Decorreu no último fim de semana de julho, como é habitual no seu novo ciclo, a Festa em honra de S. Miguel, S. José e Nossa Senhora das Dores. Sendo os santos que Perre venera no decurso destes festejos, o mesmo não acontece com o tema dos nossos usos e costumes habitualmente associado à Festa.
As Janeiras de Perre foram distinguidas neste ano como elemento profano associado, e serviram de base a toda a atividade específica, a exemplo da Exposição no Salão Paroquial, do cortejo de domingo e do próprio desempenho de encerramento dos festejos. De permeio e com toda a oportunidade, distinguiram-se as obras, as festas e as coletividades que colaboraram nas Janeiras durante os últimos 80 anos. E muito especialmente, evocou-se a construção da igreja paroquial de Perre, nos anos idos de 1940/50.
Podemos dizer convictamente que tudo decorreu da melhor forma, tornando visível o esforço despendido por uma Comissão altamente empenhada, digna da gratidão de toda a freguesia de Perre. E o mesmo poderemos dizer de todos os colaboradores, desde as coletividades locais, elementos participantes e organizadores das procissões e cortejos, construtores dos cestos floridos, responsáveis e obreiros da exposição, colaboradores anónimos, enfim, um número assinalável de pessoas que entusiasticamente contribuíram para o brilho da Festa.
A Festa de Perre é um acontecimento caracterizado pela sua simplicidade e intimidade quase familiar, mas de portas abertas para quem nos quer visitar. Resume-se ao espaço envolvente da igreja paroquial e é proporcional à dimensão da freguesia, albergando encontros, confraternização entre os presentes, diversão para as mais diversificadas tendências, e uma mescla de alegria e saudade, envolvendo os sentidos.
Perre não precisa de mais para continuar a ser Perre e só necessita de gente trabalhadora que saiba manter os festejos com o cunho atual e com as inovações que o desenrolar do tempo mais aconselhar.
Como habitualmente, as celebrações religiosas decorreram segundo o seu próprio calendário, num entrosamento cuidado e cumprido respeitosamente.
Sendo certo que quem deu de si o melhor esforço para o êxito da festa não exige, como nunca exigiu, o público agradecimento, também é certo que Perre se orgulha da gente que a serve e a eleva hoje, como já elevou no passado.
MANUEL PARENTE
No dia 27 de julho, com 87 anos de idade, faleceu o Sr. Manuel Parente da Rocha Júnior, morador no Caminho do Freixo, no lugar do mesmo nome. E foi com enorme consternação que Perre o viu partir, pois era conhecido como uma pessoa de grande sensibilidade e humildade, para além de se ter constituído como um profissional de mérito no desempenho que escolheu para toda a sua vida, talvez influenciado pela arte e pelo saber de seu pai, Manuel Parente da Rocha (Mestre “Sarilho”, como era conhecido em toda a freguesia de Perre).
Ambos trabalharam na construção da igreja nova, de arquitetura única no país, que ainda hoje necessita de alguma explicação para a forma como foi construída.
O Sr. Manuel Parente construiu e ajudou a construir muitas coisas simples em Perre, trabalho de pedreiros e canteiros que o tempo fará admirar sem que sejam conhecidos os seus autores. Mas levou a cabo outras tarefas que farão perdurar na memória de todos o valor da sua arte e do seu desempenho, a exemplo da pia batismal e das duas pias laterais da igreja, que construiu por ordem de seu pai quando tinha 16 anos de idade.
Foi artífice principal na construção das peças que formaram o púlpito em pedra e construiu o altar mor em duas fases distintas. Na primeira fase construiu o altar que permitia a celebração de costas para os crentes e na segunda, já no tempo do P. Alberto Martins, construiu o segundo altar, que alterou a forma de celebrar.
Esculpiu as floreiras que se encontram por trás do altar mor e participou nos inúmeros trabalhos de cantaria lá desenvolvidos. Depois, em Viana, elaborou as caravelas do Palácio da Justiça e o emblema da Quinta dos Padres.
Em Outeiro desenhou o seu padroeiro, S. Martinho, sobre a porta da igreja.
Em Durrães esculpiu Cristo num grande Cruzeiro, por solicitação do encarregado do templo de Sta. Luzia.
Na cidade da Guarda executou o emblema da PSP.
Em Alvarães construiu duas peças para o arco cruzeiro “de uma grande Capela lá existente”, executou o seu altar mor e nele esculpiu o Cálice com a Hóstia, o Missal, o cacho de uvas e a espiga de milho. E, juntamente com seu pai, construiu “dezenas, senão centenas”, de placas utilizadas para a definição da toponímia das ruas de Viana do Castelo e de Guimarães.
No cemitério de Perre evocou a memória do pai com um busto na sua campa. E não se lembrava de muitos outros trabalhos que se foram desvanecendo na memória…
Paradoxalmente, partiu durante a celebração da Festa de Perre em honra dos nossos santos, precisamente na altura em que, na sua Exposição, se recordava a construção da igreja nova, fazendo-se ouvir o seu testemunho oral em audição pouco antes levada a cabo. Mas, como muito bem disse o pároco de Perre, durante a celebração eucarística que anunciou o início de uma nova viagem, o Sr. Manuel Parente assinalou, principalmente, a sua vida entre nós com uma extrema gentileza e uma enorme humildade, naquele jeito característico que lhe conhecíamos, de nunca querer importunar ninguém.
Falecimentos
No dia 23 de julho, com 93 anos de idade, faleceu a Sra. Eva Pires de Araújo, natural de Perre e residente no Caminho da Carteira, desta freguesia.
No dia 24 de julho, com 98 anos de idade, faleceu a Sra. Rosa Cândida Martins Parente Viana, natural de Perre e residente no Caminho da Estrada Velha, lugar da Madorra.
Ambas foram a sepultar no Cemitério da freguesia de Perre.
Às famílias enlutadas, o “A Aurora do Lima” apresenta sentidas condolências.