Licenciatura vitalícia

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Manuel Quintas

O casamento é uma licenciatura vitalícia — VITALÍCIA — vivida na presença de uma pessoa concreta que, fatalmente, nunca chegará a ser uma pessoa ideal. A pessoa concreta — a tal que existe mas que nunca será ideal — é aquela que, na primeira hora, príncipe de encanto ou moura sonhada, na sequência do tempo, inevitavelmente, revelarão aquele outro lado do seu ser humano que pode ser débil, estranho, difícil, contraditório ou, até, inconsequente. E, sendo inevitavelmente assim, dei comigo a pensar que aquele cônjuge que, continuamente, se esforça por bem se adaptar à pessoa com quem se uniu é, sem sombra de dúvida, tão sábio como santo.

E, já que cheguei aqui, sabe-me bem dizer com toda a clareza que o casamento católico não impõe obrigações, preceitos, deveres, pesos, chatices ou fardos acima das forças de cada um e fora da natureza humana; o que ele faz é suavizar as arestas da vida com a força da fé cristã. O casamento católico dá a um consorte livre um cônjuge — que também é livre — para que os dois, livremente, se complementem. Isto quer dizer que os casados, ambos livres por essência, continuarão livres dentro do matrimónio. Então, e porque é mesmo assim, e não doutro modo, aqui vai um conselho: leva contigo a certeza de que Deus te dará, ou deu, um marido, mas não um marido perfeito; Deus porá ou pôs no teu caminho uma esposa, mas não uma esposa perfeita. E não sendo nenhum perfeito, cabe a cada um aperfeiçoar o outro com sorriso no coração e  terço na devoção. E, quando vier a dor — e vai vir — o tamanho da DOR é o tamanho do AMOR.

Há casais que roncam, vegetam, suportam-se, gramam-se, sofrem-­se, amassam-se, amarguram-se, trilham-se e até se matam. Porquê? Porque, usando mal a dita liberdade, recusam aprender a conjugar os verbos CRER, SOFRER e AMAR. E, recusando aprender, claro que não aprendem a lição; e, se não aprendem a lição, não sabem crer, não sabem sofrer e muito menos sabem amar. Teimosos desta têmpera… eu te arrenego. A estes casais eu dou um conselho que, não parecendo de padre — dirão — eu assumo as consequências: façam uma quarentena de reflexão e oração e depois tomem uma decisão. Mas por favor, não se mortifiquem mais. Nem o coração aguenta nem Deus abençoa tal situação. Deus criou-nos para amar e ser amados e não para ser massacrados, esteporados ou esfodicados. Na hora actual, este padre só sabe falar para alunos do século XXI a quem, com voz submissa, confia este segredo: Falem muito com o travesseiro da cama e também uns bocados com o Senhor Abade da terra. E depois decidam.

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