de rua, a equipa observa as páginas dos classificados dos jornais e contactam “as de casas” para fazerem trabalho de divulgação. Apesar de garantirem ser um trabalho “de formiga”, ou seja, demorado, conseguem ter resultados “positivos”.

Diagnóstico do território
A Equipa de Rua Adições é financiada pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos aditivos e nas Dependências (SICAD). O projeto tem por base a filosofia da redução de riscos, minimização de danos e visa a promoção da saúde e da cidadania junto dos utilizadores de substâncias psicoativas e indivíduos com comportamentos sexuais de risco.

Cláudia Marinho explica que antes da apresentação da candidatura a fundos comunitários é feito um diagnóstico do território e detetadas as dificuldades. O financiamento é atribuído por um período de 24 meses, com possibilidade de renovação por igual período.

Em Viana do Castelo os casos mais frequentes das adições prendem-se com o álcool e substâncias ilícitas, nomeadamente cannabis, heroína, cocaína e ecstasy. Esta última incide na população mais jovem.

Lima e Minho
De Melgaço a Viana, a equipa divide-se em duas linhas: a do Minho e a do Lima. Todos os dias da semana, os técnicos percorrem os 10 concelhos. Mara Silva diz que “é um território muito extenso. E reparamos que há muita desigualdade. Por exemplo um utente de Melgaço, que tenha de vir ao CRI (Centro de Respostas Integradas), localizado em Viana, terá de vir no dia anterior. Assim como, de Paredes de Coura”. A educadora social acentua que “somos nós que fazemos esta ligação dos utentes às instituições, e muitas vezes fazemos também os transportes, porque não tem outra alternativa”.

A coordenadora da equipa manifesta que “o nosso trabalho é de fim de linha. Trabalhamos com pessoas que ninguém quer trabalhar”. Cláudia Marinho garante que respeitam “sempre a vontade do utente” e que “trabalhamos o utente no seu bruto e quando está minimamente compensado é integrado noutros serviços”.

A equipa acompanha um doente que desde 1975 não ia a nenhum serviço público e nem possuía cartão de cidadão. “Demoramos quase dois anos para ultrapassar esta situação, porque o utente era muito reticente, e agora é completamente autónomo. Isto para nós é o sucesso”, esclarecem Cláudia e Mara.

Outras respostas são necessárias
Os sem-abrigo identificados no Alto Minho são cinco em Viana, um em Ponte de Lima e outro em Valença.

Mara Silva considera que “já se melhorou muito em termos de respostas, mas ainda há poucas para pessoas excluídas, como os sem-abrigo”. Um albergue ou centro de noite para pernoitar e fazer a higiene seria “a solução” para muitas das pessoas que dormem nas ruas.

As técnicas afirmam que “muitas vezes vamos para casa a pensar nas pessoas que dormem nas ruas”. Contudo, os sucessos por mais pequenos que sejam dão força para continuar. Cláudia Marinho trabalha na área social há 24 anos e esclarece que “houve momentos em que me apeteceu deitar tudo ao chão, mas foram poucos”. Mara Silva acrescenta: “nós trabalhamos segundo a filosofia de redução de riscos, assim se um utente reduzir os consumos para nós já é importante. Se vai ao médico, quando não ia, é um sucesso…”

As visitas não são maioritariamente programadas, por isso chegadas a Freixieiro de Soutelo não encontramos a família que acompanham. No entanto, os telemóveis são uma ajuda e telefonam. Do outro lado, o Manuel (nome fictício) faz o relato do que foi acontecendo. Seguiu-se a passagem por Dem, já no concelho de Caminha, para verificar se a autarquia já tinha iniciado as obras numa habitação.

Os casos chegam através dos presidentes das juntas, centros sociais e até familiares. Um caso em Deão foi alertado por um familiar, que pediu ajuda para a mãe, e perceberam que a outra filha também necessitava de ajuda.

Limitações
Os poucos elementos na equipa levam a que não consiga fazer outras ações. Cláudia Marinho lembra os períodos mais críticos de consumo e alerta para a mudança de paradigma. “Com as festas das aldeias e a vinda dos emigrantes, as situações dos consumos de álcool são mais agravadas”, explica. Adiantando que “gostávamos de fazer mais ações de sensibilização, porque sabemos que muitos pagamentos nas aldeias ainda se fazem com vinho”.

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